Resenha
Livro: Todo
Dia
Autor: David
Levithan
Ano de
lançamento: 2012
Número de
páginas: 280
Todos os
dias , A acorda em um corpo diferente. Tem 16 anos e toda sua vida foi assim.
Uns dias acorda no corpo de meninas que gostam de meninos, outros no corpo de
meninas que gostam de meninas, meninos que gostam de meninos , no corpo de
pessoas brancas, negras, pobres, ricas, enfim, a única certeza é que a pessoa
terá a mesma idade de A. Quando A era pequeno, já havia percebido que tinha
famílias diferentes a cada dia, mas achava que isso fosse o normal para todos.
Conforme foi crescendo, foi começando a entender sua condição.
Imagine não
possuir corpo, somente uma essência? Não possuir gênero, família, amigos? Assim
vive A. Não se importa muito com a situação. Já desistiu de tentar entendê-la.
Vive conforme suas regras: tentar não se apegar e tentar não interferir tanto
na vida da pessoa que o abriga, afinal, ele é apenas um hospedeiro por 24
horas. Mas tudo isso muda quando ele ocupa o corpo de um garoto chamado Justin
e se apaixona por sua namorada, Rhiannon. A partir desse momento, A muda suas
regras e passa a querer viver o amor ao lado dessa menina por quem está
apaixonada (o).
A premissa
do livro por si só já chama atenção, pois é muito diferente de tudo que estamos
acostumados a ler. Acredito que a principal mensagem do livro seja sobre
empatia. Será que somos capazes de amar alguém que muda de corpo todos os dias?
Afinal, amamos corpos ou essências? Você continuaria a amar seu marido, esposa,
namorada(o) se isso ocorresse? É interessante colocar esse debate em questão.
Podemos estendê-lo para discutir identidade de gênero e orientação sexual.
Identidade de gênero é como você se identifica no mundo, de acordo com os
papeis de gênero estabelecidos na sociedade que você vive. Homem, mulher, não
binário. Já orientação sexual diz respeito à quem você se atrai, por quem você
sente carinho. A diferença entre esses
dois conceitos fica bem exemplificada nas situações do livro.
A já acordou
no corpo de pessoas suicidas, drogadas. Uma diversidade enorme de vidas. Os
adolescentes que lerem o livro vão se identificar, provavelmente, com algumas
das situações vividas pelo(a) protagonista. Afinal, são fatos que fazem parte
da vida da maior parte das pessoas de 16 anos. Nisso, o livro cumpre um papel
crucial: de fazer o leitor se colocar no lugar das pessoas, praticando a identificação
emocional com o outro, que não é você. O autor trabalha esses problemas
cotidianos de maneira não sensacionalista e panfletária, a meu ver, uma
abordagem correta dos temas. O sentimento juvenil de não se encaixar em lugar
nenhum, de não se sentir completo, de construção de identidade, é bem
representado pelas várias vidas do personagem.
Rhiannon e A
irão viver um romance intenso e arrebatador. Mas será que Rhiannon consegue
amar além da capa, além da casca do corpo? Ela é uma personagem nada maniqueísta,
possui muitas camadas e é dotada de realidade, pois somos seres humanos,
passíveis de erros e contradições. Mais um ponto positivo para o romance.
Por tudo que
foi explicitado acima, recomendo fortemente a leitura do romance. É
relativamente curto, perfeito para jovens adultos e adolescentes, especialmente
esses últimos, que estão em constante processo de construção de identidades.
Aliás, quem não está se construindo e reconstruindo o tempo inteiro? Livro
gostoso de ler, fluido, dinâmico, e que nos faz refletir sobre questões sérias
e urgentes, de maneira leve. Acredito que a mensagem principal, dentre tantas
outras, seja: pratiquemos empatia! Só ela nos salva! Deixo vocês com uma
citação que achei extremamente marcante.
“Não sei como isso funciona, nem o
porquê. Parei de tentar entender há muito tempo. Nunca vou compreender, não
mais do que qualquer pessoa normal entenderá a própria existência. Depois de
algum tempo é preciso aceitar o fato de que você simplesmente existe. ”
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