Resenha
Livro: O bebê de Rosemary
Autor: Ira Levin
Ano de lançamento:
1967
Rosemary
é uma típica mulher norte americana do final da década de 70: dona de casa,
sente o desejo de ser uma boa mãe. Seu marido é Guy, um ator egocêntrico,
empenhado em fazer decolar sua carreira, e não mede esforços para que isso
ocorra. Os dois são recém casados e conseguem um apartamento para morar no
edifício Bramford, que tem fama de mal assombrado, pois vários acontecimentos
estranhos já ocorreram nele: suicídios, assassinatos, bruxarias, entre outros
casos peculiares.
Rosemary
é alertada pelo seu amigo de longa data, Hutch, sobre os perigos do lugar, mas
, seu marido Guy, controlador, consegue convencê-la do contrário. Os dois então
se mudam para esse apartamento. Nesse local, conhecem um casal de vizinhos
idosos: Minnie e Roman. Os dois começam a se intrometer na vida do casal, e
esse fato ganha proporções estratosféricas quando Rosemary descobre estar
grávida.
Rosemary
não se recorda do dia que engravidou do marido, pois o mesmo teve relações
sexuais com ela desacordada. Esse é o
primeiro ponto que eu gostaria de ressaltar. Para mim, esse livro é sobre o
machismo. Sobre como nossa sociedade patriarcal controla o corpo e mente das
mulheres. Levando em conta que esse livro foi lançado em 1967, esses efeitos
eram muito mais rígidos, porém encontramos ainda nos dias atuais o machismo.
Apesar da protagonista ser casada com Guy, configura estupro do mesmo jeito,
visto que ele teve relações sexuais com ela sem seu consentimento, de maneira
brutal. O que me chocou foi a reação de Rosemary: apenas se afastou durante um
tempo de seu marido, não entendendo aquilo como abuso físico. Vemos esse tipo
de reação hoje em dia, visto que muitas pessoas acreditam que o marido tem
direitos sobre o corpo da mulher, podendo ter relações sexuais com ela do jeito
que lhe apetecer.
Quando
a protagonista engravida, o casal de idosos passa a controlar sua vida,
juntamente com o marido, Guy, escolhendo até mesmo o médico que seria
responsável pelo parto dela. Rose acredita estar sendo vítima de um complô, um
ritual satânico, envolvendo ela e seu bebê, sem seu consentimento.
É
extremamente interessante esse ponto, pois quando Rosemary tenta denunciar os
abusos que sofre, taxam-a de louca, histérica, dizem estar sofrendo os males da
gravidez. Exatamente a forma como as pessoas reagem quando uma mulher tenta
denunciar seu marido, namorado, companheiro. As pessoas sempre duvidam da
vítima, o que não era diferente na década de 70, pelo contrário, era até pior.
O
livro consegue ser angustiante , na maneira como retrata Rosemary, sendo
controlada e manipulada por todos à sua volta, suportando as dores da gestação,
como consequência do dom divino de ser mãe. Para mim, como mulher, tive vontade
algumas vezes de sacudir a Rose e alertá-la sobre o perigo que sofria, e não
reagia. O autor vai nos dando pistas sobre a solução do mistério ao longo de
toda a trama. Entendi como uma metáfora de uma mulher presa em um
relacionamento abusivo em que todos que estão à volta conseguem perceber isso,
menos ela que está envolvida, numa teia de acontecimentos, e não consegue se
desgrudar. Obra necessária e extremamente atual.
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