domingo, 18 de fevereiro de 2018

Cem Anos de Solidão


Resenha
Livro: Cem anos de Solidão
Autor: Gabriel García Marquez
Ano de lançamento: 1967

A resenha de hoje fica por conta desse clássico da literatura mundial, do autor latino americano Gabriel García Marquez, conhecido como Gabo. A obra é o expoente da corrente literária conhecida como realismo mágico: Cem Anos de Solidão. Como o próprio nome já diz, o realismo mágico é uma resposta à colonização de nossa literatura, baseada até aquele momento, na fantasia europeia. O realismo mágico, característico da literatura latino americana, explicava os acontecimentos desse nosso vasto continente de maneira maravilhosa, abordando da mesma maneira tanto acontecimentos fantásticos como cotidianos.

O maior representante dessa literatura é o Gabo, nascido em 6 de marco de 1927, na cidade de Aracata, na Colômbia. Foi criado pelos avós, que foram sua grande inspiração para contar histórias. Ele dizia que sua avó contava acontecimentos fantásticos com a mesma expressão com que avisava que o sol estava se pondo. Conheceu muitos locais no mundo. Ganhou o prêmio Nobel de Literatura, por todo o conjunto de sua obra.
Cem anos de Solidão conta a história de uma família: os Buendía, durante o tempo de cem anos , mais ou menos. A história acompanha o desenvolvimento da família ao longo de sete gerações. A narrativa começa com a fundação do povoado de Macondo, uma cidade isolada do mar, descoberta por acaso por José Arcadio e seus companheiros de exploração. José Arcadio era casado com sua prima , Úrsula Iguarán, e eram primos entre si. Úrsula acreditava que os filhos deles nasceriam com rabo de porco, por conta da relação de consaguinidade. Juntos, tiveram 3 filhos biológicos e uma adotiva: José Arcadio, Aureliano e Amaranta, filhos biológicos e Rebeca, filha adotiva. A partir desse momento, os filhos deles irão ter filhos, netos, bisnetos, tataranetos, e todos da família possuem os mesmo nomes de seus antepassados, com algumas variações.
José Arcadio tem uma longa amizade com Melquíades, um cigano que ia regularmente em Macondo, trazendo novidades científicas para o povoado e escreve pergaminhos que são difíceis de decifrar, contando o futuro da família Buendia, aquela que não terá uma segunda chance sobre a Terra.
A única personagem que acompanha todas as gerações é Úrsula. Ela acredita que a história de sua família é uma sucessão de repetições, tendo como uma das causas desse fato os nomes repetidos, mas não hesita em batizar as novas crianças com os nomes de família. No começo, me prendi aos nomes dos personagens e quem eles representavam na família: quem era filho de quem, irmão de quem, sobrinho, etc. Mas depois percebi que, mais importante que isso, é sentir a história desses personagens, suas aflições, histórias e sobretudo a característica que os une: a solidão. Solidão essa às vezes compartilhada, às vezes vivida inteiramente só.
Gabo consegue contar a história da América Latina através da narração do micro ambiente de uma família, e consegue transportar essa narrativa para o campo macro. Percebemos no romance uma forte crítica às ditaduras, às inúmeras tentativas de nos colonizar, nos homogeneizar. Na época da escrita do romance, a América Latina servia única e exclusivamente como periferia do capitalismo, exportando matéria prima para os países ditos desenvolvidos. O autor faz uma analogia com esse fato com a companhia bananeira, que chega no povoado, explora todo o povo, e depois, sem garantir direitos aos seus trabalhadores, vai embora.
Em relação à nossa histórico de ditaduras e repressões, podemos ver na história quando um personagem insiste em lembrar o genocídio que ocorreu em um protesto contra a companhia bananeira e os moradores de Macondo insistem em negar o acontecido, ficando com a versão hegemônica de que a companhia bananeira não reprimiu os protestos e nunca houve mortes.
Lendo esse livro, me transportei para Macondo, que é muito bem descrita pelo autor. Ele mesmo, em diversas entrevistas, afirmava que se inspirou na cidade em que cresceu para criar a Macondo. Tive vontade de conhecer essa cidade esquecida pelos ventos, pelo mar, até ser varrida do mapa.
Tudo no livro se repete: a história da família é cíclica. O que encarei como uma crítica ao fato da história se repetir, em toda a América Latina, que foi alvo de cinco guerras e dezessete golpes de Estado, totalizando 120 mil desaparecidos, com morte de 20 milhões de crianças menores de dois anos. Foi um ciclo que se repetiu em todo o continente, financiado pelos grandes países desenvolvidos, que lucraram em nossa dor e sofrimento.
É impossível ler Cem anos de Solidão e não se render ao sentimento de pertencimento enquanto latino-americanos: sofremos as mazelas da exploração, mas resistimos. Numa história de solidão, em que, apesar de tudo, seguimos tentando construir e contar a nossa história.

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