domingo, 6 de agosto de 2017

Número Zero- Umberto Eco

Resenha
Livro: O Número Zero
Autor: Umberto Eco
Ano da primeira publicação: 2015

Uma história de enredo simples - apenas na superfície. Assim eu definiria o romance de Eco, Número Zero. A história se passa em 1992, ano em que ocorreu a operação Mani Pulite, que significa Mãos Limpas, operação que levou à prisão pessoas ricas e poderosas da Itália. Simei, ex professor universitário, fica incumbido de organizar um volume de jornal que nunca será publicado. Um jornal que se destina a difamar, atacar.
Para realizar essa tarefa, Simei contrata Colonna, um homem de 50 anos, que nunca terminou a faculdade e é um escritor frustado; Maia, uma mulher que trabalhava em revistas de fofoca; Bragadoccio, um homem que adora histórias mal contadas e conspirações, entre outros personagens peculiares.

No livro, são feitas reflexões sobre o fazer jornalístico. Como os jornais por muitas vezes, criam ou exageram nas notícias para conseguir conquistar seus leitores. O autor ironiza a prática jornalística que se destina somente à difamação e veiculação de notícias falsas, fazendo-nos refletir, como vem destacado no trecho abaixo:

                                   “Mas os jornais seguem tendências ou as criam?”

Ao longo da trama, podemos perceber como o jornalismo atualmente se alimenta de leituras fáceis, nada complexas, com o objetivo de prender atenção dos seus leitores, não importando muito se a notícia veiculada é realmente verdadeira. Quando alguns redatores do jornal sugerem notícias mais elaboradas, o Simei contra-ataca:

                                 “O leitor precisa de leituras fáceis de serem digeridas.”

Além do genial questionamento à toda classe jornalística, Eco traz outras questões que podem passar despercebidas caso não se preste muita atenção. Pelo fato de ser mulher, sempre me atento na construção das personagens femininas. A Maia, única redatora mulher do suposto Jornal, nunca tem suas ideias aceitas no grupo. Seus colegas de trabalho a desqualificam, tratando-a como louca ou como se seus apontamentos de nada valessem. Maia é uma mulher inteligente e forte, porém, nunca ouvida, retratando o machismo existente não somente na imprensa, como na sociedade como um todo.

Além dos apontamentos já falados, Eco traz uma crítica à expulsão de pessoas de seu local de origem para dar lugar à pessoas ricas, um processo chamado de gentrificação. A transformação do espaço, com posterior expulsão dos moradores locais, o que caracteriza uma crítica à especulação imobiliária, que, no caso do romance, ocorreu em Milão.


Por todos os motivos citados, Número Zero é uma obra que vale a pena ser lida, compartilhada, divulgada e refletida. Configura-se num clássico da literatura de nossos tempos.

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