domingo, 8 de julho de 2018

A Majestade do Xingu


Resenha
Livro: A Majestade do Xingu
Autor: Moacyr Scliar
Ano de lançamento: 1997

Moacyr Scliar nasceu em 1937, em Porto Alegre. Judeu, sua família veio da Rússia, da região de Bessarábia,  tentar a sorte no Brasil. Além de escritor de romances, contos, historias infanto-juvenis, Moacyr também foi um médico sanitarista e professor da Universidade de Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre. Sabendo de toda a sua história, é impossível não traçar paralelos com a obra que está sendo resenhada.

A Majestade do Xingu conta a história de imigrantes russos, assim como a família de  Moacyr, que saem de seu país de origem para tentar possuir uma vida melhor nas Américas. No livro, é relatado como as Pogroms, agressões que aconteciam contra as populações judias na Rússia, contribuiu para as emigrações. O narrador, que não tem nome, conta a história de como conheceu seu grande amigo,Noel Nutels. Ele nos relata que conheceu esse homem ainda criança, os dois, a bordo do navio Madeira, embarcação que os trouxe às Américas. O narrador se apaixona pelo jeito do Noel, despojado, simpático, que conquista a todos. Porém, ao chegar no Brasil, Noel perde seu interesse pelo amigo em função das milhares de novidades existentes no Brasil.

As famílias se separam. A família do Noel se estabelece em Laje do Canhoto enquanto a família do narrador se estabelece em São Paulo, no Bom Retiro. O livro começa com o narrador em um hospital relatando ao médico que cuida dele a história de Noel Nutels. Noel se tornou um famoso médico sanitarista. Essa área da medicina enxerga uma comunidade como um organismo. Não individualizam , o paciente deles é a coletividade. Acredito que um dos motivos pelos quais Moacyr escolheu falar de Noel é por ele mesmo ter sido médico sanitarista. Enfim, Noel se envolveu na luta indígena. Foi viver no Xingu, com sua companheira, e cuidar dos indígenas.

O narrador, em contrapartida, viveu sua vida em função daquele amigo de infância. Ele inventa toda uma vida e situações relacionadas ao Noel, para quebrar o tédio e a monotonia de sua própria vida. Não pode realizar o sonho de seu pai em se formar em medicina, pois o pai morreu cedo, tendo ele ficado responsável pelo sustento da casa, tendo sido obrigado a largar a escola.

É interessante notar o sentido desse tipo de enredo: assim como a história de Noel existe por que alguém conta e um outro escuta, assim são nossas histórias. É necessário relatá-las para tomarem corpo e realidade.

Adoro o estilo de escrita do Moacyr. É o terceiro livro dele que leio e só me apaixono mais. O autor possui uma escrita leve, acessível à maior parte da população. Todos os livros que li dele possuem temática social presente, assim como são romances que descrevem, mesclando ficção e realidade, algum período da história.

Nesse livro não é diferente. Podemos observar a história dos indígenas sendo contada, os primeiros habitantes do Brasil. Conseguimos saber mais sobre a historia dos imigrantes judeus russos e suas motivações na época para essa emigração. Além de, tema sempre presente em suas obras, o comunismo e socialismo estão retratados, não de maneira romântica, mas de maneira crítica.

Esse livro me fez pensar em como os indígenas tem seus direitos desrespeitados desde o momento que os portugueses aqui chegaram até os dias de hoje. A sociedade não entende o modo de vida deles, taxando-os de vagabundos e que não gostam de trabalhar, por possuírem um ritmo de vida que difere do capitalismo vigente.

Gostei bastante da leitura. É um livro curto, dinâmico , mas que merece ser lido. Repleto de metáforas, de fácil entendimento e relatando um pouco da história do Brasil ou histórias dos Brasis, é interessante para suscitar discussões. Fica o questionamento, ao final: quem seria a Majestade do Xingu? O que isso representa? Até a próxima leitura.

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