quinta-feira, 27 de julho de 2017

Do jeito que o diabo gosta

Resenha
Livro: Do jeito que o diabo gosta
Autor: Lodir Negrini

Um ex astro do rock na casa dos quarenta anos faz um pacto com o Diabo para recuperar seus dias de glória. Essa é a premissa do livro Do jeito que o Diabo Gosta. O artista em questão se chama Alex Britto. Alex Britto tem várias vantagens ao assinar o contrato que valida o pacto, mas também precisa cumprir muitas exigências. Vale destacar aqui:  as exigências do contrato. O autor trabalha com mitos do imaginário popular nessa parte do livro que me renderam muitas risadas, como por exemplo o cantor ter que colocar mensagens subliminares na sua música que só podem ser entendidas quando a música é tocada de trás pra frente.
Alex é um personagem não muito carismático. Não foi fácil para mim gostar de Alex Britto. Um cantor de rock que parece não ter crescido muito desde a época que possuía uma banda, quando era mais jovem, até os dias atuais. Um tanto quanto machista, tratando as mulheres e todos ao seu redor como objetos que servem meramente ao seu bel prazer. Mas acredito que essa tenha sido realmente a intenção do autor. Recheado de humor ácido, o livro ironiza a vida de subcelebridades, o quando as pessoas estão desesperadas para se tornarem famosas nos dias atuais e o que estão dispostas a fazer por isso.
O livro critica a indústria musical e nisso ele é muito eficiente. Fica fácil para o leitor perceber que, na maior parte das vezes, para um artista fazer sucesso, ele tem que cantar músicas que não o agrada e nem fazem parte da essência dele. Conseguimos perceber a trama de relações que há por trás do mundo do glamour e do sucesso. Hoje em dia, temos a ascensão de muitos artistas independentes, que por conta disso, conseguem driblar em grande parte essa exigência de pouca qualidade e muita “grudabilidade” das gravadoras para com suas músicas. A obra traz uma crítica ainda às pessoas que misturam política com religião, salientando que essa mistura nunca dá certo.

Um livro curto e sucinto, leve, perfeito para quem quer se divertir e de quebra refletir sobre as questões citadas acima. Recomendo.

terça-feira, 25 de julho de 2017

Ventos do Apocalipse


Resenha
Livro: Ventos do Apocalipse
Autora: Paulina Chiziane

O segundo romance da Paulina, publicado em 1975 retrata o sofrimento do povo de Moçambique durante a Guerra Civil , que ocorreu logo após a Independência de Moçambique. O livro começa com histórias sendo contadas ao redor de uma fogueira. Essa contação de histórias inicial já serve para nos  habituar ao clima da obra. As histórias contadas no início possuem os seguintes títulos: O marido cruel, Mata que amanhã faremos outro A ambição de Massupai. A temática desses contos será trabalhada ao longo da obra, que retoma esses temas de maneira extremamente detalhada.
O livro é dividido nesse cenários das histórias sendo contadas ao redor da fogueira, em Parte I e Parte II. A parte I consiste em abordar a história de dois personagens: Sianga e sua esposa Minosse. A parte II consiste em retratar a jornada de um povo expulso pela guerra do seu local de origem até chegar em um outro lugar para refazer sua vida.
A narrativa é muito contundente e envolvente, mostrando como um povo que anteriormente vivia da terra, tinha prosperidade, se tornou um povo massacrado, excluído. Dói na alma ler certas passagens do livro, como esse trecho que coloco abaixo:
“O sofrimento é milenar na história do homem negro e este jamais se conformou.”
É exatamente o que o livro tenta retratar e o faz com muita precisão. O sofrimento do povo negro, que ocorre há séculos e continua a ocorrer até os dias de hoje.
A obra também traz a tona a maneira como as mulheres eram tratadas(e ainda o são) pela sociedade. Se o homem sofria, a mulher sofria dez vezes mais, pois ela era considerada propriedade do marido que a comprava. O homem, nessa sociedade, pode ter relações polígamas.  O livro aborda o sofrimento das mulheres nesse tipo de relação naquele contexto.
Porém, em meio à tantas mazelas e tanto sofrimento, podemos perceber a solidariedade que existe entre as classes mais pobres. Mesmo com tão pouco, dividindo o que tem entre si, repartindo:
“ O fardo da vida torna-se leve quando a humanidade reside no coração de cada homem, quando a fraternidade atinge o universo ultrapassando as barreiras do sangue.”

