domingo, 27 de outubro de 2019

NIX


Resenha
Livro: Nix
Autor: Nathan Hill
Ano: 2018
Número de páginas: 672
Editora: Intrínseca

Livro de estreia do autor Nathan Hill, confesso que fui fisgada pela capa: uma foto em preto e branco de jovens em um protesto com o título peculiar em letras garrafais e coloridas. O enredo é simples, na superfície e gira em torno de duas pessoas: Samuel Andresen-Anderson e sua mãe, Faye.

Samuel é um escritor frustrado, que leciona em uma universidade e nas horas vagas, se perde no jogo de computador Elf Scape. Odeia dar aula, pois seus alunos são desinteressados. Samuel foi abandonado pela mãe quando tinha onze anos, fato que o marcou para sempre. Samuel continuaria sua vida tediosa, se não fosse por um fato: sua mãe desaparecida, Faye, joga pedras no governador, um candidato a presidência de extrema direita. Samuel é contatado por um advogado que defende sua mãe, que pede para ele escrever uma carta a fim de ajuda-la no julgamento.

A história se passa em três temporalidades diferentes: 1960-68, final dos anos 80 e ano de 2011(tempo atual). O livro conta com capítulos curtos, que alternam entre os personagens principais e secundários. A maestria de Hill reside no fato de conectar todos esses personagens. Podemos ver como somos algozes ou oprimidos, em certa medida, ao longo da vida. Os personagens são humanos, dotados de contradições.

Na década de 60 acompanhamos a trajetória de Faye, sua infância e adolescência, e todos os fatores que contribuíram para que ela se tornasse quem é. Eu, particularmente, tive a Faye como personagem preferida e foi uma delícia acompanhar as aventuras de uma mulher que tentava romper com o que com as expectativas do que era esperado para as mulheres da época. Na década de 80 acompanhamos a infância de Samuel pouco antes de ser abandonado pela mãe. Também foi enriquecedor conhecer um pouco da sociedade da época com as ótimas descrições. No ano 2011, acompanhamos o drama de Samuel, intimado por seu editor a escrever um livro falando mal do “Terror do Governador”, sua mãe Faye, para conseguir pagar a dívida do adiantamento que recebeu pelo livro que nunca publicou, na sua juventude.

É interessante notar que Nix usa a individualidade dos personagens para falar da sociedade de cada época. Os jovens que protestavam na década de 60 e os jovens atuais, que navegam nas redes sociais. O autor trabalha com a hipótese, a meu ver, de que todos os jovens querem ser notados e amados, e usam os meios que dispõem para isso, seja protestando ou postando memes e textões nas redes sociais. Compartilho parcialmente essa visão com o autor, pois acredito que naquela época, a motivação poderia ser a mesma, porém, era necessária uma força de ação para coloca-lá em prática que não é necessária hoje nas redes sociais. Qualquer um pode ser considerado militante.

É um livro com personagens deliciosos e complexos, que emociona, diverte e leva à reflexão, de uma maneira acessível a todos os públicos. Para quem leu, fica o questionamento: você já foi/é o Nix de alguém? Recomendo a leitura!


Nenhum comentário:

Postar um comentário

2001- Uma odisseia no espaço

                                                               Resenha   Livro: 2001- Uma odisseia no espaço   Autor: Arthur ...