Resenha
Livro: A cor púrpura
Autora: Alice Walker
Número de páginas: 258
Ano: 1982
“Eu não sou escritora porque
fiz faculdade. Sou escritora porque tenho coração”
Essa foi a fala da escritora Alice Walker,
durante a Bienal no Distrito Federal, em 2012, em que esteve presente para
inaugurar seu livro: Rompendo o silêncio- Um Poeta Diante do Horror em Ruanda,
no Congo Oriental e na Palesina/Israel.
Autora de dezenas de obras de ficção, sendo a mais conhecida A Cor
Púrpura. O livro foi adaptado para o cinema, sendo dirigido pelo Steven
Spielberg, com a Whoopi Goldberg no papel principal, além de ter ganho o
Pulitzer e o National Book Award. Nascida no sul dos Estados Unidos, em 1944,
além de autora, é militante pelos direitos civis.
A obra conta a história de Celie, uma mulher
negra, moradora do sul dos Estados Unidos, ao longo de mais ou menos 30 anos,
na primeira metade do século passado. A narrativa se dá a partir de cartas
escritas pela protagonista, primeiramente à Deus e depois à sua irmã.
Celie
sempre foi explorada, ao longo de toda a sua vida. Sofreu as mais inúmeras
violências que uma mulher negra poderia sofrer naquele tempo (e ainda hoje).
Com 14 anos, começou a ser estuprada pelo pai, fato que resultou em dois
filhos, que foram doados pelo homem. A mãe sempre a odiou. Um homem chamado
sempre de Sr, vai pedir a mão de sua irmã, Nettie, ao pai, que nega, mas
oferece a mão de Celie. Como o Sr precisava de uma pessoa para cuidar de si e
dos seus filhos, aceitou.
A partir disso, um novo ciclo de violência
começa. O marido a trata como um objeto. Abusa dela psicologicamente e
fisicamente. Celie também se refere ao marido como Sr, demonstrando como ela
não se vê como esposa e companheira dele, mas como uma empregada, serva. Um dia,
o marido fala para Celie a seguinte
frase:
“
Olha só para você. É negra, é pobre, é feia, é mulher. Você não é nada.”
Essa fala evidencia o tipo de tratamento que
Celie recebia e que a mulher negra de maneira geral recebe na sociedade, sendo
tratada como nada. Essa situação começa a se transformar com a chegada de duas
diferentes mulheres na vida da protagonista: Sofia e Shug Avery. Sofia é esposa
de Harpo, enteado da protagonista. Uma mulher forte, que não se curva às ordens
de homem nenhum e não se deixa ser dominada. Celie não sabe como Sofia faz
isso, pois a única coisa que sabe fazer é se manter viva.
“Mas
eu num sei como brigar. Tudo o que sei fazer é continuar viva.”
Shug Avery é amante do marido da protagonista.
Ela é trazida para a casa do casal, pois está doente, e o Sr faz com que Celie
cuida dela. O que poderia se transformar em um tremenda confusão, acaba se tornando
em uma possibilidade de auto conhecimento para nossa protagonista. Ela sente
despertar em si a sexualidade. Nunca havia se sentido atraída pelos homens, e
não sabia que era possível sentir tamanha atração por outro ser humano. As duas
desenvolvem um lindo relacionamento, repleto de companheirismo e amizade, que
faz com que Celie se reconheça como um ser pensante, uma mulher forte, que já
passou por muitas coisas ruins na vida e mesmo assim, é resiliente, aguentou ,
resistiu.
As duas travam longos diálogos que são
transcritos nas cartas de Celie. Uma parte que me deixou bastante impressionada
é quando Celie fala para Shug sobre Deus. Ela fala que Deus não a escuta, pois
sempre escreveu cartas para ele, em forma de desabafo e nada mudou em sua vida.
Transcrevo abaixo um trecho com a fala de Celie:
“
Ela falou, Dona Celie, é melhor você falar baixo. Deus pode te escutar. Eu
falei. Deixa ele escutar. Se ele alguma vez escutasse uma pobre mulher negra, o
mundo seria um lugar bem diferente, eu posso garantir.”
Em relação à linguagem, é escrito da maneira que
a protagonista falava, com traços de oralidade, o que confere mais veracidade à
narrativa, pois sendo Celie uma mulher praticamente analfabeta, não faria
sentido que suas cartas tivessem sido escritas em linguagem formal.
O livro aborda temas tão diversos quanto atuais:
a opressão de gênero; o racismo, latente, que se perpetua até os dias de hoje;
a relação lésbica e a bissexual (Shug é bissexual); a maneira como os negros
são tratados no continente Africano e nos Estados Unidos, suas discrepâncias e
sobretudo, o poder de união das mulheres. Vemos uma certa irmandade entre as
mulheres do livro, que sempre se ajudam, a fim de se manterem vivas e sãs em
uma sociedade que as odeia. Por todos os motivos, recomendo a leitura. Um livro
dolorido, porém, extremamente essencial. Um clássico!
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