domingo, 18 de novembro de 2018

Éramos seis


Resenha
Livro: Éramos Seis
Autora: Maria Jose Dupré
Número de páginas: 192
Ano de lançamento: 1943

O romance retrata a vida da família de Dona Lola, uma típica vida de dona de casa do começo do século passado. A história se desenrola através de mais de duas décadas e a partir dela é possível acompanhar as mudanças que a sociedade paulistana sofreu ao longo do anos .

Dona Lola vive com seu marido, Júlio, e seus quatro filhos: Carlos, Alfredo, Julinho e Isabel. Todos com personalidades incrivelmente diferentes entre si. Carlos sempre foi um menino amável, estudioso, responsável e trabalhador, apesar de um pouco moralista, e isso é até compreensível, visto que após a morte do pai ele passa a comandar a casa juntamente com sua mãe, mas não avancemos muito; Alfredo é o que se pode chamar de bom-vivã, não gosta de trabalhar nem de estudar, desde pequeno; Julinho sempre gostou de guardar dinheiro e teve faro para os negócios e Isabel era a menina vaidosa, garota dos olhos de ouro do pai.

Podemos acompanhar a trajetória dessa família, e maneira tão bem descrita e construída, com personagens tão complexos, que parece que estamos vivenciando uma história verdadeira, típica daquela época. Julio era um marido machista, mas temos que pensar que o livro se passa nas primeiras décadas do século passado, ou seja, olhar com a perspectiva atual para esses personagens se constitui em anacronismo. Apesar de ser um marido machista, deixar a educação das crianças na mão de sua esposa, viveu e se dedicou ao máximo à sua família; passava  o dia inteiro trabalhando para conseguir sustentar a família e apesar de ser um pouco sem jeito, meio durão, calejado pela vida, percebemos várias atitudes de amor dele para com os filhos.

Vamos observando a vida da família pobre, pelos olhos de Dona Lola. Uma personagem forte, dedicada mãe e esposa amorosa. Sempre fez de tudo para ajudar o marido financeiramente. A família era muito pobre, podemos observar o sacrifício deles para criar os quatro filhos.

O livro levanta algumas polêmicas da época. Naquele tempo não existia a lei do divórcio, que data da década de 70. O que existia era o desquite, mas a pessoa não poderia casar-se novamente. Isabel apaixona-se por um homem desquitado, o que leva ao desgosto de sua família, que acaba não aceitando aquele relacionamento. Apesar do preconceito e repulsa que sofreu, Isabel leva seu amor adiante. O paralelo que consigo traçar é com os relacionamentos homoafetivos atualmente, que em muitas famílias ainda são tratados como algo anormal e visto de maneira pejorativa pela sociedade. 
Espero que um dia isso seja apenas uma lembrança de um tempo em que tivemos que lutar por coisas óbvias. Assim como é super cotidiano hoje uma pessoa se divorciar, torço para que os relacionamentos homoafetivos sejam encarados com essa normalidade futuramente.

Outra polêmica levantada é sobre o comunismo. O Alfredo em determinada época da vida começa a frequentar reuniões comunistas. A gente acaba sentindo como era o tratamento dado a esse assunto na época. Ninguém sabia de fato o que era o comunismo, mas eram contra e as pessoas eram malvistas pela sociedade. Semelhança com a atualidade?

Carlos representa a moralidade cristã e tradicional. Sempre vigiando os irmãos, tomando conta, ainda que em sua visão para o bem, da vida de todos os irmãos, indo contra suas ações que ele considerava imorais. Para mim, fica claro que ele representa a sociedade com seus preconceitos arraigados. Mesmo assim, conseguimos entender essa responsabilidade que Carlos carrega e ele era uma pessoa tão doce e amável, que era difícil ficar com raiva dele.

