sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

Passado Perfeito ( Estações Havana) - Um livro sórdido e comovente

                                               Foto: Emanoel Daflon, da Daflon Fotografia


Resenha: Passado Perfeito (Inverno)
Autor: Leonardo Padura

Me apaixonei pela escrita de Padura ao ler O homem que amava os cachorros. Apesar de ser um calhamaço de mais de 500 páginas, devorei o livro e me interessei em saber mais sobre a vida e obra de Padura. Passado Perfeito é o primeiro livro da tetralogia Estações Havana, que retrata um ano inteiro, passando pelas quatro estações, na vida de Mário Conde, um detetive policial resolvendo seus casos em Cuba. O ano, não por acaso, é de 1989, ano da queda do Muro de Berlim e que trouxe muitas mudanças na vida de todos cubanos. A tetralogia ganhou uma adaptação pela Netflix, roteirizada pelo próprio Padura e sua mulher Lúcia, que vale a pena ver.

Nesse primeiro volume da série, Padura tem seu Ano Novo interrompido para resolver um caso: Rafael Morín, seu ex colega de pré-universitário e homem modelo, sumiu sem deixar vestígios. A partir desse acontecimento, somos levados a mergulhar na vida de Morín, que tem um passado aparentemente perfeito, e vamos descobrindo ao longo da narrativa que a perfeição realmente não existe.

Combinando com a estação retratada, que é o inverno, o livro possui um tom melancólico, pois Conde , quando começa a investigar a vida de Rafael, para conseguir entender o motivo do seu sumiço, acaba investigando a si mesmo, lembrando dos tempos de pré-universitário, em que Conde e seus amigos  tinham todos os sonhos do mundo, todas as possibilidades. Conhecemos e nos apaixonamos por cada personagem apresentada ao longo da trama. O Magro, amigo de Conde da época da escola, que já não é magro há muito tempo, que vive em uma cadeira de rodas após ser baleado e tem com Conde uma relação de irmandade; Jose, a mãe de Magro, que é como uma segunda mãe para Conde; Tamara, que era paixonite de todos os menino do pré universitário; Manolo, parceiro de Conde; Rafael Morín, com seu passado imaculado e Conde, que possuía o sonho de ser escritor, mas acaba virando policial por questões desconhecidas até mesmo pelo próprio.

Somos apresentados a uma Cuba desconhecida, nem descrita com paixão cega tampouco com ódio. Padura se utiliza de romance policial para retratar a realidade de seu país, seus costumes, por isso esse livro não se encaixa no gênero policial, ele vai além disso.

Conde se lembra muito de seu passado e por muitas vezes esse tempo é idealizado, romantizado, assim como todos nós quando nos lembramos de tempo antigos, Conde também idealiza e romantiza seu passado quando mais jovem.

Todos os detalhes do enredo são descritos de maneira meticulosa. Quando temos uma cena em que os personagens estão comendo, conseguimos quase sentir o gosto da comida, por conta da narrativa contundente. Assim como as cenas de refeição, as cenas de sexo são extremamente bem detalhadas e repletas de sensualidade, ainda que por vezes Conde descreva suas mulheres como objeto de consumo, esperando serem conquistadas pelo macho alfa em questão. Acredito que esse seja o único aspecto que não gostei muito no livro e na série, mas essas situações acabam sendo descritas de maneira tão natural que acabam por serem necessárias e fazerem parte da narrativa, da construção do personagem Conde. Porém, em certo trecho do livro temos uma vingança contra essa objetificação das mulheres.


Um livro para ser DEGUSTADO, de maneira sórdida e comovente!!


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