Resenha
Livro: 1984
Autor: George Orwell
Ano: 2009
Número de páginas: 416
Editora: Companhia das Letras
Guerra
é Paz
Liberdade
é escravidão
Ignorância
é força
Esses
são os lemas do Partido, regime de governo que controla a tudo e todos, desde o
mais ínfimo pensamento até a maior ação, no ano de 1984, distopia futurística,
obra-prima de George Orwell, autor de o também aclamado A Revolução dos Bichos.
Antes de abordarmos o livro propriamente dito, é necessário ter em mente quem
foi o autor: um homem de esquerda, adepto das ideais socialistas. Quando
lançado, o livro foi encarado como uma crítica aos regimes totalitários, de
maneira geral. Nos Estados Unidos, por ter sido lançado na época da perseguição
aos comunistas (macartismo), foi visto como mais uma ferramenta dessa
perseguição.
Mais
um olhar mais apurado nos fará perceber que 1984 já está entre nós. Vamos ao
enredo. O livro conta a história de Winston Smith, um membro do Partido Externo
(algo próximo à nossa classe média), que vive em uma sociedade totalmente
controlada pelo governo, o Partido, encarnado na figura do Big Brother (Grande
Irmão, reconhece esse nome?). A sociedade é dividida em três classes: aquela à
qual pertence Wisnston, a classe mais alta, que seriam os membros do Núcleo do
Partido, a elite mais favorecida com o regime e por fim os proletas, a grande
massa de trabalhadores. Winston começa a questionar o regime em que vive, de
vigilância constante, onde até o mais ínfimo pensamento é passível de ser
controlado através de teletelas, aparelhos capazes de transmitir e captar sons
e ruídos ambientais ( smart Tv?). Winston conhece Julia, uma jovem sonhadora
que odeia o partido e juntos embarcam em uma aventura, junto à uma organização
secreta rebelde.
Vários
conceitos são apresentados ao longo da trama, como a Novafala, um tipo de
dialeto que seria implementado até o final de 2050, próprio do Socing, o regime
totalitário do livro. Na Novafala, existia o conceito de duplipensamento, que
em linhas gerais, significa conseguir comportar ideias contraditórias e
conviver com esse paradoxo. Para exemplificar, nessa sociedade o Ministério do
Amor persegue pessoas contrárias ao regime e as mata, o Ministério da Paz
promove a guerra, e o Ministério da Verdade reescreve a realidade.
Podemos
encontrar muitos paralelos do romance com o momento atual em que vivemos.
Afinal de contas, o que seriam as exaustivas fake News, o grande revisionismo
histórico observado no mundo e os fatos alternativos de Donaldo Trump senão
tentativas de se reescrever a realidade? O que seriam os aparelhos eletrônicos,
como smart tv, ou smarthphones, senão as teletelas? O que seriam as redes
sociais, senão o Grande Irmão em ação, nos obtendo como produtos?
Acho
que o mais perturbador do romance, e por isso mesmo seja um clássico, além do
paralelo feito com regimes totalitários que já existiram, é perceber traços de
totalitarismo em regimes considerados democráticos, afinal de contas, todos os
casos citados no parágrafo anterior ocorrem cotidianamente em democracias. O
final do livro não é feliz, mas podemos pensar que na época em que foi escrito
havia esse sentimento melancólico e pesado de descontentamento com a situação
humana e incerteza em relação ao futuro. Em 2019 o livro completa 70 anos do seu lançamento,
que ele possa nos servir para uma reflexão acerca do nosso futuro e sobretudo,
do nosso presente. Por todas as razões citadas, recomendo a leitura do livro.
Dica adicional: para quem
gosta de ficção científica, recomendo a leitura de mais três romances clássicos
do gênero: Laranja Mecânica, Farenheit 451 e Admirável Mundo Novo, todos lidos
por mim e com resenhas aqui no blog. Boa leitura e reflexão.