domingo, 5 de agosto de 2018

Todo dia


Resenha
Livro: Todo Dia
Autor: David Levithan
Ano de lançamento: 2012
Número de páginas: 280

Todos os dias , A acorda em um corpo diferente. Tem 16 anos e toda sua vida foi assim. Uns dias acorda no corpo de meninas que gostam de meninos, outros no corpo de meninas que gostam de meninas, meninos que gostam de meninos , no corpo de pessoas brancas, negras, pobres, ricas, enfim, a única certeza é que a pessoa terá a mesma idade de A. Quando A era pequeno, já havia percebido que tinha famílias diferentes a cada dia, mas achava que isso fosse o normal para todos. Conforme foi crescendo, foi começando a entender sua condição.

Imagine não possuir corpo, somente uma essência? Não possuir gênero, família, amigos? Assim vive A. Não se importa muito com a situação. Já desistiu de tentar entendê-la. Vive conforme suas regras: tentar não se apegar e tentar não interferir tanto na vida da pessoa que o abriga, afinal, ele é apenas um hospedeiro por 24 horas. Mas tudo isso muda quando ele ocupa o corpo de um garoto chamado Justin e se apaixona por sua namorada, Rhiannon. A partir desse momento, A muda suas regras e passa a querer viver o amor ao lado dessa menina por quem está apaixonada (o).

A premissa do livro por si só já chama atenção, pois é muito diferente de tudo que estamos acostumados a ler. Acredito que a principal mensagem do livro seja sobre empatia. Será que somos capazes de amar alguém que muda de corpo todos os dias? Afinal, amamos corpos ou essências? Você continuaria a amar seu marido, esposa, namorada(o) se isso ocorresse? É interessante colocar esse debate em questão. 

Podemos estendê-lo para discutir identidade de gênero e orientação sexual. Identidade de gênero é como você se identifica no mundo, de acordo com os papeis de gênero estabelecidos na sociedade que você vive. Homem, mulher, não binário. Já orientação sexual diz respeito à quem você se atrai, por quem você sente carinho.  A diferença entre esses dois conceitos fica bem exemplificada nas situações do livro.

A já acordou no corpo de pessoas suicidas, drogadas. Uma diversidade enorme de vidas. Os adolescentes que lerem o livro vão se identificar, provavelmente, com algumas das situações vividas pelo(a) protagonista. Afinal, são fatos que fazem parte da vida da maior parte das pessoas de 16 anos. Nisso, o livro cumpre um papel crucial: de fazer o leitor se colocar no lugar das pessoas, praticando a identificação emocional com o outro, que não é você. O autor trabalha esses problemas cotidianos de maneira não sensacionalista e panfletária, a meu ver, uma abordagem correta dos temas. O sentimento juvenil de não se encaixar em lugar nenhum, de não se sentir completo, de construção de identidade, é bem representado pelas várias vidas do personagem.

Rhiannon e A irão viver um romance intenso e arrebatador. Mas será que Rhiannon consegue amar além da capa, além da casca do corpo? Ela é uma personagem nada maniqueísta, possui muitas camadas e é dotada de realidade, pois somos seres humanos, passíveis de erros e contradições. Mais um ponto positivo para o romance.

Por tudo que foi explicitado acima, recomendo fortemente a leitura do romance. É relativamente curto, perfeito para jovens adultos e adolescentes, especialmente esses últimos, que estão em constante processo de construção de identidades. Aliás, quem não está se construindo e reconstruindo o tempo inteiro? Livro gostoso de ler, fluido, dinâmico, e que nos faz refletir sobre questões sérias e urgentes, de maneira leve. Acredito que a mensagem principal, dentre tantas outras, seja: pratiquemos empatia! Só ela nos salva! Deixo vocês com uma citação que achei extremamente marcante.


“Não sei como isso funciona, nem o porquê. Parei de tentar entender há muito tempo. Nunca vou compreender, não mais do que qualquer pessoa normal entenderá a própria existência. Depois de algum tempo é preciso aceitar o fato de que você simplesmente existe. ”

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