domingo, 1 de julho de 2018

Jubiabá


Resenha
Livro: Jubiabá
Autor: Jorge Amado
Ano de lançamento: 1935
Jubiabá é o quarto livro de Jorge Amado que leio. Os três anteriores foram: Dona Flor e seus dois maridos; Capitães da Areia e Tenda dos Milagres. Sou apaixonada pelo estilo de escrita do autor, pelas críticas sociais que sempre estão presentes em suas obras. Com a leitura de Jubiabá, me torno ainda mais admiradora desse grande autor brasileiro. O livro foi escrito quando ele tinha apenas 22 anos. O processo de escrita do livro teve início na Bahia e foi finalizado no Rio de Janeiro.
O livro conta a história de Antônio Balduíno, um dos primeiros protagonistas negros da literatura brasileira. Baldo, como também era conhecido, passou grande parte da sua infância no Morro do Capa Negro, na Bahia. De lá de cima, gostava de observar a cidade, com suas cores, luzes. Foi criado por sua tia Luisa, que foi para ele, pai e mãe, tudo que ele tinha na vida. Baldo passou grande parte de sua vida ouvindo histórias na porta da casa da sua tia. Zé Camarão, uma referência para Baldo, contava ABCs de homens valentes. Um ABC é um tipo de cantiga popular na Bahia. Antônio cresceu com o desejo de possuir ele mesmo um ABC um dia, pois seria valente a tal ponto. Uma figura muito presente na vida de Baldo desde sua tenra infância até a fase adulta é Jubiaba, quem dá nome ao livro. Ele é um pai de santo, que cuidava de toda a comunidade do morro. Resolvia problemas entre famílias, mediava discussões, além de, obviamente, ser um líder religioso respeitadíssimo.
Logo pelo fato do romance levar o nome do pai de santo Jubiabá, e não do protagonista , podemos perceber como esse personagem  é importante na construção da identidade do protagonista. Assim como em todos os livros que li desse autor, o componente religioso é peça fundamental no desenrolar da trama. Os rituais religiosos, a perseguição que existia na época vinda do próprio Estado , contra os professantes das religiões de matrizes africanas, é bem retratada nesse livro, assim como o é em todos os outros. Longe de esgotar o tema e torna-lo repetitivo, Jorge Amado consegue trabalha-lo de maneira peculiar em cada um dos romances, trazendo uma aura de magia em todos os seus livros. Faz total sentido a repetição desse tema em suas obras, visto que Jorge Amado, quando foi deputado federal em 1945 pelo Partido Comunista do Brasil, foi autor da lei de direito à liberdade de culto religioso.
A tia Luisa trabalhava vendendo doces e carregava esses quitutes na cabeça diariamente. Por isso, acaba enlouquecendo. Quando sua tia enlouquece, Baldo é levado para viver com um comendador. Vive algum tempo lá, conformado com sua vida, até ocorrer um episodio que o leva a fugir da casa do comendador. Um fato importante a ser salientado é: nessa casa que Baldo conhece o grande amor de sua vida, Lindinalva, que era filha do homem que o abrigou.
A partir disso, Baldo passa a viver na rua, como mendigo, junto com outras crianças. Nesse ponto, o livro lembra bastante Capitães da Areia. A própria trajetória e comportamento de Antônio Balduíno carrega semelhanças com o chefe dos Capitães da Areia, Pedro Bala. Nesse momento, podemos acompanhar a vida dessas crianças. Uma vez li que Jorge Amado romanceava a vida das crianças de rua em seus livros. Mas Jorge Amado apenas confere protagonismo aos excluídos, mostrando que não é só de sofrimento que essas crianças vivem. Há momentos felizes em suas vidas, momentos de solidariedade e compaixão , os quais Jorge Amado relata. Ele dá voz aos marginalizados, em minha opinião, de maneira muito satisfatória.
Depois desse período, Baldo vira trabalhador nas plantações de fumo. Mas Antônio sempre levava em sua cabeça a ideia de que não seria escravo de senhores. Desde pequeno, ele desejava ser um negro livre e acreditava que sendo trabalhador, era escravo. Sempre viu nos trabalhadores a figura de escravos, vencidos pelo sistema. Por isso, nunca foi seu desejo parar em trabalho algum. Pulava de ocupação em ocupação, vendia seus sambas. Nesse ponto da venda dos sambas podemos perceber uma crítica. Baldo vendia seus sambas bem barato e não sabia o destino de suas letras. Até ouvir uma vez tocando em uma festa e descobrir que o homem para o qual ele vendera sua poesia, lucrava bastante com isso. Podemos perceber uma critica à apropriação nesse ponto. Além de trabalhar nas plantações, Baldo passou um tempo como trabalhador de circo, e lutador de boxe.
Ocorre um fato na trama que leva Baldo a mudar sua trajetória: atendendo à um desejo de Lindinalva, ele acaba tendo que criar o filho do amor de sua vida. Para isso, passa a trabalhar como estivador. Nesse ponto, há uma reviravolta: Baldo acaba descobrindo a força do trabalhador. A partir de uma greve dos operários, Balduíno percebe , se formando politicamente no trabalho, que os donos de fábricas, os burgueses, vivem da exploração das massas e que, o proletariado poderia se unir contra toda essa exploração do capital. Esse é um dos momentos finais do livro, muito emocionante, onde podemos perceber essa transformação no pensamento de Antônio. Apesar de romancear nesse ponto a união dos proletários, são momentos narrados de maneira tão doce, terna, ao mesmo tempo, com paixão, que aquecem o coração daqueles que acreditam na força dos trabalhadores contra a exploração, dos oprimidos pelos opressores.
Apesar de haver um protagonista, a partir do qual toda a história gira, não há somente um narrador na história. Todos os personagens que passam pela trama , deixam sua marca, narram, contam , de alguma maneira, um pedaço do enredo. O(s) narrador(es) é atravessado pelos próprios pensamentos o tempo inteiro, conferindo uma veracidade, de maneira semelhante ao que ocorre em Crime e Castigo, de Dostoiévski.
Por toda a importância dos temas sócias retratados, pela escrita rica em detalhes, que te levam a imaginar exatamente aquelas cenas do livro, vale a pena e muito, a leitura das poucas mais de 200 páginas desse clássico, de um dos mais importantes autores do mundo, que é brasileiro. Vida longa à literatura brasileira!!

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