domingo, 25 de março de 2018

Contato


Resenha
Livro: Contato
Autor: Carl Sagan
Ano de lançamento: 1985

Carl Sagan foi um cientista, astrônomo, astrofísico, cosmólogo, escritor e divulgador científico americano. Durante sua vida, promoveu a busca por vida extraterrestre através do projeto SETI. Foi professor na Universidade Cornell, obtendo seu doutorado em 1960 pela Universidade de Chicago.


O livro Contato pertence ao gênero ficção científica. Sua protagonista, Ellie Arroway, é uma cientista astrônoma, que estuda a vida extraterrestre. Antes de conhecermos a Ellie pesquisadora, tomamos conhecimento de sua trajetória percorrida até o momento atual: ela sempre foi uma criança curiosa e inteligente. Seu pai sempre a incentivou a estudar Ciências, mas morre quando ela era ainda pequena, ficando sua educação à cargo de sua mãe e seu padrasto, um homem machista que acredita que mulheres não deveriam se dedicar à ciência. A Ellie criança adorava estudar e questionar seus professores, que não viam com bons olhos uma menina gostar de estudar ciências, matéria em que se encaixavam somente os meninos.

Apesar de todas as dificuldades da época, em relação ao fato de uma mulher se envolver nas ciências, Ellie consegue estudar e se torna uma pesquisadora referência em sua área. Podemos sentir na pele o machismo que a protagonista sofre em sua área de atuação, visto que, se ainda hoje, mulheres cientistas são vistas com maus olhos, naquela época, as mulheres tinham mais dificuldade ainda em conseguir ser bem sucedidas em suas profissões. Ela nos relata todas as situações constrangedoras pelas quais passa apenas pelo fato de ser mulher. Em nossa sociedade, meninas são levadas à cursar áreas não científicas. Eu, como professora de ciências e Biologia, faço questão que minhas alunas saibam que são perfeitamente capazes de estudar as ciências que quiserem. Nesse sentido, é importante essa representatividade presente em sua obra.

Já adulta, Ellie trabalha no projeto Argus, uma estação montada com o objetivo de fazer contato com vida inteligente fora da terra, se existisse alguma do tipo. Em mais um dia monótono de trabalho, a protagonista identifica uma mensagem enviada por seres que vivem em Vega, um planeta que fica a 26 anos luz da terra. O livro se passa na época da guerra fria, e no começo podemos perceber as disputas que ocorriam entre a União Soviética e os Estados Unidos. É nesse clima de tensão que a trama se desenvolve A partir desse momento, cientistas de todo o mundo se empenham para decifrar a mensagem. Nesse momento, podemos perceber uma tentativa de cooperação entre todos os países do mundo, nos fazendo refletir sobre o sentido da humanidade, e do não sentido de fronteiras na Terra, afinal somos todos habitantes desse mesmo planeta.

A mensagem é decifrada: os seres inteligentes propõem a criação de uma máquina, sem mencionar os objetivos e destino dessa máquina, que é uma nave com cinco lugares. São escolhidos indivíduos de vários países, para haver uma grande representatividade.

No livro, são feitas reflexões riquíssimas sobre o fazer científico, a vida do cientista, que serve para quebrar a ideia do cientista não humano. A ciência positivista transmite ao povo leigo a sensação de que a ciência é neutra e o cientista um robô, que apenas executa o método cientifico. No livro, percebe-se que existem motivações externas para o fazer científico, o contexto sócio histórico, a cultura, religião, vão influenciar no curso da ciência.

São executados maravilhosos debates sobre ciência e religião. Um cientista pode agir como um religioso e um religioso possuir o ceticismo científico? Isso pode sim ocorrer, pois as personagens desse livro não são unilaterais, possuem várias camadas.
É importante destacar que a presidente dos Estados Unidos do livro também é uma mulher, além da protagonista feminina. Ideal para incentivar nossas meninas a se apaixonarem pela ciência.

Sou suspeita para falar de um livro que aborda ciência, pois cursei Ciências Biológicas, sou professora de Ciências, então para mim, ler esse livro foi apaixonante. Além das discussões levantadas, as descrições são feitas de maneira bem detalhada e cinematográfica, levando-nos a imaginar todas as cenas descritas no enredo.

Um livro para ser lido, discutido, ainda mais na época que estamos vivendo, de ódio à ciência. Não é maniqueísta e o final te deixa com muito mais dúvidas do que respostas, perfeito para quem entende que a ciência é movida pelas perguntas. Vale a pena a leitura das mais de 400 páginas.

domingo, 11 de março de 2018

A Incendiária


Resenha
Livro: A Incendiária
Autor: Stephen King
Ano de lançamento: 1980

A Incendiária, de Stephen King, possui um enredo simples e de fácil envolvimento: universitários sem grana aceitam participar, para receber a quantia de 200 dólares, de um experimento na faculdade em que estudam; Um dos estudantes se chama Andy e uma das estudantes tem o nome de Vicky. O experimento foi de uma droga alucinógena chamada Lote 6, e não foram fornecidos maiores dados sobre a substância em questão. Anos depois, Andy e Charlie se casam. Após a experiência, Andy adquire a capacidade de telepatia, ele consegue influenciar atitudes das pessoas, enquanto Vicky possui uma fraca capacidade telecinética. O material genético dos dois sofre modificações a partir da experiência, por isso, quando eles tem uma filha, chamada Charlie, ela acaba herdando esses genes mutados de seus pais. A menina possuía o poder da pirocinesia, que consiste em conseguir atear fogo em quem ou no que desejar.
A partir do momento que a Oficina, órgão do Governo responsável pelas experiências nos universitários, descobre a existência de Charlie, começam a perseguir a família. A história narra a fuga do pai e da filha, pois descobrimos logo no primeiro capítulo do livro que a mãe da menina e esposa de Andy, foi morte à mando dessa mesma instituição.

