domingo, 24 de fevereiro de 2019

A Metamorfose


Resenha
Livro: A metamorfose
Autor: Franz Kafka
Número de páginas: 96
Editora: Principis, ano 2018

Uma obra curta, essencialmente simples de entender, se observarmos apenas a superfície; um mergulho mais profundo nos faz capaz de entender um pouco mais sobre a natureza humana, solidão, capitalismo, direitos humanos, entre outras questões.
O enredo é velho conhecido da maior parte das pessoas: o jovem Gregor Samsa acorda em um belo dia em sua cama com um corpo diferente do seu usual, pois agora ele é um inseto. Gregor era um caixeiro viajante que sustentava a família – mãe, pai e irmã- e trabalhava apenas por essa razão, pois os seus pais possuíam uma dividia com seu chefe; do contrário já teria largado há tempos o emprego, pois o odiava. Gregor era o provedor da família e extremamente valorizado enquanto tal.

Quando o protagonista perde o horário pro trabalho, pois acordara como um inseto (importante destacar que o autor não especifica qual, deixando a cargo de nossa imaginação aquele mais asqueroso e repugnante que pudermos imaginar), seus pais começam a bater na porta, juntamente com sua irmã para ver o que acontecera. Logo em seguida, chega o gerente da empresa em pessoa a fim de verificar a razão da ausência de seu empregado. Na realidade, vemos como a família e o chefe não estão preocupados com a saúde ou o bem-estar do Gregor, mas somente com as consequências que adviriam da falta no trabalho.

Podemos perceber como o protagonista trata a questão de ter se tornado um inseto como secundário, ao passo que tenta convencer seu chefe de que está perfeitamente saudável para trabalhar. O chefe, a despeito de todos os serviços prestados durante cinco anos em que o empregado nunca faltara, sai correndo e abandona o trabalhador na amargura. É angustiante perceber a maneira como a qual Gregor tenta convencer a todos que sua condição é passageira e que ele poderia estar trabalhando normalmente. Muitos trabalhadores vão trabalhar mesmo doentes por conta do medo de demissões, ameaças por parte dos chefes e isso fica muito explicitado nessa parte. Assim como no filme Daniel Blake, podemos perceber que um trabalhador improdutivo é uma pedra no caminho do sistema, ele é descartável e quando não está saudável, o mais acertado, dentro da lógica capitalista, é descarta-lo.

Se tem uma palavra que define essa novela é angústia. É terrivelmente desesperador ver a maneira como a família de Greg muda o tratamento em relação à ele a partir do momento que o provedor se torna um inválido, que necessita de cuidados e provisão financeira. Quantos de nós já testemunhamos famílias que descartam seus idosos, as pessoas doentes, muitas vezes cuidando de forma a não os deixar morrer apenas, mas sem falar uma palavra de carinho e conforto? Assim que Greg se sente, jogado fora, inutilizado.

Greg se sente aprisionado em sua casca, em seu próprio corpo. Nesse momento fiz uma analogia às pessoas transexuais, que são pessoas que não se identificam com o sexo biológico com o qual nasceram. Essas pessoas são excluídas e marginalizadas na sociedade, assim como Greg, tratadas como repugnantes apenas por não se encaixarem no corpo com o qual nasceram, na casca, que nada mais é que um envoltório.
O autor utiliza um estilo que iria conferir a ele sua fama: narra episódios absurdos com extremo realismo, com verossimilhança. O que é real e o que não pode ocorrer se misturam, se imbricam a ponto da gente questionar o que é concreto, o que existe verdadeiramente.

