Resenha
Livro: A droga da Obediência
Autor: Pedro Bandeira
Li alguns livros da coleção dos Karas quando era
criança. Fiz a leitura através da biblioteca da escola. Sempre me identifiquei
com o ato de ler. Esse foi um dos livros que me cativou na infância e fez
firmar em mim o gosto pela leitura. Decidi reler a coleção dos Karas, agora com
23 anos. Com um toque de nostalgia e medo, por perceber que a leitura não era
nada daquilo que minhas doces lembranças da infância me proporcionavam.
Ledo engano. O livro foi extremamente revolucionário
em sua época e continua o sendo atualmente. Não me decepcionei em nada. O livro
é exatamente do jeito que me recordo, com o adendo de que hoje, adulta, amadurecida,
consegui perceber questões que não notei na minha primeira leitura.
Os Karas, o avesso dos coroas, o contrário dos
caretas. Eles são um grupo de cinco estudantes que estudam em umas das melhores
escolas de São Paulo e se reúnem para resolver mistérios. Nessa obra, os amigos
( Miguel, Calú, Crânio, Magrí e Chumbinho) enfrentam o maligno Doutor Q.I., que
criou uma droga que faz com que todos obedeçam cegamente suas ordens. Essa droga
estava sendo testada em jovens das escolas mais caras de São Paulo. A partir
disso, vivem grandes aventuras com o objetivo de solucionar esse caso.
Temos que lembrar a época em que esse livro foi lançado:
1984. Penúltimo ano da ditadura. Bandeira nos faz refletir sobre a ordem
imposta, sobre ditadura, através de um livro infanto-juvenil. Os jovens se
tornam obedientes, e essa obediência é conseguida através de mecanismos de
coerção empregados neles. A metáfora é muito bem feita e nos leva a pensar.
Bandeira promove reflexões sobre a obediência,
controle sobre nossos corpos, nossas dores e sofrimentos. Podemos perceber uma
clara crítica às ditaduras, aos regimes autoritários que não nos permitem
questionar. Trago um trecho em que o temido Doutor Q. I. fala sobre o objetivo
da criação da droga:
“Nós queremos uma sociedade perfeita como a das
formigas, onde cada um conheça seu lugar e nele permaneça, produzindo aquilo
que deve produzir, cumprindo aquilo que deve cumprir.”
Uma leitura clássica, que deve ser lida e apreciada em
todas as idades. As crianças irão curtir as aventuras e os adultos conseguirão
refletir mais profundamente acerca da história. Termino minha resenha com esse
trecho de fala do líder dos Karas:
“Eu só entendo que minha capacidade de criticar tudo o
que eu ouço e vejo e a minha capacidade
de contestar tudo que descubro de errado é o que fazem de mim um ser humano. É a
minha capacidade de desobedecer que faz de mim um homem.”
Meu desejo é que possamos sempre desobedecer, desafiar
a ordem vigente, criticar. Que tenhamos sempre a liberdade de questionar!
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