Resenha
Livro:
O Apanhador no Campo de Centeio
Ano de lançamento: 1951
O
Apanhador no Campo de Centeio, de nome original The
Catcher in the Rye é o livro mais conhecido
do escritor J. D. Salinger, que foi publicado em formato de revista
originalmente, nos anos de 1945 e 1946 e, posteriormente, em 1951, foi lançado
em formato de livro.
O livro narra um fim de semana na vida de Holden Caulfield,
um jovem de 17 anos, de classe média, morador da cidade de Nova York. Holden já
foi expulso de quatro colégios, e no momento atual do livro se encontra em uma
clínica de reabilitação (ou casa de repouso, não fica muito claro), narrando
fatos que ocorreram no ano anterior quando foi expulso de mais uma escola.
Holden fica vagando por Nova York, a fim de não ir para casa e decepcionar mais
uma vez os pais.
Com um enredo simples e inteligível, qual seria o motivo
desse livro ter se tornado um clássico da literatura mundial? Se fizermos uma
leitura apenas superficial, muitas metáforas e críticas sociais serão passadas
batidas. Basta uma leitura mais profunda e um esforço maior, intelectualmente
falando, para compreendermos o motivo de tanto alarde.
O livro foi escrito no final da década de 40, início de 50.
Fazem parte de sua escrita palavrões, gírias da época, além de falar
abertamente sobre a sexualidade de jovens. Por esses motivos, foi proibido em
vários locais dos Estados Unidos e a censura permanece ainda em alguns lugares
até hoje.
Temos que pensar que o livro se passa há mais de 50 anos
atrás. A adolescência como um conceito que corresponde ao período de transição
entre a infância e fase adulta só foi criado no final do século XIX e se
consolidou na década de 60. Portanto, os adolescentes nessa época eram seres
“alienígenas” nem crianças, nem adultos, o meio termo, ainda sem nome e
características específicas. Observamos
o descontentamento de Holden em relação a isso: muito grande para fazer certos
tipos de coisas, muito pequeno para outras, sem conseguir se definir ao
certo. Percebe-se que ele não deseja
crescer. Odeia a falsidade do mundo dos adultos, que fingem ser o que não são
apenas por aparência, sucesso; ama a inocência das crianças. Ele odeia tudo que
se refere ao mundo adulto, em contrapartida, seus amores são infantis: adora
conversar com a irmã de dez anos, a história preferida de seu irmão escritor é
uma que fala sobre um peixinho, entre outros fatos.
O título se refere à resposta dada à sua irmã, quando é
questionado por ela sobre o que quer fazer quando crescer. Ele responde que
quer ser apanhador num campo de centeio. Fala que gostaria de ficar vigiando
crianças que brincam em um campo de centeio à beira de um precipício, enquanto
eles as apanha para não caírem nesse abismo. Podemos entender como a passagem
da infância para o mundo adulto. Holden se sente responsável por fazer vigília
sobre a inocência das crianças, não deixa-las irem para o abismo do mundo
adulto, feito de medos, inseguranças, falsidade, espetacularização.
É interessante notarmos que os personagens do livro não são
unidimensionais, sempre bons ou sempre ruins. Possuem várias camadas. A Phoebe,
irmã de Holden, é um exemplo desse fato. Com apenas dez anos, é admirada por
seu irmão por sua aparente inocência e é descrita por ele como pueril, ingênua.
Quando a conhecemos, percebemos que ela é uma criança, que conserva sim seu
lado inocente em alguns momentos, mas em outros é extremamente madura e percebe
a solidão do irmão, tenta sempre apoiá-lo, compreendê-lo, ser seu suporte. O
professor Antolini, que não se relaciona com ele de maneira ditatorial, parece
ser um ótimo camarada, mas acaba realizando uma tentativa de abuso contra
Holden.
Além da tentativa de abuso mencionada acima, percebemos que
não é a primeira vez que o personagem principal se depara com esse tipo de
fato: ele menciona que já foi abusado repetidas vezes quando criança. Esse pode
ser um dos motivos de sua desconfiança para com os adultos, sua mágoa. Além
desse trauma, Holden presenciou o suicídio de um colega de escola.
Além de todos os temas que concernem à vida do indivíduo Holden, percebemos no livro uma crítica ao
sistema que estamos inseridos, em que a maior preocupação das pessoas é o ter,
mostrar, do que o ser. Símbolo da contracultura, essa obra prima já adiantava o
descontentamento daqueles que não se encaixam, não se deixem vencer, e mesmo
assim adoecem , inevitavelmente, em decorrência do nosso modo de vida.
Uma curiosidade: o autor do livro se tornou um recluso. Após
o lançamento da obra, nunca mais foi visto em sociedade. Além disso, esse livro
foi encontrado nas mãos do assassino de John Lennon, que disse ter se inspirado no personagem principal para
cometer o assassinato. Conspirações à parte, o livro vale a pena ser lido para
pensarmos os rumos de nossa sociedade atual, fazendo paralelos com nosso
passado.
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