domingo, 7 de abril de 2019

Rani e o Sino da divisão


Resenha
Livro: Rani e o Sino da Divisão
Autor: Jim Anotsu
Ano: 2014
Editora: Gutemberg
Número de páginas: 320

Muitas pessoas tem um pouco de preconceito em relação à literatura brasileira. Eu, particularmente, leio de tudo, e no momento, tenho feito um esforço para ler autores latino-americanos, asiáticos, do leste europeu, africanos, para sair um pouco do eixo Estados Unidos-Europa. Esse pode ser um ótimo livro para quem quer começar a se aventurar pela literatura brasileira contemporânea, do autor mineiro Jim Anotsu.

Rani é uma menina de 16 anos, que mora em uma cidade do interior de Minas Gerais, a Graúna( descobri que se refere à cidade de Itaúna, na realidade) e tem uma vida pacata, até mesmo um pouco tediosa. Sua rotina é ir para a escola onde cursa o Ensino Médio, tocar em uma banda com sua melhor amiga Marina , ler muito, ver séries e escutar músicas. Rani é uma menina negra, que se mudou da antiga escola por sofrer racismo.

Um desses dias cotidianos, quando ela corta caminho para ir à escola pelo cemitério da cidade, encontra com um menino vestindo roupas coloridas e sente um calafrio, seguido de uma enorme vontade de sair correndo. É o que ela faz. Quando chega na sua escola, tem uma surpresa ao  perceber que o menino colorido é seu mais novo colega de classe. O garoto se chama Pietro e na realidade é um vampiro que revela a Rani um fato que mudará sua vida para sempre: na verdade, a garota é uma xamã urbana. Existe um xamã que está matando e arrancando os corações de seus colegas a fim de despertar o Grande Espirito. Ele se chama Aiba e também está atrás de Rani.

A menina comum se vê em uma teia de acontecimentos surpreendentes que ela nem imaginava que existiam. No mundo sobrenatural também há “classes”. São as facções. A facção que o Pietro pertence é a dos Animais de Festa e a de mais baixo prestígio na sociedade e Rani passa a pertencer também à essa facção. Ela conhece Valentina, a irmã – e também vampira- de Pietro; Tales, filho do Lúcifer( também conhecido como hispter Lulu); Fred , o lobisomem cientista. Juntos, vão descobrir o valor das verdadeiras amizades e viver muitas aventuras na busca pela derrota de Aiba e salvação da humanidade.

É importante destacar que o livro tem muitas mulheres fortes como personagens. Começando pela protagonista: uma menina negra, de personalidade, que ama rock, não gosta de rotular relacionamentos, influenciada pela família é uma materialista ( até descobrir que ela faz parte de um mundo sobrenatural). Rani sofre racismo muitas vezes e isso é bem destacado no livro, não de forma panfletária, mas de maneira natural e até mesmo adolescentes que lerem o livro irão perceber a dor e o absurdo do racismo. Rani não orbita em torno de um personagem masculino. Apesar dela viver uma história com Pietro, continua sendo a Rani forte e inteligente de sempre; temos Marina, que apesar de ser humana permanece ao lado da amiga, enfrentando as situações irreais. É interessante por que o relacionamento das duas não é baseado em conversas sobre garotos. Aliás, somente uma vez a Marina questiona a Rani sobre o relacionamento dela com Pietro; a Valentina, uma vampira destemida, corajosa e inteligente.

 Representatividade importa. Se levarmos em consideração que esse livro tem como público alvo adolescentes, é importantíssimo que traga representações positivas de meninas, de pessoas negras, de idosos. Toda a obra quebra estereótipos estabelecidos pela nossa sociedade machista, racista. Meu eu adolescente com certeza amaria ler esse livro, assim como meu eu adulto. São de livros desse jeito que precisamos para tentar mudar, mesmo que de maneira lenta, nossa sociedade. Recomendo a leitura!

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