terça-feira, 21 de novembro de 2017

Crime e castigo


Resenha
Livro: Crime e Castigo
Ano de lançamento: 1866
Autor: Dostoievski

Fiódor Dostoievski havia lançado seu romance de estreia Gente Pobre, pelo qual fora muito elogiado, quando aos 27 anos, em 1849 foi preso por participar de um grupo clandestino e conspirar contra o Nicolau I, imperador da Rússia. Na época, havia sido condenado ao pelotão de fuzilamento, mas acabou tendo sua pena convertida em longos anos de trabalhos forçados em uma prisão na Sibéria e Cazaquistão. Lá no confinamento, junto com diversas pessoas, conheceu melhor a mente humana e quando deixou o exílio, se tornou um grande expoente da literatura mundial.

O enredo de Crime e Castigo é bem conhecido: Rodion Romanovicht Raskolnikov, um  (ex)estudante paupérrimo de Direito, que morava em São Petesburgo para estudar e sobrevivia às custas do dinheiro que sua mãe mandava para ele resolve cometer um crime: matar uma velha usurarária, que emprestava dinheiro para os pobres e os explorava, recebendo todo o dinheiro de volta com juros astronômicos, se aproveitando da pobreza e necessidade alheias. Rodion planeja o assassinato da velha, porém no momento em que vai realiza-lo, a irmã dela, Lisavieta, uma doce criatura, chega em casa e acaba sendo morta juntamente com sua irmã. A partir disso, acompanhamos as consequências desse episódio na vida desse rapaz.

Rodion era um ser extremamente inteligente e perspicaz, sendo autor de uma teoria acerca de crimes, para ele existiam dois tipos de pessoas: comuns e extraordinárias. As comuns existiam para serem subjugadas às leis e as extraordinárias seriam imunes à elas. Pessoas tais como Napoleão, que mataram milhões, em busca de um bem maior. Podemos adivinhar à que classe de pessoas Raskolnikov achava que pertencia, com seu desprezo pelas pessoas e sua inteligência acima do usual.

Essa obra é um clássico, e como tal, é atemporal. São inúmeras as reflexões que podemos ter lendo essa grande obra prima, se emergimos e nos entregarmos de cabeça à leitura. As metáforas presentes ao longo de todo o texto são sensacionais. Como por exemplo a velha usurária representa para Rodion nada mais que um piolho, em suas próprias palavras, o próprio capitalismo, tão odiado por nosso protagonista, que explorava e subjugava os pobres, deixando-os sob seu domínio. A obra é lotada de personagens peculiares que contribuem para a grandeza magistral do enredo: Sonia, uma prostituta angelical que representava para Rodion a possibilidade de perdão, redenção, entrega; Lujín, um homem que gosta de ter entre seus domínios mulheres pobres para poder ser o herói da vida delas, entre outros.

Repleta de cenas extraordinárias, tais como o momento em que Lujín acusa Sonia de roubar dinheiro; as conversas entre o homem viúvo de Marfa e Rodion ou entre Rodion e seu amigo Rakumikin, todos esses diálogos contribuem para a grandiosidade da obra. Um ponto interessante a se ressaltar é como o autor retrata o pensamento de Raskolnikov: assim como somos assaltados por pensamentos enquanto falamos ou executamos ações, o protagonista também é invadido por reflexões, por muitas vezes nada agradáveis, no meio de suas falas e ações, contribuindo para a sensação de imersão tão urgente presente no decorrer de todo o livro.

Mais do que a história de um crime, o livro retrata um homem, antes de cometer o crime, sua humanidade, suas contradições. Seria Rodion capaz de viver em paz e livre após cometer seu crime ou só viveria em paz no momento em que se entregasse? O que se passa na cabeça de um criminoso logo após a ação criminal? Arrependimento, repulsa, dor? Conseguimos imaginar e mergulhar no mundo sórdido e sombrio de Rodion ao longo das mais de 500 páginas, ora sentindo pena do criminoso, ora sentindo raiva, ora compaixão, ora dúvida, num carrossel de sensações nada maniqueístas, que afinal, faz parte da vida de todas as pessoas. Um livro para ser lido, relido, discutido em qualquer tempo e espaço.


2001- Uma odisseia no espaço

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