O livro foi lançado no primeiro ano da década de 80, portanto temos que levar em consideração o contexto histórico em que estava inserido. Na época do lançamento, o mundo estava imerso no cenário da Guerra Fria, um período histórico de disputas e conflitos indiretos entre Estados Unidos e União Soviética, de ordem política, militar, econômica e sobretudo ideológica. Não houve conflito direto entre as duas potências, por isso é denominado de Fria. Estados Unidos tinha o objetivo de criar um soro da verdade para ser utilizado nos prisioneiros durante os interrogatórios, além de criar potenciais armas de destruição, para fazer frente à União Soviética. É nesse contexto que King escreve seu livro. Percebe-se nele a crítica à esses possíveis experimentos realizados, e todas as consequências oriundas deles.

Percebi também uma crítica superficial à sociedade perfeitamente “democrática” e individualista nova iorquina, e estaduninense como um todo, onde as necessidades do coletivo sempre ficam em segundo plano frente às necessidades do indivíduo. Obviamente, as necessidades individuais valorizadas seriam aquelas das pessoas pertencentes às camadas mais altas da sociedade em detrimento das dos indivíduos considerados massa, mão de obra. Podemos traçar um paralelo nesse momento e em outros pontos com o livro Admirável Mundo Novo, do Aldous Huxley, onde temos uma sociedade fortemente hierarquizada e influenciada por esses ideais de segregação, assim como o citado acima , do presente livro analisado.

Como sempre, o mestre King foi extremamente detalhista no desenrolar da trama: seus personagens são muito bem desenvolvidos. Parece que estamos vivendo toda a fuga de pai e filha, conseguimos sentir empatia pelos dois, desejando que tudo dê certo ao final da jornada.

O diferencial do Stephen é a maneira como ele conduz sua obra, nos fazendo acreditar estarmos vivenciando aqueles momentos narrados. No final, não são fornecidos respostas, são geradas mais perguntas, te fazendo pensar em toda a história. Gostei bastante, pois acredito que a literatura deve ter o poder de nos deixar com a pulga atrás da orelha, nos fazendo refletir sobre determinado tema, sob a ótica que não estaríamos experimentando se lêssemos apenas literatura não ficcional. Vale a pena ser lido e discutido.

domingo, 4 de março de 2018

Macunaíma


Resenha
Livro: Macunaíma
Autor: Mário de Andrade
Ano de lançamento: 1928

Macunaíma nasceu já mostrando sua principal característica: preguiça. Nascido  às margens do mítico rio Uraricoera, na floresta amazônica. Era da tribo dos Tapanhumas. Se transforma em homem adulto quando toma banho de mandioca brava. Quando adulto, se apaixona por Ci, Mãe do Mato e tem um filho com ela, que morre ainda bebê.

A mãe do mato, cheia de tristeza após a perda do seu filho, sobe aos céus, se tornando uma estrela. A única lembrança que Macunaíma possui de sua amada é um amuleto, chamado de muiraquitã. O nosso herói sem caráter perde o amuleto e descobre que está em posse de Venceslau Pietro Pietra, o Piamã, gigante que come gente. Com a finalidade de recuperar seu amuleto perdido, Macunaíma parte com seus irmãos, Jiguê e Maanape para São Paulo.

Mário de Andrade foi um importante autor que participou do movimento modernista na literatura, sendo um dos destaques da Semana de Arte Moderna que ocorreu em 1922. Nessa obra, utiliza a oralidade , traços de expressão da língua falada, só que escrita. Mário debocha em vários passagens do livro da norma culta da língua.

Em um dos posfácios presentes no livro, o autor nos conta que escreveu esse livro durante um período de férias de 15 dias e que inicialmente, não tinha muitas pretensões acerca do sucesso dele. Essa obra se tornou um clássico da literatura brasileira, pois é uma metáfora importante sobre a formação do povo brasileiro, um povo que sofreu diversas influências de várias nacionalidades em sua formação. Macunaíma represente nossa gente, nosso povo e como ele foi massacrado pelo gigante Piamã, que representa simbolicamente o povo europeu. O enredo possui ainda metáforas para falar da igreja e dos países do oriente, o capitulo que fala da Vei Sol.

A obra traz explicações para a realidade baseadas em mitos. É explicada a origem do bicho do café, dos dias e noites, das formigas, entre outros. O autor traz uma característica do povo indígena, que explica a realidade baseada em fenômenos da natureza e mitologia, tão presente em nossa formação como brasileiros, que ignoramos. O autor mistura fantasia com realidade, numa ordem não cronológica, que no começo, me fez ficar um pouco perdida, pois não tenho muito costume com esse tipo de narrativa, mas que ao longo do romance, faz total sentido.  Li a obra num ritmo lento, acredito que pelo fato já mencionado anteriormente de não estar tão habituada a este tipo de narrativa, rapsódia que mistura tempos e espações de maneira tão intrínseca e original.

Finalizando, uma obra necessária, divertida e reflexiva. Um clássico da nossa literatura, que recomendo fortemente a leitura.

2001- Uma odisseia no espaço

                                                               Resenha   Livro: 2001- Uma odisseia no espaço   Autor: Arthur ...