Resenha: Deuses Americanos
Autor: Neil Gaiman
Sabe
aquele livro que você não consegue parar de ler, e após lê-lo, passa um tempão
refletindo sobre? Esse é Deuses Americanos, obra prima de Neil Gaiman,
ganhadora de diversos prêmios da literatura, entre eles o Prêmio Hugo para
Melhor Romance em 2002.
O
livro começa nos apresentando Shadow, o “homem sombra”, nome que diz muito
sobre a personalidade do protagonista. Apesar de fisicamente ser um homem forte
e notável, sua personalidade é apática, o que explica o apelido que o acompanha
desde a infância. Ele acaba de sair da prisão, depois de três anos recluso,
diretamente para o funeral de sua esposa. Começa a trabalhar para um homem, que
se auto denomina Sr. Wednesday, fazendo a segurança dele. O nome não é mera
coincidência. Na realidade o Sr Wednesday é nada mais nada menos que Odin, cujo
dia de devoção é a quarta feira. (Wednesday em inglês).
O
livro conta a história de Deuses que foram para os Estados Unidos da América
levados pelos imigrantes que lá chegavam. Os deuses do livro são complexos,
porém humanos, de carne e osso, que podem inclusive morrer, mas esse fato não
os torna menos fantásticos. Foi necessário um árduo trabalho de pesquisa do
autor para escrever o livro, pois ao longo da história, é traçado o caminho que
os deuses percorreram para chegarem à América. Foram trazidos nas orações dos
imigrantes, nos pensamentos deles. Entre eles, pode-se citar o Deus Odin, a
deusa Easter, Mama Ji entre outros.
Os
deuses antigos ao longo da narrativa vão se contrapondo aos deuses novos, que
são a Tecnologia, a Internet, a Televisão. Os deuses nada mais são do que
entidades ou “coisas” que adoramos e, assim como a sociedade muda, os deuses
mudam com ela. Os deuses antigos são esquecidos enquanto a cada dia surgem
novos, que mais cedo ou mais tarde, serão substituídos. Os deuses estão em nós.
Nós fazemos parte deles e eles da gente. Todo ser humano tem um pouco de divino
e todo Deus tem um lado humano. Esse paradoxo é bem evidenciado ao longo de
todo o livro.
Por
fim, Deuses Americanos se constitui numa obra muito necessária nos dias atuais,
pois aponta para a sociedade Americana que ela é plural, multicultural. Assim
como nos destaca o Sr Wednesady, ninguém é americano de origem. A sociedade
estadunidense é formada pela junção de vários povos imigrantes, tanto povos que
vieram por vontade própria, como os que vieram obrigados, na condição de
escravos. Dito isso, não há fundamento na xenofobia proclamada por grande parte
da sociedade americana atual, discurso proferido e endossado pelo atual
presidente Donald Trump.
Um
livro com diálogos extremamente bem construídos, uma narrativa fluida e bem
descritiva, que nos possibilita viajar intimamente para a América dos Deuses,
tanto atual quanto a Antiga. Nos traz muitas reflexões sobre o que é ser Deus,
o que é ser humano e sobre a pluralidade cultural de origem da sociedade
americana.
Nenhum comentário:
Postar um comentário