terça-feira, 25 de julho de 2017

Ventos do Apocalipse


Resenha
Livro: Ventos do Apocalipse
Autora: Paulina Chiziane

O segundo romance da Paulina, publicado em 1975 retrata o sofrimento do povo de Moçambique durante a Guerra Civil , que ocorreu logo após a Independência de Moçambique. O livro começa com histórias sendo contadas ao redor de uma fogueira. Essa contação de histórias inicial já serve para nos  habituar ao clima da obra. As histórias contadas no início possuem os seguintes títulos: O marido cruel, Mata que amanhã faremos outro A ambição de Massupai. A temática desses contos será trabalhada ao longo da obra, que retoma esses temas de maneira extremamente detalhada.
O livro é dividido nesse cenários das histórias sendo contadas ao redor da fogueira, em Parte I e Parte II. A parte I consiste em abordar a história de dois personagens: Sianga e sua esposa Minosse. A parte II consiste em retratar a jornada de um povo expulso pela guerra do seu local de origem até chegar em um outro lugar para refazer sua vida.
A narrativa é muito contundente e envolvente, mostrando como um povo que anteriormente vivia da terra, tinha prosperidade, se tornou um povo massacrado, excluído. Dói na alma ler certas passagens do livro, como esse trecho que coloco abaixo:
“O sofrimento é milenar na história do homem negro e este jamais se conformou.”
É exatamente o que o livro tenta retratar e o faz com muita precisão. O sofrimento do povo negro, que ocorre há séculos e continua a ocorrer até os dias de hoje.
A obra também traz a tona a maneira como as mulheres eram tratadas(e ainda o são) pela sociedade. Se o homem sofria, a mulher sofria dez vezes mais, pois ela era considerada propriedade do marido que a comprava. O homem, nessa sociedade, pode ter relações polígamas.  O livro aborda o sofrimento das mulheres nesse tipo de relação naquele contexto.
Porém, em meio à tantas mazelas e tanto sofrimento, podemos perceber a solidariedade que existe entre as classes mais pobres. Mesmo com tão pouco, dividindo o que tem entre si, repartindo:
“ O fardo da vida torna-se leve quando a humanidade reside no coração de cada homem, quando a fraternidade atinge o universo ultrapassando as barreiras do sangue.”

O livro também fala das ajudas humanitárias que os moçambicanos receberam durante a guerra, principalmente dos europeus. Ao mesmo tempo que os europeus os ajudavam , eles os colonizavam, tiravam a cultura dos nativos e isso é muito bem abordado durante toda a trama, como podemos perceber pelo trecho abaixo:
“Hoje, gente oriunda das antigas potências colonizadoras diz que dá a sua mão desinteressada para ajudar os que sofrem. É preciso acreditar na mudança dos homens, eles sabem disso, mas a sabedoria popular ensina que filho de peixe é peixe e filho de cobra cobra é. Toda a gente sabe que, neste mundo cruel, ninguém dá nada em troca de nada.”

O livro aborda também a resistência que os moçambicanos tentam fazer à entrada de cultura estrangeira, a luta pelo direito de cultivar os seus deuses nativos.

Uma obra que trata de assuntos muito pertinentes e nos faz refletir sobre o sofrimento, sobre solidariedade, sobre feminismo. Vale a pena ler e mergulhar no universo desse livro.

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