domingo, 14 de janeiro de 2018

O Apanhador no Campo de Centeio

Resenha
Livro: O Apanhador no Campo de Centeio
Autor:  J. D. Salinger.
Ano de lançamento: 1951

 O Apanhador no Campo de Centeio, de nome original The Catcher in the Rye é o livro mais conhecido do escritor J. D. Salinger, que foi publicado em formato de revista originalmente, nos anos de 1945 e 1946 e, posteriormente, em 1951, foi lançado em formato de livro.

O livro narra um fim de semana na vida de Holden Caulfield, um jovem de 17 anos, de classe média, morador da cidade de Nova York. Holden já foi expulso de quatro colégios, e no momento atual do livro se encontra em uma clínica de reabilitação (ou casa de repouso, não fica muito claro), narrando fatos que ocorreram no ano anterior quando foi expulso de mais uma escola. Holden fica vagando por Nova York, a fim de não ir para casa e decepcionar mais uma vez os pais.

Com um enredo simples e inteligível, qual seria o motivo desse livro ter se tornado um clássico da literatura mundial? Se fizermos uma leitura apenas superficial, muitas metáforas e críticas sociais serão passadas batidas. Basta uma leitura mais profunda e um esforço maior, intelectualmente falando, para compreendermos o motivo de tanto alarde.

O livro foi escrito no final da década de 40, início de 50. Fazem parte de sua escrita palavrões, gírias da época, além de falar abertamente sobre a sexualidade de jovens. Por esses motivos, foi proibido em vários locais dos Estados Unidos e a censura permanece ainda em alguns lugares até hoje.

Temos que pensar que o livro se passa há mais de 50 anos atrás. A adolescência como um conceito que corresponde ao período de transição entre a infância e fase adulta só foi criado no final do século XIX e se consolidou na década de 60. Portanto, os adolescentes nessa época eram seres “alienígenas” nem crianças, nem adultos, o meio termo, ainda sem nome e características específicas.  Observamos o descontentamento de Holden em relação a isso: muito grande para fazer certos tipos de coisas, muito pequeno para outras, sem conseguir se definir ao certo.  Percebe-se que ele não deseja crescer. Odeia a falsidade do mundo dos adultos, que fingem ser o que não são apenas por aparência, sucesso; ama a inocência das crianças. Ele odeia tudo que se refere ao mundo adulto, em contrapartida, seus amores são infantis: adora conversar com a irmã de dez anos, a história preferida de seu irmão escritor é uma que fala sobre um peixinho, entre outros fatos.

O título se refere à resposta dada à sua irmã, quando é questionado por ela sobre o que quer fazer quando crescer. Ele responde que quer ser apanhador num campo de centeio. Fala que gostaria de ficar vigiando crianças que brincam em um campo de centeio à beira de um precipício, enquanto eles as apanha para não caírem nesse abismo. Podemos entender como a passagem da infância para o mundo adulto. Holden se sente responsável por fazer vigília sobre a inocência das crianças, não deixa-las irem para o abismo do mundo adulto, feito de medos, inseguranças, falsidade, espetacularização.

É interessante notarmos que os personagens do livro não são unidimensionais, sempre bons ou sempre ruins. Possuem várias camadas. A Phoebe, irmã de Holden, é um exemplo desse fato. Com apenas dez anos, é admirada por seu irmão por sua aparente inocência e é descrita por ele como pueril, ingênua. Quando a conhecemos, percebemos que ela é uma criança, que conserva sim seu lado inocente em alguns momentos, mas em outros é extremamente madura e percebe a solidão do irmão, tenta sempre apoiá-lo, compreendê-lo, ser seu suporte. O professor Antolini, que não se relaciona com ele de maneira ditatorial, parece ser um ótimo camarada, mas acaba realizando uma tentativa de abuso contra Holden.

Além da tentativa de abuso mencionada acima, percebemos que não é a primeira vez que o personagem principal se depara com esse tipo de fato: ele menciona que já foi abusado repetidas vezes quando criança. Esse pode ser um dos motivos de sua desconfiança para com os adultos, sua mágoa. Além desse trauma, Holden presenciou o suicídio de um colega de escola.
Além de todos os temas que concernem à vida do indivíduo  Holden, percebemos no livro uma crítica ao sistema que estamos inseridos, em que a maior preocupação das pessoas é o ter, mostrar, do que o ser. Símbolo da contracultura, essa obra prima já adiantava o descontentamento daqueles que não se encaixam, não se deixem vencer, e mesmo assim adoecem , inevitavelmente, em decorrência do nosso modo de vida.

Uma curiosidade: o autor do livro se tornou um recluso. Após o lançamento da obra, nunca mais foi visto em sociedade. Além disso, esse livro foi encontrado nas mãos do assassino de John Lennon, que disse ter se inspirado no personagem principal para cometer o assassinato. Conspirações à parte, o livro vale a pena ser lido para pensarmos os rumos de nossa sociedade atual, fazendo paralelos com nosso passado.

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