Resenha
Livro: Favela Gótica
Autor: Fabio Shiva
Ano: 2019
Número de páginas: 279
Editora: Verlidelas
Favela Gótica, romance com pitadas de ficção científica,
distopia, policial e terror. Tudo isso ambientando no nosso Brasil desigual, evidenciando
nossas rachaduras enquanto sociedade. Com enredo envolvente e cenas de tirar o
fôlego, representa uma inovação muito bem-vinda à literatura nacional. Vamos ao
enredo.
Liana é uma adolescente viciada em uma droga chamada Z, que
tem muitas semelhanças com o crack. Como várias outras garotas pobres das
nossas periferias brasileiras, precisa mendigar, se prostituir de diversas
formas a fim de sobreviver e alimentar seu vício. Paralelamente à história de
Liana, acompanhamos os Registros Akáshicos, uma espécie de subnarração que vai
ajudando a encaixar os acontecimentos ao longo da obra.
Liana mora em um casebre numa favela com sua “família”,
pessoas sem laços de sangue que se juntaram a fim de conseguir melhor se manter
nesse local tão cruel. Em uma noite, que poderia acabar como outra qualquer,
Liana presencia um assassinato e acaba sendo perseguida pelos lobisomens, os
policiais. O romance todo trabalha através de metáforas: os policiais são
lobisomens, que se tornam mais agressivos durante a noite, mostrando as
torturas e violência cotidiana à qual os moradores da favela estão submetidos
diariamente; as crianças invisíveis , menores moradores de rua, os quais a
sociedade não consegue enxergar; os zumbis, usuários da droga, tão submersos
nessa situação e viciados quanto os nossos usuários de droga que moram nas
ruas; o próprio sistema de produção da droga é tão sujo e envolve autoridades
que ganham com essa situação quanto na nossa realidade.
Acompanhamos através de um narrador em terceira pessoa, que
se foca na trajetória de Liana, sua aventura, que é ao mesmo tempo uma busca
pela solução de problemas que vão aparecendo ao longo da trama como uma busca
por autoconhecimento, onde ela consegue enxergar o verdadeiro sentido de sua
existência, das trevas para a luz. A narrativa me lembrou alguns livros que já
li, como A mãe, a filha e o espírito da santa, de P. J. Pereira e o clássico de
sci fi Laranja Mecânica, do Anthony Burguess, no modo de narrar a história e na
violência de alguns acontecimentos.
Comecei a leitura e conclui em apenas três dias, tamanha a
ansiedade para saber sobre os acontecimentos. Uma trama envolvente, narrativa
fluida e que de quebra, ainda nos faz pensar sobre as mazelas e chagas da nossa
sociedade. Recomendo fortemente a leitura da obra.