domingo, 25 de fevereiro de 2018

Todas as garotas desaparecidas


Resenha
Livro: Todas as garotas desaparecidas
Autora: Megan Miranda
Ano de lançamento: 2017

Esse livro poderia ser um típico  Thriller psicológico . No thriller psicológico, os personagens não são dependentes da força física para superar seus inimigos (que é frequentemente o caso típico de thrillers de ação), mas dependem de suas capacidades mentais, seja pela inteligência lutando com um oponente formidável, ou por tentar se manter em perfeito estado psicológico. 

Nele acompanhamos a história de Nicollete, uma mulher de 28 anos, que atualmente resida na Filadélfia e é oriunda de uma cidade do interior dos Estados Unidos. Ela se apresenta como uma pessoa que está fugindo, de algo ou alguém, algum fato que ocorreu naquela cidade e que deixou marcas em sua vida. Na época em que ela foi embora, há dez anos, uma amiga sua próxima havia desaparecido sem deixar vestígios. Acompanhamos as consequências desse fato na vida de Nic, como é carinhosamente chamada pelos próximos. Nic precisa retornar à sua cidade natal de maneira emergencial, pois seu pai, que está senil, esta resistente em vender a casa que pertence a ela, seu irmão Daniel e a ele. Os momentos em que Nic se encontra com o pai e ele aparentemende não se recorda precisamente dela são emocionantes.

Como eu falei no início, poderia ser um livro típico do gênero, porém ele inova no sentido de organizar o tempo ao contrário. Ficamos sabendo do desaparecimento de uma outra mulher quando Nic está na cidade, e a partir disso, os fatos que levaram à esse desaparecimento e ao outro de dez anos , começam a ser narrados de trás pra frente. Isso foi uma ousadia da autora e teve que ser feita com muito cuidado, pois é um livro de solução de crime, ela conseguiu organizar o enredo de maneira que a solução ficasse realmente no primeiro dia, que lemos por último.

A premissa do livro é interessante e a narração cronológica ao contrário também, porém não me prendeu muito. A escrita da autora é fluida, mas por vezes confusa. Personagens não são bem desenvolvidas. Não consegui criar uma empatia muito grande pela personagem principal, visto que ela não foi desenvolvida em todas as suas camadas.

O livro versa sobre assuntos como machismo e violência contra a mulher, mas nada disso é discutido, apenas citado superficialmente. Poderíamos ter diálogos mais grandiosos em relação à esses episódios, mas não tem. Enfim, é um livro para ser lido em fim de semana onde você queira relaxar a mente, montar um quebra cabeça de investigação, mas não é muito grandioso, por conta dos defeitos citados.

domingo, 18 de fevereiro de 2018

Cem Anos de Solidão


Resenha
Livro: Cem anos de Solidão
Autor: Gabriel García Marquez
Ano de lançamento: 1967

A resenha de hoje fica por conta desse clássico da literatura mundial, do autor latino americano Gabriel García Marquez, conhecido como Gabo. A obra é o expoente da corrente literária conhecida como realismo mágico: Cem Anos de Solidão. Como o próprio nome já diz, o realismo mágico é uma resposta à colonização de nossa literatura, baseada até aquele momento, na fantasia europeia. O realismo mágico, característico da literatura latino americana, explicava os acontecimentos desse nosso vasto continente de maneira maravilhosa, abordando da mesma maneira tanto acontecimentos fantásticos como cotidianos.

