domingo, 21 de abril de 2019

Os cadernos de Praga

                                                         Foto: Daflon fotografia


Resenha
Livro: Os cadernos de Praga
Autor: Abel Posse
Ano: 1999
Número de páginas: 258
Editora: Record


Sou fascinada por romances históricos e sou suspeita para falar do protagonista principal desse: Ernesto Guevara de La Serna, ou simplesmente Che Guevara. O livro une ficção e realidade, resgatando os relatos de um caderno escrito por Che durante o período de mais ou menos cinco meses que residiu em Praga, escondendo sua identidade sob os pseudônimos de Vasquez Rojas, Adolfo Mena e Ramón Benítez.

O autor fez uma extensa pesquisa consultando pessoas que conheceram Che quando ele era apenas Ernesto Guevara e outros que já o conheceram como o revolucionário em questão. O autor pegou trechos do diário e mesclou com episódios fictícios. A fronteira entre o real e o imaginário é muito tênue: não dá para saber onde começa um e termina outro. Além dos relatos do caderno, há capítulos em que o autor explica como fez para chegar em uma determinada história, entrevistas do autor com as testemunhas que também são muito enriquecedoras.

Anteriormente, já havia lido Diários de Motocicleta. A escrita dos cadernos é tão lírica quanto no livro inteiramente escrito por Guevara. Com muitas metáforas, as passagens se tornam prosa com a fluidez e leveza de uma poesia. Quando ele fala da asma, uma doença que naquela época ainda não havia os tratamentos disponíveis  como hoje, descreve-a como Dama da Aurora. Trechos belíssimos também são aqueles em que ele descreve a relação dele com a mãe. Podemos acompanhar também a culpa por  ter sido um marido ausente, filho ausente, pai ausente. Sempre ausente por conta da revolução. A culpa é um sentimento que persegue Guevara por toda a vida. Culpa e inquietação.

Se você deseja conhecer mais sobre o Guevara humano, para além do lado político revolucionário, recomendo a leitura desse livro. Acredito que você, assim como eu, irá se apaixonar por esse ser humano que foi tão altruísta, gentil, honesto e justo. Além do texto ser muito rico do ponto de vista da linguagem. Boa leitura

domingo, 7 de abril de 2019

Rani e o Sino da divisão


Resenha
Livro: Rani e o Sino da Divisão
Autor: Jim Anotsu
Ano: 2014
Editora: Gutemberg
Número de páginas: 320

Muitas pessoas tem um pouco de preconceito em relação à literatura brasileira. Eu, particularmente, leio de tudo, e no momento, tenho feito um esforço para ler autores latino-americanos, asiáticos, do leste europeu, africanos, para sair um pouco do eixo Estados Unidos-Europa. Esse pode ser um ótimo livro para quem quer começar a se aventurar pela literatura brasileira contemporânea, do autor mineiro Jim Anotsu.

Rani é uma menina de 16 anos, que mora em uma cidade do interior de Minas Gerais, a Graúna( descobri que se refere à cidade de Itaúna, na realidade) e tem uma vida pacata, até mesmo um pouco tediosa. Sua rotina é ir para a escola onde cursa o Ensino Médio, tocar em uma banda com sua melhor amiga Marina , ler muito, ver séries e escutar músicas. Rani é uma menina negra, que se mudou da antiga escola por sofrer racismo.

Um desses dias cotidianos, quando ela corta caminho para ir à escola pelo cemitério da cidade, encontra com um menino vestindo roupas coloridas e sente um calafrio, seguido de uma enorme vontade de sair correndo. É o que ela faz. Quando chega na sua escola, tem uma surpresa ao  perceber que o menino colorido é seu mais novo colega de classe. O garoto se chama Pietro e na realidade é um vampiro que revela a Rani um fato que mudará sua vida para sempre: na verdade, a garota é uma xamã urbana. Existe um xamã que está matando e arrancando os corações de seus colegas a fim de despertar o Grande Espirito. Ele se chama Aiba e também está atrás de Rani.

A menina comum se vê em uma teia de acontecimentos surpreendentes que ela nem imaginava que existiam. No mundo sobrenatural também há “classes”. São as facções. A facção que o Pietro pertence é a dos Animais de Festa e a de mais baixo prestígio na sociedade e Rani passa a pertencer também à essa facção. Ela conhece Valentina, a irmã – e também vampira- de Pietro; Tales, filho do Lúcifer( também conhecido como hispter Lulu); Fred , o lobisomem cientista. Juntos, vão descobrir o valor das verdadeiras amizades e viver muitas aventuras na busca pela derrota de Aiba e salvação da humanidade.

É importante destacar que o livro tem muitas mulheres fortes como personagens. Começando pela protagonista: uma menina negra, de personalidade, que ama rock, não gosta de rotular relacionamentos, influenciada pela família é uma materialista ( até descobrir que ela faz parte de um mundo sobrenatural). Rani sofre racismo muitas vezes e isso é bem destacado no livro, não de forma panfletária, mas de maneira natural e até mesmo adolescentes que lerem o livro irão perceber a dor e o absurdo do racismo. Rani não orbita em torno de um personagem masculino. Apesar dela viver uma história com Pietro, continua sendo a Rani forte e inteligente de sempre; temos Marina, que apesar de ser humana permanece ao lado da amiga, enfrentando as situações irreais. É interessante por que o relacionamento das duas não é baseado em conversas sobre garotos. Aliás, somente uma vez a Marina questiona a Rani sobre o relacionamento dela com Pietro; a Valentina, uma vampira destemida, corajosa e inteligente.

 Representatividade importa. Se levarmos em consideração que esse livro tem como público alvo adolescentes, é importantíssimo que traga representações positivas de meninas, de pessoas negras, de idosos. Toda a obra quebra estereótipos estabelecidos pela nossa sociedade machista, racista. Meu eu adolescente com certeza amaria ler esse livro, assim como meu eu adulto. São de livros desse jeito que precisamos para tentar mudar, mesmo que de maneira lenta, nossa sociedade. Recomendo a leitura!

2001- Uma odisseia no espaço

                                                               Resenha   Livro: 2001- Uma odisseia no espaço   Autor: Arthur ...