domingo, 16 de dezembro de 2018

A cor púrpura


Resenha
Livro: A cor púrpura
Autora: Alice Walker
Número de páginas: 258
Ano: 1982

“Eu não sou escritora porque fiz faculdade. Sou escritora porque tenho coração”


Essa foi a fala da escritora Alice Walker, durante a Bienal no Distrito Federal, em 2012, em que esteve presente para inaugurar seu livro: Rompendo o silêncio- Um Poeta Diante do Horror em Ruanda, no Congo Oriental e na Palesina/Israel.  Autora de dezenas de obras de ficção, sendo a mais conhecida A Cor Púrpura. O livro foi adaptado para o cinema, sendo dirigido pelo Steven Spielberg, com a Whoopi Goldberg no papel principal, além de ter ganho o Pulitzer e o National Book Award. Nascida no sul dos Estados Unidos, em 1944, além de autora, é militante pelos direitos civis.

A obra conta a história de Celie, uma mulher negra, moradora do sul dos Estados Unidos, ao longo de mais ou menos 30 anos, na primeira metade do século passado. A narrativa se dá a partir de cartas escritas pela protagonista, primeiramente à Deus e depois à sua irmã.
 Celie sempre foi explorada, ao longo de toda a sua vida. Sofreu as mais inúmeras violências que uma mulher negra poderia sofrer naquele tempo (e ainda hoje). Com 14 anos, começou a ser estuprada pelo pai, fato que resultou em dois filhos, que foram doados pelo homem. A mãe sempre a odiou. Um homem chamado sempre de Sr, vai pedir a mão de sua irmã, Nettie, ao pai, que nega, mas oferece a mão de Celie. Como o Sr precisava de uma pessoa para cuidar de si e dos seus filhos, aceitou.

A partir disso, um novo ciclo de violência começa. O marido a trata como um objeto. Abusa dela psicologicamente e fisicamente. Celie também se refere ao marido como Sr, demonstrando como ela não se vê como esposa e companheira dele, mas como uma empregada, serva. Um dia, o marido  fala para Celie a seguinte frase:

“ Olha só para você. É negra, é pobre, é feia, é mulher. Você não é nada.”

Essa fala evidencia o tipo de tratamento que Celie recebia e que a mulher negra de maneira geral recebe na sociedade, sendo tratada como nada. Essa situação começa a se transformar com a chegada de duas diferentes mulheres na vida da protagonista: Sofia e Shug Avery. Sofia é esposa de Harpo, enteado da protagonista. Uma mulher forte, que não se curva às ordens de homem nenhum e não se deixa ser dominada. Celie não sabe como Sofia faz isso, pois a única coisa que sabe fazer é se manter viva.

“Mas eu num sei como brigar. Tudo o que sei fazer é continuar viva.”

Shug Avery é amante do marido da protagonista. Ela é trazida para a casa do casal, pois está doente, e o Sr faz com que Celie cuida dela. O que poderia se transformar em um tremenda confusão, acaba se tornando em uma possibilidade de auto conhecimento para nossa protagonista. Ela sente despertar em si a sexualidade. Nunca havia se sentido atraída pelos homens, e não sabia que era possível sentir tamanha atração por outro ser humano. As duas desenvolvem um lindo relacionamento, repleto de companheirismo e amizade, que faz com que Celie se reconheça como um ser pensante, uma mulher forte, que já passou por muitas coisas ruins na vida e mesmo assim, é resiliente, aguentou , resistiu.

As duas travam longos diálogos que são transcritos nas cartas de Celie. Uma parte que me deixou bastante impressionada é quando Celie fala para Shug sobre Deus. Ela fala que Deus não a escuta, pois sempre escreveu cartas para ele, em forma de desabafo e nada mudou em sua vida. Transcrevo abaixo um trecho com a fala de Celie:

“ Ela falou, Dona Celie, é melhor você falar baixo. Deus pode te escutar. Eu falei. Deixa ele escutar. Se ele alguma vez escutasse uma pobre mulher negra, o mundo seria um lugar bem diferente, eu posso garantir.”

Em relação à linguagem, é escrito da maneira que a protagonista falava, com traços de oralidade, o que confere mais veracidade à narrativa, pois sendo Celie uma mulher praticamente analfabeta, não faria sentido que suas cartas tivessem sido escritas em linguagem formal.

O livro aborda temas tão diversos quanto atuais: a opressão de gênero; o racismo, latente, que se perpetua até os dias de hoje; a relação lésbica e a bissexual (Shug é bissexual); a maneira como os negros são tratados no continente Africano e nos Estados Unidos, suas discrepâncias e sobretudo, o poder de união das mulheres. Vemos uma certa irmandade entre as mulheres do livro, que sempre se ajudam, a fim de se manterem vivas e sãs em uma sociedade que as odeia. Por todos os motivos, recomendo a leitura. Um livro dolorido, porém, extremamente essencial. Um clássico!

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