Resenha
Livro: Lugar nenhum
Autor: Neil Gaiman
Editora: Conrad
Páginas: 236
Ano: 2010
Editora: Conrad
Páginas: 236
Ano: 2010
Richard
é um típico londrino de classe média, trabalhava e estava noivo de Jéssica. A
maior aventura de sua vida até aquele momento tinha sido o planejamento do
casamento. Em uma determinada noite, quando Richard estava caminhando para
chegar em um jantar de negócios com sua noiva, ajuda uma menina de rua,
aparentemente uma mendiga, que estava sangrando numa calçada, sob os protestos
de sua noiva.
A partir
do momento que Richard ajuda a menina, ele se torna invisível para todas as
outras pessoas. Os táxis não atendem a seus chamados, as pessoas passam por ele
e não o veem. Ele não tem outra alternativa, a não ser seguir a menina para a
Londres de Baixo, uma versão dos esgotos e subterrânea da Londres de Cima, a Londres
Real. Na Londres de Baixo, Richard vive inúmeras aventuras ao lado da menina
que ajudou, Door, cujo dom é abrir portas, que o mudam por completo.
Após viver
na Londres de Baixo, mesmo tendo a possibilidade, Richard não consegue retornar
para sua vida normal. É nesse ponto que reside a genialidade do livro: a
Londres de Baixo é a Londres dos excluídos, dos marginalizados, dos invisíveis,
dos pobres. Quando Richard consegue ver e ajudar uma menina pertencente a essa
Londres, ele mesmo se torna invisível. Fazendo uma analogia aos excluídos e
marginalizados das grandes cidades que são invisíveis para as pessoas, que
passam por eles todos os dias, mas fingem não vê-los, ou estão tão acostumados
com aquela situação, que não os surpreende mais ver pessoas dormindo ao relento,
pedindo dinheiro, convivendo com a fome, o frio e alcoolismo. Coisa que o uma
banda baiana chamada Baiana Sytem também faz em sua música de nome Invisível (https://www.youtube.com/watch?v=2PrQwMFGMUc).
Por que
Richard, quando era habitante da Londres de Cima, ainda conseguiu ver a menina
Door e ajuda-la? Provavelmente por que Richard ainda possuía alguma humanidade,
que o fez enxergar uma excluída. Ao mesmo tempo que os habitantes do submundo
são excluídos, temos grandes nobres, marqueses. Ou seja, apesar de serem
excluídos por toda a sociedade, serem invisibilizados pelo poder público, são
nobres e puros de coração.
A partir
do momento que Richard sai de sua zona de conforto e ajuda a menina, ele não
consegue retornar à sua vida antiga, mostrando que quando passamos a nos
importar com as pessoas, nos envolvendo de verdade, isso provoca mudanças
profundas em nós, que acabam por nos transformar.
Além de
toda essa reflexão social, Gaiman mais uma vez nos traz um mundo de ficção e
fantasia recheado de personagens surpreendentes e muito bem construídos. Podemos
citar como exemplo os vilões Sr Croup e Sr Vandemar, frios, calculistas, porém
bem humorados. A grande caçadora Hunter, forte, obstinada. O marquês de Carabás
é um dos alívios cômicos do livro.
Uma leitura
imperdível. Gaiman novamente me fazendo refletir e me surpreende com um romance
muito bem construído, nos levando a refletir sobre empatia e solidariedade,
sentimentos muito importantes nos dias atuais.