domingo, 10 de dezembro de 2017

Máscaras ( Verão)- Estações Havana

Resenha
Livro: Máscaras – Estações Havana ( Verão)
Autor: Leonardo Padura

Terceiro livro da tetralogia Estações Havana, que acompanha o cotidiano de um policial investigador, Mário Conde, durante um ano inteiro de 1989, ano da queda do muro de Berlim.

Esse volume narra a investigação que Conde faz de um assassinato de uma travesti que ocorreu no Bosque de Havana, de maneira sórdida, em meio ao verão escaldante de Cuba. Durante a investigação, Conde conhece personagens peculiares, tais como o Alberto Marqués, dramaturgo que ficou proibido de fazer sua arte na década de 70 e 80, pelo fato de ser gay.

Durante todo esse livro, acompanhamos a discussão do sofrimento que gays, lésbicas, travestis, e pessoas transexuais sofreram em Cuba na década de 70, pois eram vistos como pessoas desviantes da norma padrão e pesos para a classe trabalhadora, o que não era muito diferente da forma como os não héteros também eram vistos nesse momento da história em todo o resto do mundo. Porém, acompanhar o sofrimento dessas pessoas nos faz sentir na pele como o preconceito pode ser cruel, pode inclusive matar, tema importantíssimo ainda na sociedade atual.

Como o próprio nome do livro sugere, nessa obra as Máscaras vão caindo uma a uma. Desde a revelação do fato de um homem que todos acreditavam ser o melhor do mundo e acaba se saindo um grandíssimo covarde, até o fato de Alberto Marqués se mostrar um homem extremamente culto, sábio, o que acaba por ajudar a quebrar a visão estereotipada que Conde possuía do público LGBT. Obviamente, Conde é um homem auto-reconhecidamente machista, mas podemos observar seu crescimento ao longo do livro no sentido de enxergar as pessoas LGBTs como sujeitos, dotadas de razão, sentimentos, talento e que não se resumem somente a sua sexualidade e gênero.

As máscaras, assim como no teatro, vão sendo retiradas gradativamente, o que é interessante para refletirmos como, em nossa sociedade da aparência e do espetáculo, às vezes um fato não é o que parece ser. Nas redes sociais, observamos pessoas cem por cento felizes o tempo inteiro, sem problemas, mas não sabemos o que se encontra por trás dessa máscara de felicidade e contemplação. Atrás disso, podem esconder-se pessoas depressivas, infelizes, entediadas. Por isso é importante refletirmos sobre as máscaras que colocamos em nós e nos outros, a fim de parecer desejável e desejado na nossa sociedade do espetáculo.


E ao se levantar
Olhou pros mascarados
Condenou
São todos falsos
Tantas cópias
De um rosto que antes era meu
(Rubel – Mascarados)

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