domingo, 21 de outubro de 2018

A neblina do passado



Resenha
Livro: Neblina do passado
Autor: Leonardo Padura
Ano de lançamento: 2005
Nº de páginas: 320

Sou um pouco suspeita para falar de livros do Leonardo Padura, escritor cubano, ganhador de diversos prêmios de literatura internacionais, tais como Prêmio Hammet e Prêmio Princesa das Astúrias de Literatura. Esse é o sexto livro que leio do autor (você pode ler minhas outras resenhas aqui no blog). Sou apaixonada pela escrita, pelo universo criado por Padura, e, essencialmente, por Cuba.

Nesse livro, temos como protagonista Mário Conde, figura já carimbada em outros romances do autor, como na série Quatro Estações em Havana. A história se passa em 2003, quatorze anos depois de Conde largar sua função de investigador na polícia. Ele vive da compra e venda de livros usados, prática muito comum em Cuba. Mário descobre um verdadeiro tesouro: uma biblioteca com exemplares de livros raríssimos e valiosos. Ele leva seu sócio, Pombo, para participar do negócio com ele. Juntamente com os livros, o ex policial acha uma carta de uma cantora de bolero dos anos 50, Violeta del Rio, e passa a ficar obcecado para saber mais sobre a vida da mulher.

A partir desse momento, mergulhamos no passado junto com Conde. Numa era pré-revolução, com muitos cantores e cantoras de bolero, quando a música era farta na cidade, as casas de show fervilhavam, Cuba respirava música. Conde é melancólico por natureza. Por isso, fica entusiasmado para saber mais sobre essa Cuba , na época que nem ele era nascido.

O ex investigador e seu amigo se veem envolvidos em uma teia de assassinatos no tempo presente, que pode ter origens no passado. Pode um fato acontecido há tantos anos ter reflexos no tempo presente?

O título é sugestivo e nele se baseia todo o livro: a neblina do passado, uma nesga, uma parte do tempo que nos afeta ainda, que nos nubla de uma tal maneira que não conseguimos enxergar a verdade. Como uma nuvem que nos causa cegueira. É necessário enfrentar o tempo que passou de cabeça erguida, pois só assim, conseguiremos superá-lo.

A escrita de Padura é impecável: suas descrições de cenas de sexo, cenas de comida, cenas de violência, são todas recheadas de um lirismo, mas ao mesmo tempo, com tons coloquiais, que nos leva a acreditar que aquilo realmente aconteceu e que estamos vivenciando esses fatos junto com nosso protagonista. O amor de Conde para com seus amigos e sua companheira Tamara é algo retomando e bem trabalhado nesse volume.

Me senti nostálgica, como diria Renato Russo, nessa saudade que eu sinto de tudo que eu ainda não vi. Cuba é apaixonante, quente, sedutora, amistosa, acolhedora. Só fez aumentar em mim ainda mais a vontade de conhecer esse, nas falas do próprio Padura, nem céu socialista nem inferno da direita, mas sim um purgatório. Padura consegue ser crítico ao seu país, mas percebe-se um amor pela cidade, pela ilha, que escapa em cada poro do personagem principal. Afinal, não somos maniqueístas e isso o autor consegue trabalhar muito bem. Recomendo a leitura.

domingo, 7 de outubro de 2018

O amor segundo Buenos Aires


Resenha
Livro: O Amor Segundo Buenos Aires
Autor: Fernando Scheller
Ano de lançamento: 2016
Número de páginas: 288

O Amor Segundo Buenos Aires é, realmente, um livro sobre esse sentimento que nos move: o amor, em todas as suas formas e manifestações. O livro é o romance de estreia do jornalista Fernando Scheller.

Confesso que me interessei pelo livro a partir do título e pela foto de capa, que é magnífica. O titulo me chamou atenção pois tenho sonho de conhecer toda a América Latina, inclusive a cidade portenha, capital da Argentina. Não consigo pensar em cenário melhor para a história. Aliás, Buenos Aires não é somente pano de fundo da história. É uma das personagens principais. Mas vamos ao enredo.

Hugo, um brasileiro, decide se mudar para Buenos Aires por amor  à sua namorada, Leonor,  que tenta se reaproximar do pai argentino. Mas, logo no primeiro capítulo do livro, somos surpreendidos com o término desse relacionamento. O capitulo narra o momento que Hugo deixa Leonor, pois não enxerga mais reciprocidade naquela união, que se tornara unilateral. Nesse momento, já podemos observar uma inversão : é o homem que sofre pela mulher, não ao contrário. Ponto positivo já no começo do livro.
A partir disso, todos os capítulos são narrados por personagens diferentes , que falam sobre uma outra pessoa. Por exemplo, o primeiro capítulo se intitula: Leonor, segundo Hugo. Todos os capítulos obedecem à essa estrutura. Achei ótimo, pois nos apresenta a história sob variados pontos de vista.

Além de Hugo, temos Carol, uma comissária de bordo que nutria uma paixão platônica pelo Hugo; Eduardo, o melhor amigo de Hugo; sr Pedro, pai de Hugo. E Buenos Aires, que se torna um dos amores do nosso personagem principal, amor , esse sim, correspondido.

É importante destacar a presença de um casal homossexual na trama: Eduardo e Daniel. Um dos casais mais apaixonantes que já tive o prazer de acompanhar a história. O amor desse casal é retratado de maneira fluida, não sendo a sexualidade deles o que os determina, apenas mais um espectro, uma característica dos seres humanos Edu e Dani, mas sem deixar de abordar os preconceitos e dificuldades vividas pelos homossexuais em nossa sociedade.

O livro toca em temáticas sensíveis, como o aborto, de maneira não sensacionalista. Todos os personagens são bem reais, nada maniqueístas. Me identifiquei facilmente com todos eles, pois somos assim: seres não perfeitos, buscando conexões.
A obra é permeada por emoções. Muitas vezes me peguei rindo, chorando, pensando. Gosto de livros que me provoquem sensações, seja de que natureza for. Esse me provocou emoções diversas.

Acredito que o livro fale sobre conexões: aquelas que podemos encontrar com nossos amigos, ao longo da vida, que podem nos ajudar e estar do nosso lado muito mais que nossa família; aquela com nossos pais, onde alguns tem relacionamentos confusos, paradoxais, outros possuem uma relação mais leve , de puro amor; com nosso (s) amor(es), que conhecemos ao longo de nossa vida. Sobretudo, identificação com um lugar, o qual nos sentimos em casa. Esse lugar também pode ser uma pessoa. O capítulo final é homônimo do titulo do livro. Traz a cidade de Buenos Aires dissertando sobre o amor.

O autor descreve muito bem os locais da cidade portenha, aumentando muito a minha vontade de conhecer esse local. Todo capítulo vem com um mapa do lugar de Buenos Aires importante para o personagem em questão.

A obra fala sobre amor em todas as suas formas, manifestações, pluralidade existente. Em tempos de ódio, é melhor andar amado. Recomendo a leitura!

“Se você já amou demais
Se acredita que todo amor vale a pena
Esse livro é para você.”

2001- Uma odisseia no espaço

                                                               Resenha   Livro: 2001- Uma odisseia no espaço   Autor: Arthur ...