domingo, 27 de janeiro de 2019

Sempre vivemos no castelo

Resenha

Livro: Sempre vivemos no castelo
Autora: Shirley Jackson
Número de páginas: 200
Ano da edição: 2017

Shirley Jackson foi uma autora que nasceu na Califórnia, nos Estados Unidos, e morreu precocemente as 47 anos de idade, vítima de problemas de coração. Era uma pessoa ansiosa, que lutava contra o peso, fumante inveterada e desenvolveu agorafobia, medo de sair de casa e encontrar pessoas. Os medicamentos para esses transtornos eram conflitantes entre si e desconfia-se que isso tenha sido um dos motivos de sua morte prematura. Inspirou grandes autores como Stephen King e Neil Gaiman. É autora de seis romances, sendo apenas dois deles traduzidos para português até o momento e inúmeros contos. 

O livro conta com um enredo bastante simples. Narrado em primeira pessoa pela Mary Katherine ou Merricat, como é chamada pela família. Ela vive em sua casa com sua irmã Constance Blackwood e o tio Julian. A família continha sete componentes, mas após um homicídio, ficou reduzida à três pessoas. O assassinato ocorreu pois o açúcar usado pela família foi envenenado com arsênico. Constance sobrevive pois não ingere açúcar, Merricat estava de castigo no quarto e tio Julian uma pouca quantidade, que lhe permitiu sobreviver, mas deixando-o cadeirante e com outros comprometimentos físicos. Na época, por fazer as refeições da família, Constance foi acusada de homicídio, mas, por falta de provas foi inocentada. Nesse meio tempo do julgamento, Merricat ficou em um orfanato e aguardando. 

A partir desse episódio, Merricat de apenas 18 anos e sua irmã de 28 passam a viver isoladas em sua mansão, juntamente com seu tio Julian, sendo felizes naquele refúgio que criaram. Constance desenvolveu agorafobia e não saia de casa, ficando a cargo de Merricat ir ao vilarejo comprar o que era necessário para sobreviver e trocar livros na biblioteca. Quando ela vai ao vilarejo tem que lidar com as "piadas" dos moradores que não acreditam na inocência de Constance em relação ao homicídio. Mas, mesmo antes de tudo isso ocorrer, já percebemos que a família vivia isolada do restante do vilarejo: o pai havia construído cercas em volta da casa com avisos de NÃO ULTRAPASSE, entre outras formas de proteção. Na minha opinião, isso acabou gerando um ressentimento da população em relação à família, por acharem que eles eram "ricos" demais para compartilhar a vida com o restante da população. Quando ocorre o homicídio, a ira contra eles aumenta. Se pensarmos que o livro se passa na década de , fica fácil imaginar a natureza dos insultos e sofrimento a que duas mulheres que vivem com um tio dependente tinham que passar. 

Esse frágil equilíbrio parece ser quebrado com o simples toque de uma campainha: um primo chamado Charles surge para visitar a família. Merricat é a única a perceber as segundas intenções dele com essa chegada inesperada e faz de tudo para expurgá-lo, enterrando coisas no quinta,, pendurando objetos, em rituais meio macabros. 

O interessante a pontuar no livro é a maestria com que a personalidade das personagens é construída. Constance é uma mulher doce, apesar de visivelmente transtornada com tudo que aconteceu. Dá sinais de que a qualquer momento vai conseguir sair de casa e enfrentar seus medos. Merricat se vê apavorada com essa possibilidade. Se a personagem não dissesse que tem 18 anos isso nunca poderia ser adivinhado, pois ela te comportamento infantil e visivelmente tem condição mental diferenciada. Ela parece ser um tanto quanto obcecada pela sua irmã e pela rotina que criaram, e faz de tudo para que isso se mantenha. Dona de pensamentos paranoicos e por vezes maldosos, que ela assume sem remorsos, como imaginar estar andando pelos cadáveres das pessoas do povoado ou pensar no tamanho dacova que seria suficiente para enterrar seu primo. Tio Julian é responsável por momentos de risadas ao longo da trama. Merricat Parece viver em um mundo encantado e de fantasias, que ela criou e se refugia, fazendo questão de não deixar a irmã também escapar desse local.

