domingo, 13 de janeiro de 2019

O sol é para todos


Resenha
Livro: O sol é para todos
Autora: Harper Lee
Número de páginas: 315
Ano: 1960

Sempre ouvi falar de O sol é para todos, da autora Harper Lee. Vendo filmes norte americanos com adolescentes, eles sempre haviam lido essa obra para a escola, e foi assim que tive contato com o título. Inicialmente, não sabia muito bem do que se tratava o enredo, mas assim que descobri me interessei. O livro faz jus à sua fama: é um clássico, do início ao fim. Vamos à história.

O livro se passa nos anos 30 do século passado, na cidade fictícia de Maycomb, no estado do Alabama, no sul dos Estados Unidos. O pano de fundo da história é essa cidade que tem seus habitantes mergulhados em preconceitos da pior espécie: racismo, machismo, preconceito contra todos que não se encaixam no molde inexistente e inalcançável de perfeição.

A história é narrada pela pequena Scoutt, Jean Louise Finch, que no começo tem apenas seis anos. Scoutt vive com seu pai, Atticus, um advogado viúvo que cria seus filhos sozinho, e Jem, seu irmão quatro anos mais velho, e também faz parte da família a empregada Calpúrnia, mulher negra que cria as crianças desde sempre, presença constante na história.

No começo do livro, nos deparamos com uma caracterização da sociedade sulista, pelos olhos de uma criança. Isso é o que torna mais interessante, pois a criança, apesar de ser bem madura para a idade, possui uma inocência e candura que olhos adultos jamais conseguiriam descrever. Portanto, é ainda mais tangível e tocável a descrição da sociedade. São extremamente racistas, acreditando que todos as pessoas negras são inferiores à eles; ela fala sobre como é taxada de anormal, pois se veste com roupas de meninos, chama o pai pelo primeiro nome, ou seja, não se encaixa no que é esperado para o comportamento de uma “mocinha” da sua idade.

Após toda a descrição da primeira parte do livro, ficamos conhecendo sua problemática central: Atticus está defendendo um homem negro, chamado Tom Robbinson,  acusado de estuprar uma mulher branca. Os seus filhos sentem na pele o julgamento da sociedade , pois começam a ser hostilizados na rua, seu pai é ameaçado de morte, entre outras barbaridades. Mas, apesar de todas as dificuldades, Atticus não desiste, pois sempre salienta que se não defendesse aquele homem, que ele acredita ser inocente, nunca mais poderia olhar nos olhos de seus filhos da mesma maneira. Nessa hora, o título faz todo o sentido: sendo o sol para todos, o homem acusado tem direito a um julgamento digno e justo, assim como qualquer outra pessoa. 

Ao desenrolar da história, podemos perceber como as provas que supostamente condenam o Tom Robbinson são frágeis e expõem o sistema racista de justiça dos Estados Unidos. A construção do homem negro violento mostra suas chagas nesse livro, pois não poderia ser mais crível  do que a condenação pelo suposto estupro de uma mulher branca.Scoutt narra indignada e ainda capaz de entender tudo com precisão, deixando para nós, adultos que estamos lendo, fazermos as costuras necessárias. Seu irmão Jem, por ser mais velho, chora e sofre ao perceber que se encontra no seio de uma sociedade hipócrita e injusta e como o sistema enxerga cor e classe. Scoutt, apesar de atribuir o comportamento do irmão à uma fase, nos narra isso e podemos tirar nossas próprias conclusões acerca. A forma como os jurados cedem ao clamor popular me faz construir analogias com o Brasil atual, onde temos um sistema judiciário midiático, que cede frente às pressões sociais e não se limita à julgamentos imparciais.

O mais doloroso é saber que essa realidade não mudou, vide as milhares de noticias que observamos tanto nos Estados Unidos como no Brasil, de homens e mulheres negras sendo condenados, presos, e muitas vezes, mortos, pelo Estado com anuência de nossa sociedade, por crimes que sequer cometeram, vocês podem acompanhar alguns casos com os links que deixo abaixo:



O livro é essencial para todos: jovens, adultos, adolescentes, estudantes de Direito. Cada público irá fazer uma leitura baseado em suas vivências. O modo de narrar, o enredo, todo o pacote faz dessa obra um grande clássico internacional. Recomendo a leitura!

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