Resenha
Livro: Jubiabá
Autor: Jorge Amado
Ano de lançamento: 1935
Jubiabá é o quarto livro de
Jorge Amado que leio. Os três anteriores foram: Dona Flor e seus dois maridos; Capitães
da Areia e Tenda dos Milagres. Sou apaixonada pelo estilo de escrita do autor, pelas
críticas sociais que sempre estão presentes em suas obras. Com a leitura de
Jubiabá, me torno ainda mais admiradora desse grande autor brasileiro. O livro
foi escrito quando ele tinha apenas 22 anos. O processo de escrita do livro
teve início na Bahia e foi finalizado no Rio de Janeiro.
O livro conta a história
de Antônio Balduíno, um dos primeiros protagonistas negros da literatura
brasileira. Baldo, como também era conhecido, passou grande parte da sua
infância no Morro do Capa Negro, na Bahia. De lá de cima, gostava de observar a
cidade, com suas cores, luzes. Foi criado por sua tia Luisa, que foi para ele,
pai e mãe, tudo que ele tinha na vida. Baldo passou grande parte de sua vida ouvindo
histórias na porta da casa da sua tia. Zé Camarão, uma referência para Baldo,
contava ABCs de homens valentes. Um ABC é um tipo de cantiga popular na Bahia.
Antônio cresceu com o desejo de possuir ele mesmo um ABC um dia, pois seria
valente a tal ponto. Uma figura muito presente na vida de Baldo desde sua tenra
infância até a fase adulta é Jubiaba, quem dá nome ao livro. Ele é um pai de
santo, que cuidava de toda a comunidade do morro. Resolvia problemas entre famílias,
mediava discussões, além de, obviamente, ser um líder religioso
respeitadíssimo.
Logo pelo fato do romance
levar o nome do pai de santo Jubiabá, e não do protagonista , podemos perceber
como esse personagem é importante na
construção da identidade do protagonista. Assim como em todos os livros que li
desse autor, o componente religioso é peça fundamental no desenrolar da trama. Os
rituais religiosos, a perseguição que existia na época vinda do próprio Estado
, contra os professantes das religiões de matrizes africanas, é bem retratada
nesse livro, assim como o é em todos os outros. Longe de esgotar o tema e torna-lo
repetitivo, Jorge Amado consegue trabalha-lo de maneira peculiar em cada um dos
romances, trazendo uma aura de magia em todos os seus livros. Faz total sentido
a repetição desse tema em suas obras, visto que Jorge Amado, quando foi
deputado federal em 1945 pelo Partido Comunista do Brasil, foi autor da lei de
direito à liberdade de culto religioso.
A tia Luisa trabalhava
vendendo doces e carregava esses quitutes na cabeça diariamente. Por isso,
acaba enlouquecendo. Quando sua tia enlouquece, Baldo é levado para viver com
um comendador. Vive algum tempo lá, conformado com sua vida, até ocorrer um
episodio que o leva a fugir da casa do comendador. Um fato importante a ser
salientado é: nessa casa que Baldo conhece o grande amor de sua vida,
Lindinalva, que era filha do homem que o abrigou.
A partir disso, Baldo
passa a viver na rua, como mendigo, junto com outras crianças. Nesse ponto, o
livro lembra bastante Capitães da Areia. A própria trajetória e comportamento
de Antônio Balduíno carrega semelhanças com o chefe dos Capitães da Areia,
Pedro Bala. Nesse momento, podemos acompanhar a vida dessas crianças. Uma vez
li que Jorge Amado romanceava a vida das crianças de rua em seus livros. Mas Jorge
Amado apenas confere protagonismo aos excluídos, mostrando que não é só de
sofrimento que essas crianças vivem. Há momentos felizes em suas vidas,
momentos de solidariedade e compaixão , os quais Jorge Amado relata. Ele dá voz
aos marginalizados, em minha opinião, de maneira muito satisfatória.
Depois desse período,
Baldo vira trabalhador nas plantações de fumo. Mas Antônio sempre levava em sua
cabeça a ideia de que não seria escravo de senhores. Desde pequeno, ele desejava
ser um negro livre e acreditava que sendo trabalhador, era escravo. Sempre viu
nos trabalhadores a figura de escravos, vencidos pelo sistema. Por isso, nunca
foi seu desejo parar em trabalho algum. Pulava de ocupação em ocupação, vendia
seus sambas. Nesse ponto da venda dos sambas podemos perceber uma crítica. Baldo
vendia seus sambas bem barato e não sabia o destino de suas letras. Até ouvir
uma vez tocando em uma festa e descobrir que o homem para o qual ele vendera
sua poesia, lucrava bastante com isso. Podemos perceber uma critica à
apropriação nesse ponto. Além de trabalhar nas plantações, Baldo passou um
tempo como trabalhador de circo, e lutador de boxe.
Ocorre um fato na trama
que leva Baldo a mudar sua trajetória: atendendo à um desejo de Lindinalva, ele
acaba tendo que criar o filho do amor de sua vida. Para isso, passa a trabalhar
como estivador. Nesse ponto, há uma reviravolta: Baldo acaba descobrindo a
força do trabalhador. A partir de uma greve dos operários, Balduíno percebe ,
se formando politicamente no trabalho, que os donos de fábricas, os burgueses,
vivem da exploração das massas e que, o proletariado poderia se unir contra
toda essa exploração do capital. Esse é um dos momentos finais do livro, muito
emocionante, onde podemos perceber essa transformação no pensamento de Antônio.
Apesar de romancear nesse ponto a união dos proletários, são momentos narrados
de maneira tão doce, terna, ao mesmo tempo, com paixão, que aquecem o coração daqueles
que acreditam na força dos trabalhadores contra a exploração, dos oprimidos
pelos opressores.
Apesar de haver um
protagonista, a partir do qual toda a história gira, não há somente um narrador
na história. Todos os personagens que passam pela trama , deixam sua marca,
narram, contam , de alguma maneira, um pedaço do enredo. O(s) narrador(es) é
atravessado pelos próprios pensamentos o tempo inteiro, conferindo uma
veracidade, de maneira semelhante ao que ocorre em Crime e Castigo, de Dostoiévski.
Por toda a importância dos
temas sócias retratados, pela escrita rica em detalhes, que te levam a imaginar
exatamente aquelas cenas do livro, vale a pena e muito, a leitura das poucas
mais de 200 páginas desse clássico, de um dos mais importantes autores do
mundo, que é brasileiro. Vida longa à literatura brasileira!!
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