A narrativa é fluida e muito mais que um romance policial, na minha opinião, o mais importante é tentar desvendar o que existe na cabeça das personagens. A autora não nos dá nada de mão beijada, ficando a cargo do leitor tirar as próprias conclusões acerca dos fato que vão sendo apresentados. Vale muito a pena a leitura e posterior análise cuidados, pois à primeira vista pode parecer um romance simplista e sem muitas questões a desvendar, mas que esconde uma riqueza inigualável. Recomendo a leitura!

domingo, 13 de janeiro de 2019

O sol é para todos


Resenha
Livro: O sol é para todos
Autora: Harper Lee
Número de páginas: 315
Ano: 1960

Sempre ouvi falar de O sol é para todos, da autora Harper Lee. Vendo filmes norte americanos com adolescentes, eles sempre haviam lido essa obra para a escola, e foi assim que tive contato com o título. Inicialmente, não sabia muito bem do que se tratava o enredo, mas assim que descobri me interessei. O livro faz jus à sua fama: é um clássico, do início ao fim. Vamos à história.

O livro se passa nos anos 30 do século passado, na cidade fictícia de Maycomb, no estado do Alabama, no sul dos Estados Unidos. O pano de fundo da história é essa cidade que tem seus habitantes mergulhados em preconceitos da pior espécie: racismo, machismo, preconceito contra todos que não se encaixam no molde inexistente e inalcançável de perfeição.

A história é narrada pela pequena Scoutt, Jean Louise Finch, que no começo tem apenas seis anos. Scoutt vive com seu pai, Atticus, um advogado viúvo que cria seus filhos sozinho, e Jem, seu irmão quatro anos mais velho, e também faz parte da família a empregada Calpúrnia, mulher negra que cria as crianças desde sempre, presença constante na história.

No começo do livro, nos deparamos com uma caracterização da sociedade sulista, pelos olhos de uma criança. Isso é o que torna mais interessante, pois a criança, apesar de ser bem madura para a idade, possui uma inocência e candura que olhos adultos jamais conseguiriam descrever. Portanto, é ainda mais tangível e tocável a descrição da sociedade. São extremamente racistas, acreditando que todos as pessoas negras são inferiores à eles; ela fala sobre como é taxada de anormal, pois se veste com roupas de meninos, chama o pai pelo primeiro nome, ou seja, não se encaixa no que é esperado para o comportamento de uma “mocinha” da sua idade.

Após toda a descrição da primeira parte do livro, ficamos conhecendo sua problemática central: Atticus está defendendo um homem negro, chamado Tom Robbinson,  acusado de estuprar uma mulher branca. Os seus filhos sentem na pele o julgamento da sociedade , pois começam a ser hostilizados na rua, seu pai é ameaçado de morte, entre outras barbaridades. Mas, apesar de todas as dificuldades, Atticus não desiste, pois sempre salienta que se não defendesse aquele homem, que ele acredita ser inocente, nunca mais poderia olhar nos olhos de seus filhos da mesma maneira. Nessa hora, o título faz todo o sentido: sendo o sol para todos, o homem acusado tem direito a um julgamento digno e justo, assim como qualquer outra pessoa. 

Ao desenrolar da história, podemos perceber como as provas que supostamente condenam o Tom Robbinson são frágeis e expõem o sistema racista de justiça dos Estados Unidos. A construção do homem negro violento mostra suas chagas nesse livro, pois não poderia ser mais crível  do que a condenação pelo suposto estupro de uma mulher branca.Scoutt narra indignada e ainda capaz de entender tudo com precisão, deixando para nós, adultos que estamos lendo, fazermos as costuras necessárias. Seu irmão Jem, por ser mais velho, chora e sofre ao perceber que se encontra no seio de uma sociedade hipócrita e injusta e como o sistema enxerga cor e classe. Scoutt, apesar de atribuir o comportamento do irmão à uma fase, nos narra isso e podemos tirar nossas próprias conclusões acerca. A forma como os jurados cedem ao clamor popular me faz construir analogias com o Brasil atual, onde temos um sistema judiciário midiático, que cede frente às pressões sociais e não se limita à julgamentos imparciais.

O mais doloroso é saber que essa realidade não mudou, vide as milhares de noticias que observamos tanto nos Estados Unidos como no Brasil, de homens e mulheres negras sendo condenados, presos, e muitas vezes, mortos, pelo Estado com anuência de nossa sociedade, por crimes que sequer cometeram, vocês podem acompanhar alguns casos com os links que deixo abaixo:



O livro é essencial para todos: jovens, adultos, adolescentes, estudantes de Direito. Cada público irá fazer uma leitura baseado em suas vivências. O modo de narrar, o enredo, todo o pacote faz dessa obra um grande clássico internacional. Recomendo a leitura!

2001- Uma odisseia no espaço

                                                               Resenha   Livro: 2001- Uma odisseia no espaço   Autor: Arthur ...