Podemos pensar em todos os excluídos de nossa sociedade e ao tratamento que recebem. Esse livro joga em nossa cara as chagas de nossa sociedade, a hipocrisia, ao revelar que no final, o monstro de verdade não é o inseto repugnante, mas sim os “cidadãos de bem”. Leitura altamente recomendada!

domingo, 10 de fevereiro de 2019

Brooklyn


Resenha
Livro: Brooklyn
Autor: Colm Tóilbín
Ano: 2011
Número de páginas: 304
Editora: Companhia das Letras

Escrito pelo irlandês Colm Tóilbin, Brooklyn possui uma simples premissa: uma jovem mulher irlandesa na década de 50, por não encontrar oportunidades de trabalho na sua cidade natal, acaba se mudando para os Estados Unidos, mais especificamente, Brooklyn. Essa mulher se chama Eillis. Ela havia conseguido um emprego em uma mercearia de sua cidade, porém sua irmã Rose, achava que a Eilis poderia trabalhar em algo melhor, que tivesse a ver com suas qualificações, pois ela havia feito o curso básico de contabilidade. Por isso, Rose combina com um padre amigo, chamado Flood, que mora nos Estados Unidos de levar a jovem para trabalhar na “terra das oportunidades”.
Seguimos com a protagonista na viagem de Cruzeiro pelo Atlântico rumo à América. Conseguimos sentir nessas poucas páginas a agonia de viajar em espaços tão apertados e angustiantes. Chegando na América, Eilis no começo sente muitas saudades de casa, mas aos poucos vai se acostumando ao novo ambiente, morando em uma pensão para senhoras, ajudando o padre Flood na paróquia e estudando à noite, após o trabalho na loja Bartoccis, fazendo um curso longo de contabilidade. Até que ela conhece Tony, um jovem ítalo-americano com quem viverá um romance. Quando ela acreditava que estava se tornando uma cidadã mais americana que irlandesa, um fato em sua terra natal a leva a retornar para lá e ela se vê obrigada a tomar uma decisão.
É importante notar no livro que a protagonista não tem voz e nem vez. Não emite opiniões. Ela é sempre levada pela vontade alheia, seja nas pequenas ações do dia a dia, como a escolha de uma roupa, ou seja em grandes ações que poderiam mudar sua vida. Apesar de estar a um continente de distância, suas duas vidas são bastante similares e até mesmo as pessoas que fazem parte dela encontram correspondentes. Sua mãe na Irlanda pode ser encontrada na senhora Kehoe, a dona da pensão, na América, que vigia toda sua vida e a controla, como sua mãe fazia na terra natal; possui uma chefe , senhora Kelly, na Irlanda, que apenas informa a Eillis que a mesma iria trabalhar para ela na loja, e ela aceita, enquanto nos Estados Unidos, a chefe dá em cima dela e ela fica imóvel, não gosta da situação, mas é incapaz de falar algo para não desagradar; tem uma paquera na Irlanda, chamado Jim e nos Estados Unidos Tony; ate mesmo suas amigas Nancy e Anne encontram correspondentes nas suas colegas de pensão senhorita Mc Adam, Diana e outras.
Não acredito que isso tenha sido falha do autor, pelo contrário: acredito que ele quis nos mostrar o lugar que era reservado às mulheres naquela época. Eram simplesmente seres sem vozes, podadas de emitir suas opiniões por conta da sociedade extremamente machista e patriarcal. Por vezes nos irritamos com a protagonista por se deixar ser tão levada pelas situações, e em outras vezes, temos pena da mesma. Mas é angustiante pensar que ainda em nossos dias, a sociedade não gosta de mulheres que falam, pensem, gritem, protestem. Portanto, temática mais atual do que nunca. Além disso , temos a questão dos imigrantes que chegavam aos Estados Unidos naquela época e ainda o racismo, sempre presente na sociedade americana e naquela época, momento em que os negros e negras estavam tentando adentrar em lugares que lhes eram negados. Isso também é retratado no livro.
Como o próprio autor falou em uma entrevista, o livro trata de um imigrante que é estrangeiro em dois países, inclusive nele mesmo. Ou seja, a protagonista não sabe quem é, vive uma busca incessante de significados, não sabe onde é seu verdadeiro lar, onde estão e quem são seus verdadeiros amores. Acompanhá-la nessa busca pode te fazer conhecer um pouco mais de si mesmo. Recomendo a leitura

2001- Uma odisseia no espaço

                                                               Resenha   Livro: 2001- Uma odisseia no espaço   Autor: Arthur ...