Resenha
Livro: A casa dos espíritos
Autora: Isabel Allende
Número de páginas: 448
Editora: Bertrand Brasil
Isabel Allende é uma escritora nascida no Peru, mas
com nacionalidade chilena. Autora premiada que conta com mais de 20 títulos
escritos, entre romances, contos, poemas e peças. Antes de ser escritora, foi
jornalista em uma revista feminina na juventude, onde tratava temas polêmicos,
como aborto e liberdade sexual feminina. É sobrinha do Salvador Allende,
presidente deposto pela ditadura militar no Chile na década de 70.
Realmente fiquei estagnada, arrepiada, emocionada e no
final, sem palavras com a leitura do romance. O livro conta a história de 3
gerações de uma família, que começa com os Del Valle no começo do século
passado e termina na década de 70 do mesmo século, com os Trueba. Mistura
elementos reais com outros mágicos, típico do realismo mágico. Foi publicado em
1982 durante o boom da literatura latino-americana, na mesma época da
publicação de Cem Anos de Solidão, do Gabriel Garcia Marquez. E não é somente a
época de publicação que esses dois romances dividem. Os dois contam histórias
reais misturados com magia, abordam a trajetória de uma família, e sobretudo,
de um continente. Através da leitura dos livros, podemos conhecer melhor a
América Latina, no caso da Casa dos Espíritos, pelo ponto de vista feminino.
A história começa com os Del Valle, que tinham vários
filhos. A mãe se chamava Nivea e era sufragista, um escândalo naquela época,
uma das primeiras feministas do país. Sua filha preferida era Rosa, que acaba
morrendo. Rosa estava prometida à Esteban Trueba, que após a morte de sua
amada, decide se casar com Clara, que aceita, acreditando ser seu destino.
Clara é uma das personagens mais encantadoras da obra. Era clarividente, falava
com os espíritos como quem conversa com os vivos. Dona de um coração puro e
bom, sempre ajudava muitas pessoas. Pelo seu aspecto divino, não consegue se
conectar com seu marido, Esteban. Esse sim, representando a sociedade burguesa,
machista. Abusou de muitas mulheres, e nesse momento podemos fazer um paralelo
com a colonização da América Latina e em como ocorreram diversos estupros ao
longo desse processo. Eles tiveram três filhos: Jaime, Nicolau e Blanca.
Jaime herda o coração puro da mãe e se torna médico
para ajudar os pobres e necessitados. Se preciso for, tira a roupa do corpo
para dar aos que necessitavam. Nicolau é um
“maluco beleza”, praticante do amor livre e vida sem amarras. Blanca
também é uma mulher forte e se apaixona por um dos empregados da fazendo do
pai, Pedro Tercero Garcia. Pedro é um homem revolucionário, que desde pequeno
desafiava o patrão por acreditar que todos tem o direito à viver com dignidade.
Lutava contra a desigualdade em todas as suas formas e vive na história um amor
avassalador com Blanca, que resulta em uma gravidez e no nascimento de Alba.
Eu me apaixonei pela Alba. Personagem feminista,
idealista, socialista e que acaba desafiando seu avô, que apesar de odiar os
comunistas, não consegue fazer o mesmo com sua neta. Ela e o avô tem uma
relação de amor, pois esse sentimento é assim, contraditório e que não há
concordância entre todas as atitudes dos envolvidos.
A história de desenrola até chegar ao seu clímax, que
consiste na deposição de um presidente de esquerda eleito democraticamente.
Semelhança com a realidade, pois o Chile teve seu presidente Salvador Allende
deposto e viveu quase duas décadas sob o jugo de uma ditadura militar, fato que
se repetiu em toda a América Latina.
Nesse livro, podemos sentir o quanto fomos roubados,
maltratados, e apesar de tudo, conseguimos fazer poesia, enxergar a magia da
vida , mesmo nas coisas mais terríveis. Tudo sob a ótica da mulher, escrito com
muito cuidado e abordando temas sensíveis. Além da escrita ser extremamente
fluida, o enredo é envolvente. A própria história da família é envolvente e
quando fazemos o paralelo com a história da América Latina, isso enriquece mais
ainda. Me apaixonei pelo livro, pela autora e pretende ler mais livros dela.
Vamos ler mulheres, autores latino-americanos, descolonizar o pensamento e a
literatura. Recomendo, obviamente, a leitura do livro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário