domingo, 3 de setembro de 2017

O avesso dos coroas, o contrário dos caretas

Resenha
Livro: A droga da Obediência
Autor: Pedro Bandeira


Li alguns livros da coleção dos Karas quando era criança. Fiz a leitura através da biblioteca da escola. Sempre me identifiquei com o ato de ler. Esse foi um dos livros que me cativou na infância e fez firmar em mim o gosto pela leitura. Decidi reler a coleção dos Karas, agora com 23 anos. Com um toque de nostalgia e medo, por perceber que a leitura não era nada daquilo que minhas doces lembranças da infância me proporcionavam.
Ledo engano. O livro foi extremamente revolucionário em sua época e continua o sendo atualmente. Não me decepcionei em nada. O livro é exatamente do jeito que me recordo, com o adendo de que hoje, adulta, amadurecida, consegui perceber questões que não notei na minha primeira leitura.
Os Karas, o avesso dos coroas, o contrário dos caretas. Eles são um grupo de cinco estudantes que estudam em umas das melhores escolas de São Paulo e se reúnem para resolver mistérios. Nessa obra, os amigos ( Miguel, Calú, Crânio, Magrí e Chumbinho) enfrentam o maligno Doutor Q.I., que criou uma droga que faz com que todos obedeçam cegamente suas ordens. Essa droga estava sendo testada em jovens das escolas mais caras de São Paulo. A partir disso, vivem grandes aventuras com o objetivo de solucionar esse caso.
Temos que lembrar a época em que esse livro foi lançado: 1984. Penúltimo ano da ditadura. Bandeira nos faz refletir sobre a ordem imposta, sobre ditadura, através de um livro infanto-juvenil. Os jovens se tornam obedientes, e essa obediência é conseguida através de mecanismos de coerção empregados neles. A metáfora é muito bem feita e nos leva a pensar.
Bandeira promove reflexões sobre a obediência, controle sobre nossos corpos, nossas dores e sofrimentos. Podemos perceber uma clara crítica às ditaduras, aos regimes autoritários que não nos permitem questionar. Trago um trecho em que o temido Doutor Q. I. fala sobre o objetivo da criação da droga:

                   “Nós queremos uma sociedade perfeita como a das formigas, onde cada um conheça seu                       lugar e nele permaneça, produzindo aquilo que deve produzir, cumprindo aquilo que                              deve cumprir.”

Uma leitura clássica, que deve ser lida e apreciada em todas as idades. As crianças irão curtir as aventuras e os adultos conseguirão refletir mais profundamente acerca da história. Termino minha resenha com esse trecho de fala do líder dos Karas:

                 “Eu só entendo que minha capacidade de criticar tudo o que eu ouço e vejo e  a minha                          capacidade de contestar tudo que descubro de errado é o que fazem de mim um ser                              humano. É a minha capacidade de desobedecer que faz de mim um homem.”


Meu desejo é que possamos sempre desobedecer, desafiar a ordem vigente, criticar. Que tenhamos sempre a liberdade de questionar!

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