Resenha
Livro: Caminhos de
Liberdade, A luta pela defesa da selva
Autor: Javier Moro
Ano: 2011
Número de páginas: 460
Editora: Planeta do
Brasil
Achei essa obra prima da
literatura numa banca que vendia livros pela bagatela de dez reais. Eu, como
professora de Biologia, assim que li o nome Chico Mendes na parte de trás do
livro me interessei. Não me arrependo de ter comprado.
O livro narra a saga de
Chico Mendes- seringueiro, sindicalista, homem de esquerda, ativista pelo meio
ambiente- na luta pela defesa da selva. Acompanha a trajetória da família de
Chico, desde a juventude de seu pai, até sua morte. O autor narra a vida e luta
não só de Chico, como de várias outras pessoas que participaram das lutas ,
foram companheiras desse ativista durante os anos. Conhecemos Mary Alegretti,
uma professora universitária que se dedicou a construir escolas para os
seringueiros e teve de enfrentar a ira dos latifundiários, afinal para que
pobre empregado precisaria aprender a ler e escrever? Conhecemos Gilson
Pescador, um ex padre que lutou nas trincheiras da vida ao lado do companheiro
Chico, e apesar de não possuir mais a batina, levou os ensinamentos cristãos a
sério e entendia Jesus como homem que foi perseguido, e viveu e morreu pelos
pobres. Conhecemos personagens contraditórios, como o matador, ex açougueiro e
ex garimpeiro Pernambuco.
Como na vida, os
personagens não são unidimensionais, apenas bons ou maus. Todos tem suas
contradições e suas qualidades. A exceção talvez fique por conta dos matadores
de Chico e grandes latifundiários, preocupados apenas com a acumulação de
riqueza em detrimento da exploração da natureza humana e não humana. As
atrocidades cometidas pelos latifundiários contra os seringueiros e camponeses
é de doer a alma, de arrancar lágrimas de indignação e tristeza. Observamos que
os pobres desse país não tem voz e vez, nem direito à nada, nem ao mais básico
dos direitos: o de ter uma moradia e garantia de alimentação.
O autor narra com
maestria como o Brasil enquanto Estado ao longo dos anos vem tomando
iniciativas para favorecer os grandes detentores da terra, deixando seus
trabalhadores oprimidos à própria sorte. Acompanhamos o ciclo da borracha, a
construção da Transamazônia e todas as consequências drásticas que isso veio a
causar para os moradores da floresta e das cidades em volta dessa estrada;
acompanhamos o sofrimento dos seringueiros durante a ditadura e sua aproximação
com o PT, que representava naquela época a única alternativa de oposição aos
militares e de luta nas bases.
O livro atenta para o
fato de que o senso comum, a mídia e ate o governo tratam a região da Amazônia
como sendo um vazio demográfico, sem gente morando. Sabemos que indígenas e os
povos da floresta moram lá e cuidam do seu ambiente há muito tempo.
Chico, assim como as
populações tradicionais, pescadores, quebradoras de coco, quilombolas,
raízeiras, indígenas, fazem parte de um grupo que tem uma relação com a
natureza totalmente diferente da nossa: eles são parte indissociável da
natureza. Tem a consciência que para sobreviver, é necessário preservar, pois
tiram seu sustento da floresta. Esses povos são responsáveis por reservas de
minério, corpos de água sem poluição, solo protegido do agronegócio. Acredito
que tenhamos muito a aprender com a maneira com a qual esses povos convivem com
a floresta, e parar de tratar a natureza como objeto a ser explorada e
dominada.
Conheci através da leitura
do livro, toda a luta de Chico Mendes. Me emocionei, ri, chorei, me indignei
com seu assassinato. Um povo que não tem memória, está fadado a repetir seus
erros. É necessário que resgatemos nossos verdadeiros heróis, e façamos a
reflexão de que, após 31 anos da morte de Chico Mendes, os grandes
latifundiários continuam a matar os ambientalistas que acreditam em outra
lógica de conviver com a natureza, que questiona o modo de produção
capitalista. É necessário que saibamos quem foi esse ser humano, que resgatamos
suas historicidade, sua materialidade e tenhamos sempre esperança em dias
melhores. Recomendo a leitura.
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