Resenha
Livro: A Majestade do Xingu
Autor: Moacyr Scliar
Ano de lançamento: 1997
Moacyr Scliar nasceu em
1937, em Porto Alegre. Judeu, sua família veio da Rússia, da região de Bessarábia,
tentar a sorte no Brasil. Além de escritor
de romances, contos, historias infanto-juvenis, Moacyr também foi um médico
sanitarista e professor da Universidade de Universidade
Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre. Sabendo de toda a sua
história, é impossível não traçar paralelos com a obra que está sendo
resenhada.
A Majestade do Xingu
conta a história de imigrantes russos, assim como a família de Moacyr, que saem de seu país de origem para
tentar possuir uma vida melhor nas Américas. No livro, é relatado como as
Pogroms, agressões que aconteciam contra as populações judias na Rússia,
contribuiu para as emigrações. O narrador, que não tem nome, conta a história
de como conheceu seu grande amigo,Noel Nutels. Ele nos relata que conheceu esse
homem ainda criança, os dois, a bordo do navio Madeira, embarcação que os
trouxe às Américas. O narrador se apaixona pelo jeito do Noel, despojado, simpático,
que conquista a todos. Porém, ao chegar no Brasil, Noel perde seu interesse
pelo amigo em função das milhares de novidades existentes no Brasil.
As famílias se separam. A
família do Noel se estabelece em Laje do Canhoto enquanto a família do narrador
se estabelece em São Paulo, no Bom Retiro. O livro começa com o narrador em um
hospital relatando ao médico que cuida dele a história de Noel Nutels. Noel se
tornou um famoso médico sanitarista. Essa área da medicina enxerga uma
comunidade como um organismo. Não individualizam , o paciente deles é a
coletividade. Acredito que um dos motivos pelos quais Moacyr escolheu falar de Noel
é por ele mesmo ter sido médico sanitarista. Enfim, Noel se envolveu na luta indígena.
Foi viver no Xingu, com sua companheira, e cuidar dos indígenas.
O narrador, em
contrapartida, viveu sua vida em função daquele amigo de infância. Ele inventa
toda uma vida e situações relacionadas ao Noel, para quebrar o tédio e a
monotonia de sua própria vida. Não pode realizar o sonho de seu pai em se
formar em medicina, pois o pai morreu cedo, tendo ele ficado responsável pelo
sustento da casa, tendo sido obrigado a largar a escola.
É interessante notar o
sentido desse tipo de enredo: assim como a história de Noel existe por que alguém
conta e um outro escuta, assim são nossas histórias. É necessário relatá-las
para tomarem corpo e realidade.
Adoro o estilo de escrita
do Moacyr. É o terceiro livro dele que leio e só me apaixono mais. O autor
possui uma escrita leve, acessível à maior parte da população. Todos os livros
que li dele possuem temática social presente, assim como são romances que
descrevem, mesclando ficção e realidade, algum período da história.
Nesse livro não é
diferente. Podemos observar a história dos indígenas sendo contada, os
primeiros habitantes do Brasil. Conseguimos saber mais sobre a historia dos
imigrantes judeus russos e suas motivações na época para essa emigração. Além de,
tema sempre presente em suas obras, o comunismo e socialismo estão retratados,
não de maneira romântica, mas de maneira crítica.
Esse livro me fez pensar
em como os indígenas tem seus direitos desrespeitados desde o momento que os
portugueses aqui chegaram até os dias de hoje. A sociedade não entende o modo
de vida deles, taxando-os de vagabundos e que não gostam de trabalhar, por
possuírem um ritmo de vida que difere do capitalismo vigente.
Gostei bastante da
leitura. É um livro curto, dinâmico , mas que merece ser lido. Repleto de metáforas,
de fácil entendimento e relatando um pouco da história do Brasil ou histórias
dos Brasis, é interessante para suscitar discussões. Fica o questionamento, ao
final: quem seria a Majestade do Xingu? O que isso representa? Até a próxima
leitura.
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