O maior representante dessa literatura é o Gabo, nascido em 6 de marco de 1927, na cidade de Aracata, na Colômbia. Foi criado pelos avós, que foram sua grande inspiração para contar histórias. Ele dizia que sua avó contava acontecimentos fantásticos com a mesma expressão com que avisava que o sol estava se pondo. Conheceu muitos locais no mundo. Ganhou o prêmio Nobel de Literatura, por todo o conjunto de sua obra.
Cem anos de Solidão conta a história de uma família: os Buendía, durante o tempo de cem anos , mais ou menos. A história acompanha o desenvolvimento da família ao longo de sete gerações. A narrativa começa com a fundação do povoado de Macondo, uma cidade isolada do mar, descoberta por acaso por José Arcadio e seus companheiros de exploração. José Arcadio era casado com sua prima , Úrsula Iguarán, e eram primos entre si. Úrsula acreditava que os filhos deles nasceriam com rabo de porco, por conta da relação de consaguinidade. Juntos, tiveram 3 filhos biológicos e uma adotiva: José Arcadio, Aureliano e Amaranta, filhos biológicos e Rebeca, filha adotiva. A partir desse momento, os filhos deles irão ter filhos, netos, bisnetos, tataranetos, e todos da família possuem os mesmo nomes de seus antepassados, com algumas variações.
José Arcadio tem uma longa amizade com Melquíades, um cigano que ia regularmente em Macondo, trazendo novidades científicas para o povoado e escreve pergaminhos que são difíceis de decifrar, contando o futuro da família Buendia, aquela que não terá uma segunda chance sobre a Terra.
A única personagem que acompanha todas as gerações é Úrsula. Ela acredita que a história de sua família é uma sucessão de repetições, tendo como uma das causas desse fato os nomes repetidos, mas não hesita em batizar as novas crianças com os nomes de família. No começo, me prendi aos nomes dos personagens e quem eles representavam na família: quem era filho de quem, irmão de quem, sobrinho, etc. Mas depois percebi que, mais importante que isso, é sentir a história desses personagens, suas aflições, histórias e sobretudo a característica que os une: a solidão. Solidão essa às vezes compartilhada, às vezes vivida inteiramente só.
Gabo consegue contar a história da América Latina através da narração do micro ambiente de uma família, e consegue transportar essa narrativa para o campo macro. Percebemos no romance uma forte crítica às ditaduras, às inúmeras tentativas de nos colonizar, nos homogeneizar. Na época da escrita do romance, a América Latina servia única e exclusivamente como periferia do capitalismo, exportando matéria prima para os países ditos desenvolvidos. O autor faz uma analogia com esse fato com a companhia bananeira, que chega no povoado, explora todo o povo, e depois, sem garantir direitos aos seus trabalhadores, vai embora.
Em relação à nossa histórico de ditaduras e repressões, podemos ver na história quando um personagem insiste em lembrar o genocídio que ocorreu em um protesto contra a companhia bananeira e os moradores de Macondo insistem em negar o acontecido, ficando com a versão hegemônica de que a companhia bananeira não reprimiu os protestos e nunca houve mortes.
Lendo esse livro, me transportei para Macondo, que é muito bem descrita pelo autor. Ele mesmo, em diversas entrevistas, afirmava que se inspirou na cidade em que cresceu para criar a Macondo. Tive vontade de conhecer essa cidade esquecida pelos ventos, pelo mar, até ser varrida do mapa.
Tudo no livro se repete: a história da família é cíclica. O que encarei como uma crítica ao fato da história se repetir, em toda a América Latina, que foi alvo de cinco guerras e dezessete golpes de Estado, totalizando 120 mil desaparecidos, com morte de 20 milhões de crianças menores de dois anos. Foi um ciclo que se repetiu em todo o continente, financiado pelos grandes países desenvolvidos, que lucraram em nossa dor e sofrimento.
É impossível ler Cem anos de Solidão e não se render ao sentimento de pertencimento enquanto latino-americanos: sofremos as mazelas da exploração, mas resistimos. Numa história de solidão, em que, apesar de tudo, seguimos tentando construir e contar a nossa história.

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018

De moto pela América do Sul: Diário de Motocicleta

Resenha
Livro: De Moto pela América do Sul: Diário de Motocicleta
Autor: Ernesto Guevara de la Serna

De Moto pela América do Sul é um compilado de relatos organizados e reescritos pelo próprio Che Guevara, onde ele narra os acontecimentos de uma viagem que ele fez através da América Latina, acompanhado de seu amigo Alberto Granado, à bordo da moto La Poderosa II.  O objetivo da viagem era sair da Argentina, passar por vários países da América Latina, até chegar à Venezuela.

Não leio muitos livros não ficcionais, pois prefiro literatura ficcional, apesar do fato de estar tentando mudar um pouco esse hábito. Porém, essa obra é narrada com tanta maestria por Che Guevara, com tanto lirismo, que fica difícil acreditar que todos os acontecimentos relatados foram vivenciados pelos dois. Che era muito jovem quando fez essa viagem, tinha apenas 23 anos. Abandonou a faculdade de medicina (que depois retornou), sua namorada , família e o conforto do lar para embarcar numa aventura de auto conhecimento, fatos que culminaram para formar o grande revolucionário que foi.

Sou suspeita para falar de um livro que aborde viagens através da América Latina, pois tenho o sonho de conhecer todos os países que fazem parte dela e sou suspeita para falar de Guevara. Mas esse livro é capaz de encantar a muita gente. Recheado de momentos sensacionais, noz faz ter múltiplas emoções e sentir que fomos um terceiro passageiro à bordo de La Poderosa II.

A narração da epopeia dos dois alcança seu máximo nível de comoção, quando acompanhamos além da descrição dos fatos, reflexões do autor sobre o que está sendo narrado. Quando o autor fala por exemplo da pobreza extrema em diversos países da América Latina, e que ele e seu amigo vivenciaram durante a viagem, tendo que pedir comida, abrigo; ao mesmo tempo em que é feita uma reflexão sobre a exploração que os Estados Unidos realiza sobre toda a América Latina. Outro momento emocionante é quando Che e Alberto visitam o leprosário, local naquela época que era vista com muito preconceito e os leprosos tratados como não humanos, e lidam com os acometidos pela lepra de maneira singela e humanitária.


Acompanhamos o crescimento e mudança de Che ao longo do livro e as mudanças que essa viagem provocou em seu interior, visto que como ele mesmo fala no começo do livro, ele não é mais o mesmo de que quando começou a aventura. Podemos sentir a  formação e posterior  consolidação do espírito revolucionário de Ernesto.  Recomendo a leitura para quem queira se emocionar, se aventurar e aprender sobre a cultura da América Latina.

2001- Uma odisseia no espaço

                                                               Resenha   Livro: 2001- Uma odisseia no espaço   Autor: Arthur ...