O livro também fala das ajudas humanitárias que os moçambicanos receberam durante a guerra, principalmente dos europeus. Ao mesmo tempo que os europeus os ajudavam , eles os colonizavam, tiravam a cultura dos nativos e isso é muito bem abordado durante toda a trama, como podemos perceber pelo trecho abaixo:
“Hoje, gente oriunda das antigas potências colonizadoras diz que dá a sua mão desinteressada para ajudar os que sofrem. É preciso acreditar na mudança dos homens, eles sabem disso, mas a sabedoria popular ensina que filho de peixe é peixe e filho de cobra cobra é. Toda a gente sabe que, neste mundo cruel, ninguém dá nada em troca de nada.”

O livro aborda também a resistência que os moçambicanos tentam fazer à entrada de cultura estrangeira, a luta pelo direito de cultivar os seus deuses nativos.

Uma obra que trata de assuntos muito pertinentes e nos faz refletir sobre o sofrimento, sobre solidariedade, sobre feminismo. Vale a pena ler e mergulhar no universo desse livro.

quinta-feira, 20 de julho de 2017

O homem que amava os cachorros

Resenha
Título: O homem que amava os cachorros
Autor: Leonardo Padura
Editora: Boitempo Editorial
Ano de lançamento: 2013

Pensei muito sobre como começar a falar sobre O homem que amava os cachorros. Fazia tempo que eu não lia uma obra que me envolvia da maneira como essa me envolveu.
O livro conta a história de três pessoas. É narrado em 2004, por um homem frustado em seu desejo de escrever, um cubano que trabalha na edição de uma revista veterinária chamado Iván. A partir do encontro de Iván com um enigmático senhor que andava na praia com seus cachorros, a quem Iván apelida de homem que amava os cachorros, a história começa a se desenrolar.
Misturando ficção e realidade, a obra conta a história de três vidas que se cruzam: os últimos anos de vida de Leon Trostky, o revolucionário russo, e seu assassinato; conta e humaniza a história de vida e a trajetória que levou Ramón Mercader(ou seria Jaques Mornard? Ou soldado 13?), o assassino de Trostky, a realizar aquele ato; e conta a história do narrador Iván.
O livro é uma obra prima, pois cumpre o papel da literatura, nos faz viajar e entrar na mente dos protagonistas do livro e nos faz sentir na pele deles, agindo como eles. Longe de apresentar uma visão maniqueísta de mundo, nos mostra que todos na vida(ou a maior parte) possuem características boas e ruins , nada é somente preto no branco, oito ou oitenta.
A história possui diálogos envolventes, descrições minuciosas das cenas, o que nos transporta diretamente para a situação descrita. A vida dos três personagens principais, que poderiam não estar ligadas entre si, acabam formando um paralelo, pois, entre muitas outras características semelhantes, o amor pelos cachorros os une. Não existe na realidade um homem que amava os cachorros, mas três homens que amavam os cachorros.
Utilizando-se de metáforas que transcendem o tempo, o texto é muito bem construído e dotado de sentidos. Para quem quer aprender mais sobre a história da URSS, de Cuba vale a pena ler. Da verdadeira história, rompendo com o que a grande mídia mostra/mostrou/mostrará acerca disso Uma grande história, contada por um grande autor. Uma verdadeira obra prima latino-americana. Vale muito a pena todas as 600 páginas lidas nesse livro.


2001- Uma odisseia no espaço

                                                               Resenha   Livro: 2001- Uma odisseia no espaço   Autor: Arthur ...