domingo, 2 de junho de 2019

Caminhos de liberdade :a luta pela defesa da selva


Resenha
Livro: Caminhos de Liberdade, A luta pela defesa da selva
Autor: Javier Moro
Ano: 2011
Número de páginas: 460
Editora: Planeta do Brasil

Achei essa obra prima da literatura numa banca que vendia livros pela bagatela de dez reais. Eu, como professora de Biologia, assim que li o nome Chico Mendes na parte de trás do livro me interessei. Não me arrependo de ter comprado.

O livro narra a saga de Chico Mendes- seringueiro, sindicalista, homem de esquerda, ativista pelo meio ambiente- na luta pela defesa da selva. Acompanha a trajetória da família de Chico, desde a juventude de seu pai, até sua morte. O autor narra a vida e luta não só de Chico, como de várias outras pessoas que participaram das lutas , foram companheiras desse ativista durante os anos. Conhecemos Mary Alegretti, uma professora universitária que se dedicou a construir escolas para os seringueiros e teve de enfrentar a ira dos latifundiários, afinal para que pobre empregado precisaria aprender a ler e escrever? Conhecemos Gilson Pescador, um ex padre que lutou nas trincheiras da vida ao lado do companheiro Chico, e apesar de não possuir mais a batina, levou os ensinamentos cristãos a sério e entendia Jesus como homem que foi perseguido, e viveu e morreu pelos pobres. Conhecemos personagens contraditórios, como o matador, ex açougueiro e ex garimpeiro Pernambuco.

Como na vida, os personagens não são unidimensionais, apenas bons ou maus. Todos tem suas contradições e suas qualidades. A exceção talvez fique por conta dos matadores de Chico e grandes latifundiários, preocupados apenas com a acumulação de riqueza em detrimento da exploração da natureza humana e não humana. As atrocidades cometidas pelos latifundiários contra os seringueiros e camponeses é de doer a alma, de arrancar lágrimas de indignação e tristeza. Observamos que os pobres desse país não tem voz e vez, nem direito à nada, nem ao mais básico dos direitos: o de ter uma moradia e garantia de alimentação.

O autor narra com maestria como o Brasil enquanto Estado ao longo dos anos vem tomando iniciativas para favorecer os grandes detentores da terra, deixando seus trabalhadores oprimidos à própria sorte. Acompanhamos o ciclo da borracha, a construção da Transamazônia e todas as consequências drásticas que isso veio a causar para os moradores da floresta e das cidades em volta dessa estrada; acompanhamos o sofrimento dos seringueiros durante a ditadura e sua aproximação com o PT, que representava naquela época a única alternativa de oposição aos militares e de luta nas bases.

O livro atenta para o fato de que o senso comum, a mídia e ate o governo tratam a região da Amazônia como sendo um vazio demográfico, sem gente morando. Sabemos que indígenas e os povos da floresta moram lá e cuidam do seu ambiente há muito tempo.

Chico, assim como as populações tradicionais, pescadores, quebradoras de coco, quilombolas, raízeiras, indígenas, fazem parte de um grupo que tem uma relação com a natureza totalmente diferente da nossa: eles são parte indissociável da natureza. Tem a consciência que para sobreviver, é necessário preservar, pois tiram seu sustento da floresta. Esses povos são responsáveis por reservas de minério, corpos de água sem poluição, solo protegido do agronegócio. Acredito que tenhamos muito a aprender com a maneira com a qual esses povos convivem com a floresta, e parar de tratar a natureza como objeto a ser explorada e dominada.

Conheci através da leitura do livro, toda a luta de Chico Mendes. Me emocionei, ri, chorei, me indignei com seu assassinato. Um povo que não tem memória, está fadado a repetir seus erros. É necessário que resgatemos nossos verdadeiros heróis, e façamos a reflexão de que, após 31 anos da morte de Chico Mendes, os grandes latifundiários continuam a matar os ambientalistas que acreditam em outra lógica de conviver com a natureza, que questiona o modo de produção capitalista. É necessário que saibamos quem foi esse ser humano, que resgatamos suas historicidade, sua materialidade e tenhamos sempre esperança em dias melhores. Recomendo a leitura.


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