Resenha
Livro: O Professor
Autor: Cristovão Tezza
Lançamento: 2014
Revisitar
nosso próprio passado pode ser uma experiência traumática. A obra O Professor,
do escritor brasileiro Cristovão Tezza, autor de O Fiho Eterno, faz justamente
isso. Heliseu é um professor da disciplina filologia românica da universidade e
que está indo receber uma homenagem na faculdade em que leciona. O tempo
cronológico do livro é a manhã em que Heliseu está se aprontado para comparecer
à homenagem, porém, ao longo dessa manhã, o professor acaba rememorando sua
vida inteira: o seu casamento; sua paixão por uma ex aluna; sua relação com o
filho homossexual, entre outros fatos.
Ao
mesmo tempo em que temos uma recapitulação da vida individual de Heliseu,
tem-se no livro uma retomada da história do Brasil, desde os tempos da ditadura
militar, passando por todos os governos, incluindo Lula e Dilma Roussef. A todo
momento tem-se a passagem do plano individual para o coletivo e vice-versa.
O
livro é muito bem escrito. Como o personagem principal é professor de filologia
românica, disciplina que aborda a origem da língua, há trechos de livros com
linguagem erudita, mas que são facilmente compreensíveis através do contexto.
Mas a linguagem majoritária do livro carrega traços da oralidade. Pode-se
perceber expressões características da língua falada no texto escrito.
A
todo momento no livro o personagem questiona a velhice, onde pude fazer um
paralelo com a matéria que ela lecionava na faculdade: assim como sua
disciplina, que ao longo dos anos, tem sido considerada inútil, pelos discentes
e docentes, visto que nenhum outro docente gostaria de pegar a matéria, ele
mesmo, Heliseu, também foi envelhecendo e perdendo, aos olhos da sociedade, sua
utilidade. Quando o personagem utiliza a expressão dos encontros
intervocálicos, sugere que o tempo está passando, e a língua e a sociedade,
assim como ele próprio, sofreram transformações.
O livro é todo narrado do ponto de vista do
Heliseu. Algumas passagens da vida dele até me fizeram criar um tipo de
barreira para ser conquistada pelo personagem: o fato de ter enganado sua
mulher com uma ex aluna; rejeitar o filho homossexual; não cuidar do filho
quando pequeno, deixando a responsabilidade para sua esposa, entre outros. Mas,
refletindo após a leitura do livro, acredito que seja esse o objetivo de Tezza:
mostrar que somos seres imperfeitos e contraditórios. Em nossa intimidade,
temos atitudes que seriam consideradas desrespeitosas. Tezza nos desnuda, ao
mesmo tempo que nos mostra toda a intimidade de Heliseu. Afinal, quem tem
coragem de contar sua história, nua, crua e sem floreamentos?
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