Ao final da história, temos Dona Lola sozinha, sem maridos, com seus  filhos vivendo longe. Por isso o título: éramos seis. No começo, eram seis pessoas na casa; muitas brincadeiras, refeições na mesa, sacrifícios, mas acima de tudo, muito amor. Podíamos senti-lo emanando naquela família. Ao longo dos anos, mortes acontecem, separações, brigas, terminando a história somente com a matriarca da família e toda a sua solidão, permeada por lembranças felizes e outras nem tanto assim. Recomendo a leitura!

domingo, 4 de novembro de 2018

Jango e eu: memórias de um exílio sem volta


Resenha
Livro: Jango e eu: memórias de um exílio sem volta
Autor: João Vicente Goulart
Ano de lançamento: 2017
Número de páginas: 350

Não sou profunda conhecedora da história do Brasil, mas me interesso por livros de variados assuntos. Confesso que o que me chamou a atenção primeiramente nesse livro foi a foto da capa e o título. É uma fotografia de um menino no colo de um adulto, a criança olhando para seu pai e este contemplando o horizonte. O menino é João Vicente, autor do livro. Essa belíssima fotografia resume bem toda a obra: um relato, repleto de afeto de um filho para com seu pai.

O livro não se propõe a contar a história brasileira, com referências bibliográficas, pois, nas palavras do próprio autor, já existem inúmeras obras que se prestam a esse papel. A obra narra a vida no exilio de Jango, como era conhecido João Goulart, e sua família. O presidente foi deposto pela ditadura de 64 e teve que se exilar fora do país. Primeiramente no Uruguai e depois na Argentina.

Acompanhamos a vida exilada dessa família, tão longe de casa, por motivos tão tristes. Na América Latina vivíamos um período ditatorial, que acabou tomando o Uruguai e a Argentina poucos anos depois, transformando esses países em um perigo para os exilados. João Vicente consegue nos passar a sensação tão viva de isolamento que seu pai e sua mãe viveram, enquanto ele e sua irmã, crianças ainda, ele com 7 anos somente, faziam vários amiguinhos por onde passavam.

A obra é tão bem descrita que parece que estamos assistindo a um filme. São narrados os encontros com amigos ilustres do presidente, como Josué de Castro, Darcy Ribeiro, Paulo Freire, a cantora Maysa, o cineasta Glauber Rocha. É delicioso e extremamente enriquecedor ler sobre essas reuniões com seus amigos, alguns também na condição de exilados e outros que iam para visitar o amigo.  Jango pretendia fazer reformar de base no Brasil - agrária, educacional, política - e foi impedido por uma elite escravocrata, que não perde a chance, desde sempre, de manter seus privilégios. Penso que nosso país poderia ter sido diferente caso Jango tivesse se mantido no poder. Condenava os extremismos, até mesmo da esquerda. Em relação à isso, podemos ficar conhecendo as tensões envolvendo Jango e Brizola, seu cunhado. Enquanto Leonel apostava numa revolta armada contra o regime da ditadura, Jango acreditava em uma possível saída democrática.

Penso que ler essa obra em um momento político como o nosso seja maravilhoso, pois nos faz refletir sobre como a perda das liberdades individuais pode afetar a vida das pessoas. É necessário refletirmos acerca desse assunto, em nossa frágil democracia e o que governos autoritários podem ter como consequência. Poderíamos ter tido reformas de base e atualmente, o Brasil poderia ter menos desigualdade, visto que somos um dos países mais desiguais do mundo. São apenas reflexões, mas vale a pena pensar sobre.

É uma obra apaixonante, lírica, que conta os fatos com um carinho enorme, afinal de contas, é um filho falando sobre o pai. Os dois sempre foram muito companheiros e amigos. Pelos olhos de João Vicente, acabamos conhecendo um homem honesto, benevolente, um autêntico líder e estadista, mas sobretudo um pai, marido e pessoa sensacional. Acredito que a educação é uma ferramenta poderosíssima para transformar o mundo e ler nos ajuda a pensar criticamente, por isso recomendo fortemente a leitura e reflexão


2001- Uma odisseia no espaço

                                                               Resenha   Livro: 2001- Uma odisseia no espaço   Autor: Arthur ...