Resenha
Livro: On the road- Pé na estrada
Autor: Jack Kerouac
Ano da edição: 2004
Editora: L&PM Pocket
Expoente da geração Beat, Jack Kerouac sempre gostou
de escrever. Quando pequeno, escrevia diários. Largou a marinha e a faculdade,
com o objetivo de se tornar escritor. A geração beat surgiu a partir do
encontro de três estudantes na Universidade Columbia, o próprio autor, Allen Ginsberg e William Burroughs. Foi um
movimento literário, instalado em uma sociedade altamente conservadora que
sustentava a prosperidade econômica americana pós Segunda Guerra Mundial. Esses
escritores decidiram inaugurar um movimento que ia na contramão da literatura
europeia e estadunidense, com suas prosas bem paragrafadas, pontos e vírgulas
de acordo com a norma padrão da língua. O movimento era contrario ao american way of life, aquele estilo de
vida que serviria de referência para o mundo: o típico americano, com emprego
fixo, casado, com filhos, casa e carro próprios. É bom termos todo esse
contexto em mente quando formos mergulhar nessa obra.
O livro tem um tanto de
autobiográfico: o próprio autor viajou na companhia de seus amigos através dos
Estados Unidos. Acredita-se que ele passou ao todo sete anos nas estradas e
levou apenas três semanas para escrever o livro. Na primeira versão, era um
texto de parágrafo único de 36 metros de comprimento, pois o Jack escreveu em
rolos de papel manteiga colados, para não perder tempo de colocar papel.
Escrito à base de muita benzedrina e café, parece realmente nos transportar
para aqueles momentos. A primeira versão não foi aceita por nenhuma editora,
ele teve que refazer o texto, colocando indesejáveis pontos e virgulas. O enredo é simples: conta as aventuras de
dois amigos viajando. Os personagens são Sal Paradise e Dean Moriarty. Ao longo
da trama, temos vários personagens surgindo, as inúmeras mulheres de Dean, os
outros amigos que pegavam carona em algumas das inúmeras vezes que eles estavam
na estrada. Acredita-se que Sal represente o autor e Dean o amigo com o qual
viajou.
O livro é narrado em um
fluxo. Os diálogos não são marcados por aspas nem travessões, pois fazem parte
da narrativa. Para quem está acostumado à leitura de livros bem formatados,
pode estranhar. Eu estranhei um pouco a velocidade da narrativa, mas é perfeitamente
compreensível. Parece que estamos pedindo carona junto com os personagens,
dirigindo através da América ou adentrando o México, como ocorre na última
viagem deles juntos.
Muitas atitudes dos
personagens podem ser consideradas machistas em alguns momentos,
irresponsáveis, mas é necessário levar em conta o contexto da escrita. Os
personagens se desfizeram de todas as amarras sociais a fim de encontrar
AQUILO: vida, amor, amizade, felicidade, drogas, sexo, companhia, seja lá o que
aquilo represente.
É certamente um livro que te
deixa com vontade de viajar e explorar por aí. As descrições meticulosas de
tudo e de todos nos traz a sensação de que estamos conhecendo, sentindo os
cheiros, gostos, vendo as paisagens, passando perrengues, juntamente com os personagens.
O livro no final, acaba
sendo sobre dois amigos. É lindo e às vezes irritante o modo como Sal Paradise
idolatra o amigo Dean, que é seu ídolo. Dean, no seu jeito louco, também ama
Sal. A amizade que os une acaba sendo o elo do livro, o que importa no final de
tudo é estarmos cercados de gente que amamos. O final do livro considerei uma
metáfora interessante sobre o modo de vida do autor, não falarei para não dar
spoilers, mas prestem atenção.
Para gostar do livro, é
necessário levar em consideração todo o contexto de produção e o que essa obra
e todas as outras do movimento beat representaram. Acredito que uma das funções
da literatura seja criar empatia, que nos coloquemos no lugar do outro. Esse
livro me fez pensar em como seria ser um jovem na década de 40 e 50 nos Estados
Unidos, em meio a uma sociedade altamente tradicional e que vendia um único
modo de vida como certo e detentor da felicidade. Recomendo a leitura, com um
olhar empático. Se deixe levar pelas estradas sinuosas da América, na companhia
de dois grandes amigos. Relaxe e aproveite a leitura.
Nenhum comentário:
Postar um comentário