domingo, 10 de março de 2019

A casa dos espíritos


Resenha
Livro: A casa dos espíritos
Autora: Isabel Allende
Número de páginas: 448
Editora: Bertrand Brasil

Isabel Allende é uma escritora nascida no Peru, mas com nacionalidade chilena. Autora premiada que conta com mais de 20 títulos escritos, entre romances, contos, poemas e peças. Antes de ser escritora, foi jornalista em uma revista feminina na juventude, onde tratava temas polêmicos, como aborto e liberdade sexual feminina. É sobrinha do Salvador Allende, presidente deposto pela ditadura militar no Chile na década de 70.

Realmente fiquei estagnada, arrepiada, emocionada e no final, sem palavras com a leitura do romance. O livro conta a história de 3 gerações de uma família, que começa com os Del Valle no começo do século passado e termina na década de 70 do mesmo século, com os Trueba. Mistura elementos reais com outros mágicos, típico do realismo mágico. Foi publicado em 1982 durante o boom da literatura latino-americana, na mesma época da publicação de Cem Anos de Solidão, do Gabriel Garcia Marquez. E não é somente a época de publicação que esses dois romances dividem. Os dois contam histórias reais misturados com magia, abordam a trajetória de uma família, e sobretudo, de um continente. Através da leitura dos livros, podemos conhecer melhor a América Latina, no caso da Casa dos Espíritos, pelo ponto de vista feminino.

A história começa com os Del Valle, que tinham vários filhos. A mãe se chamava Nivea e era sufragista, um escândalo naquela época, uma das primeiras feministas do país. Sua filha preferida era Rosa, que acaba morrendo. Rosa estava prometida à Esteban Trueba, que após a morte de sua amada, decide se casar com Clara, que aceita, acreditando ser seu destino. Clara é uma das personagens mais encantadoras da obra. Era clarividente, falava com os espíritos como quem conversa com os vivos. Dona de um coração puro e bom, sempre ajudava muitas pessoas. Pelo seu aspecto divino, não consegue se conectar com seu marido, Esteban. Esse sim, representando a sociedade burguesa, machista. Abusou de muitas mulheres, e nesse momento podemos fazer um paralelo com a colonização da América Latina e em como ocorreram diversos estupros ao longo desse processo. Eles tiveram três filhos: Jaime, Nicolau e Blanca.

Jaime herda o coração puro da mãe e se torna médico para ajudar os pobres e necessitados. Se preciso for, tira a roupa do corpo para dar aos que necessitavam. Nicolau é um  “maluco beleza”, praticante do amor livre e vida sem amarras. Blanca também é uma mulher forte e se apaixona por um dos empregados da fazendo do pai, Pedro Tercero Garcia. Pedro é um homem revolucionário, que desde pequeno desafiava o patrão por acreditar que todos tem o direito à viver com dignidade. Lutava contra a desigualdade em todas as suas formas e vive na história um amor avassalador com Blanca, que resulta em uma gravidez e no nascimento de Alba.

Eu me apaixonei pela Alba. Personagem feminista, idealista, socialista e que acaba desafiando seu avô, que apesar de odiar os comunistas, não consegue fazer o mesmo com sua neta. Ela e o avô tem uma relação de amor, pois esse sentimento é assim, contraditório e que não há concordância entre todas as atitudes dos envolvidos.
A história de desenrola até chegar ao seu clímax, que consiste na deposição de um presidente de esquerda eleito democraticamente. Semelhança com a realidade, pois o Chile teve seu presidente Salvador Allende deposto e viveu quase duas décadas sob o jugo de uma ditadura militar, fato que se repetiu em toda a América Latina.

Nesse livro, podemos sentir o quanto fomos roubados, maltratados, e apesar de tudo, conseguimos fazer poesia, enxergar a magia da vida , mesmo nas coisas mais terríveis. Tudo sob a ótica da mulher, escrito com muito cuidado e abordando temas sensíveis. Além da escrita ser extremamente fluida, o enredo é envolvente. A própria história da família é envolvente e quando fazemos o paralelo com a história da América Latina, isso enriquece mais ainda. Me apaixonei pelo livro, pela autora e pretende ler mais livros dela. Vamos ler mulheres, autores latino-americanos, descolonizar o pensamento e a literatura. Recomendo, obviamente, a leitura do livro.


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