domingo, 23 de junho de 2019

1984



Resenha
Livro: 1984
Autor: George Orwell
Ano: 2009
Número de páginas: 416
Editora: Companhia das Letras

Guerra é Paz
Liberdade é escravidão
Ignorância é força

Esses são os lemas do Partido, regime de governo que controla a tudo e todos, desde o mais ínfimo pensamento até a maior ação, no ano de 1984, distopia futurística, obra-prima de George Orwell, autor de o também aclamado A Revolução dos Bichos. Antes de abordarmos o livro propriamente dito, é necessário ter em mente quem foi o autor: um homem de esquerda, adepto das ideais socialistas. Quando lançado, o livro foi encarado como uma crítica aos regimes totalitários, de maneira geral. Nos Estados Unidos, por ter sido lançado na época da perseguição aos comunistas (macartismo), foi visto como mais uma ferramenta dessa perseguição.
Mais um olhar mais apurado nos fará perceber que 1984 já está entre nós. Vamos ao enredo. O livro conta a história de Winston Smith, um membro do Partido Externo (algo próximo à nossa classe média), que vive em uma sociedade totalmente controlada pelo governo, o Partido, encarnado na figura do Big Brother (Grande Irmão, reconhece esse nome?). A sociedade é dividida em três classes: aquela à qual pertence Wisnston, a classe mais alta, que seriam os membros do Núcleo do Partido, a elite mais favorecida com o regime e por fim os proletas, a grande massa de trabalhadores. Winston começa a questionar o regime em que vive, de vigilância constante, onde até o mais ínfimo pensamento é passível de ser controlado através de teletelas, aparelhos capazes de transmitir e captar sons e ruídos ambientais ( smart Tv?). Winston conhece Julia, uma jovem sonhadora que odeia o partido e juntos embarcam em uma aventura, junto à uma organização secreta rebelde.
Vários conceitos são apresentados ao longo da trama, como a Novafala, um tipo de dialeto que seria implementado até o final de 2050, próprio do Socing, o regime totalitário do livro. Na Novafala, existia o conceito de duplipensamento, que em linhas gerais, significa conseguir comportar ideias contraditórias e conviver com esse paradoxo. Para exemplificar, nessa sociedade o Ministério do Amor persegue pessoas contrárias ao regime e as mata, o Ministério da Paz promove a guerra, e o Ministério da Verdade reescreve a realidade.
Podemos encontrar muitos paralelos do romance com o momento atual em que vivemos. Afinal de contas, o que seriam as exaustivas fake News, o grande revisionismo histórico observado no mundo e os fatos alternativos de Donaldo Trump senão tentativas de se reescrever a realidade? O que seriam os aparelhos eletrônicos, como smart tv, ou smarthphones, senão as teletelas? O que seriam as redes sociais, senão o Grande Irmão em ação, nos obtendo como produtos?
Acho que o mais perturbador do romance, e por isso mesmo seja um clássico, além do paralelo feito com regimes totalitários que já existiram, é perceber traços de totalitarismo em regimes considerados democráticos, afinal de contas, todos os casos citados no parágrafo anterior ocorrem cotidianamente em democracias. O final do livro não é feliz, mas podemos pensar que na época em que foi escrito havia esse sentimento melancólico e pesado de descontentamento com a situação humana e incerteza em relação ao futuro. Em 2019  o livro completa 70 anos do seu lançamento, que ele possa nos servir para uma reflexão acerca do nosso futuro e sobretudo, do nosso presente. Por todas as razões citadas, recomendo a leitura do livro.

Dica adicional: para quem gosta de ficção científica, recomendo a leitura de mais três romances clássicos do gênero: Laranja Mecânica, Farenheit 451 e Admirável Mundo Novo, todos lidos por mim e com resenhas aqui no blog. Boa leitura e reflexão.

domingo, 2 de junho de 2019

Caminhos de liberdade :a luta pela defesa da selva


Resenha
Livro: Caminhos de Liberdade, A luta pela defesa da selva
Autor: Javier Moro
Ano: 2011
Número de páginas: 460
Editora: Planeta do Brasil

Achei essa obra prima da literatura numa banca que vendia livros pela bagatela de dez reais. Eu, como professora de Biologia, assim que li o nome Chico Mendes na parte de trás do livro me interessei. Não me arrependo de ter comprado.

O livro narra a saga de Chico Mendes- seringueiro, sindicalista, homem de esquerda, ativista pelo meio ambiente- na luta pela defesa da selva. Acompanha a trajetória da família de Chico, desde a juventude de seu pai, até sua morte. O autor narra a vida e luta não só de Chico, como de várias outras pessoas que participaram das lutas , foram companheiras desse ativista durante os anos. Conhecemos Mary Alegretti, uma professora universitária que se dedicou a construir escolas para os seringueiros e teve de enfrentar a ira dos latifundiários, afinal para que pobre empregado precisaria aprender a ler e escrever? Conhecemos Gilson Pescador, um ex padre que lutou nas trincheiras da vida ao lado do companheiro Chico, e apesar de não possuir mais a batina, levou os ensinamentos cristãos a sério e entendia Jesus como homem que foi perseguido, e viveu e morreu pelos pobres. Conhecemos personagens contraditórios, como o matador, ex açougueiro e ex garimpeiro Pernambuco.

Como na vida, os personagens não são unidimensionais, apenas bons ou maus. Todos tem suas contradições e suas qualidades. A exceção talvez fique por conta dos matadores de Chico e grandes latifundiários, preocupados apenas com a acumulação de riqueza em detrimento da exploração da natureza humana e não humana. As atrocidades cometidas pelos latifundiários contra os seringueiros e camponeses é de doer a alma, de arrancar lágrimas de indignação e tristeza. Observamos que os pobres desse país não tem voz e vez, nem direito à nada, nem ao mais básico dos direitos: o de ter uma moradia e garantia de alimentação.

O autor narra com maestria como o Brasil enquanto Estado ao longo dos anos vem tomando iniciativas para favorecer os grandes detentores da terra, deixando seus trabalhadores oprimidos à própria sorte. Acompanhamos o ciclo da borracha, a construção da Transamazônia e todas as consequências drásticas que isso veio a causar para os moradores da floresta e das cidades em volta dessa estrada; acompanhamos o sofrimento dos seringueiros durante a ditadura e sua aproximação com o PT, que representava naquela época a única alternativa de oposição aos militares e de luta nas bases.

O livro atenta para o fato de que o senso comum, a mídia e ate o governo tratam a região da Amazônia como sendo um vazio demográfico, sem gente morando. Sabemos que indígenas e os povos da floresta moram lá e cuidam do seu ambiente há muito tempo.

Chico, assim como as populações tradicionais, pescadores, quebradoras de coco, quilombolas, raízeiras, indígenas, fazem parte de um grupo que tem uma relação com a natureza totalmente diferente da nossa: eles são parte indissociável da natureza. Tem a consciência que para sobreviver, é necessário preservar, pois tiram seu sustento da floresta. Esses povos são responsáveis por reservas de minério, corpos de água sem poluição, solo protegido do agronegócio. Acredito que tenhamos muito a aprender com a maneira com a qual esses povos convivem com a floresta, e parar de tratar a natureza como objeto a ser explorada e dominada.

Conheci através da leitura do livro, toda a luta de Chico Mendes. Me emocionei, ri, chorei, me indignei com seu assassinato. Um povo que não tem memória, está fadado a repetir seus erros. É necessário que resgatemos nossos verdadeiros heróis, e façamos a reflexão de que, após 31 anos da morte de Chico Mendes, os grandes latifundiários continuam a matar os ambientalistas que acreditam em outra lógica de conviver com a natureza, que questiona o modo de produção capitalista. É necessário que saibamos quem foi esse ser humano, que resgatamos suas historicidade, sua materialidade e tenhamos sempre esperança em dias melhores. Recomendo a leitura.


2001- Uma odisseia no espaço

                                                               Resenha   Livro: 2001- Uma odisseia no espaço   Autor: Arthur ...