Resenha
Livro: Máscaras – Estações Havana ( Verão)
Autor: Leonardo Padura
Terceiro livro da
tetralogia Estações Havana, que acompanha o cotidiano de um policial
investigador, Mário Conde, durante um ano inteiro de 1989, ano da queda do muro
de Berlim.
Esse volume narra a
investigação que Conde faz de um assassinato de uma travesti que ocorreu no
Bosque de Havana, de maneira sórdida, em meio ao verão escaldante de Cuba.
Durante a investigação, Conde conhece personagens peculiares, tais como o
Alberto Marqués, dramaturgo que ficou proibido de fazer sua arte na década de
70 e 80, pelo fato de ser gay.
Durante todo esse livro,
acompanhamos a discussão do sofrimento que gays, lésbicas, travestis, e pessoas
transexuais sofreram em Cuba na década de 70, pois eram vistos como pessoas
desviantes da norma padrão e pesos para a classe trabalhadora, o que não era muito diferente da forma como
os não héteros também eram vistos nesse momento da história em todo o resto do
mundo. Porém, acompanhar o sofrimento dessas pessoas nos faz sentir na pele
como o preconceito pode ser cruel, pode inclusive matar, tema importantíssimo
ainda na sociedade atual.
Como o próprio nome do
livro sugere, nessa obra as Máscaras vão caindo uma a uma. Desde a revelação do
fato de um homem que todos acreditavam ser o melhor do mundo e acaba se saindo
um grandíssimo covarde, até o fato de Alberto Marqués se mostrar um homem
extremamente culto, sábio, o que acaba por ajudar a quebrar a visão
estereotipada que Conde possuía do público LGBT. Obviamente, Conde é um homem
auto-reconhecidamente machista, mas podemos observar seu crescimento ao longo
do livro no sentido de enxergar as pessoas LGBTs como sujeitos, dotadas de
razão, sentimentos, talento e que não se resumem somente a sua sexualidade e gênero.
As máscaras, assim como
no teatro, vão sendo retiradas gradativamente, o que é interessante para
refletirmos como, em nossa sociedade da aparência e do espetáculo, às vezes um
fato não é o que parece ser. Nas redes sociais, observamos pessoas cem por
cento felizes o tempo inteiro, sem problemas, mas não sabemos o que se encontra
por trás dessa máscara de felicidade e contemplação. Atrás disso, podem
esconder-se pessoas depressivas, infelizes, entediadas. Por isso é importante
refletirmos sobre as máscaras que colocamos em nós e nos outros, a fim de
parecer desejável e desejado na nossa sociedade do espetáculo.
E ao se levantar
Olhou pros mascarados
Condenou
Olhou pros mascarados
Condenou
São todos falsos
Tantas cópias
De um rosto que antes era meu
(Rubel – Mascarados)
Tantas cópias
De um rosto que antes era meu
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