Resenha
Livro: Rani e o Sino da
Divisão
Autor: Jim Anotsu
Ano: 2014
Editora: Gutemberg
Número de páginas: 320
Muitas pessoas tem um
pouco de preconceito em relação à literatura brasileira. Eu, particularmente,
leio de tudo, e no momento, tenho feito um esforço para ler autores
latino-americanos, asiáticos, do leste europeu, africanos, para sair um pouco
do eixo Estados Unidos-Europa. Esse pode ser um ótimo livro para quem quer
começar a se aventurar pela literatura brasileira contemporânea, do autor
mineiro Jim Anotsu.
Rani é uma menina de 16
anos, que mora em uma cidade do interior de Minas Gerais, a Graúna( descobri
que se refere à cidade de Itaúna, na realidade) e tem uma vida pacata, até
mesmo um pouco tediosa. Sua rotina é ir para a escola onde cursa o Ensino
Médio, tocar em uma banda com sua melhor amiga Marina , ler muito, ver séries e
escutar músicas. Rani é uma menina negra, que se mudou da antiga escola por
sofrer racismo.
Um desses dias
cotidianos, quando ela corta caminho para ir à escola pelo cemitério da cidade,
encontra com um menino vestindo roupas coloridas e sente um calafrio, seguido
de uma enorme vontade de sair correndo. É o que ela faz. Quando chega na sua escola, tem uma surpresa ao perceber que o menino colorido é seu mais novo
colega de classe. O garoto se chama Pietro e na realidade é um vampiro que
revela a Rani um fato que mudará sua vida para sempre: na verdade, a garota é
uma xamã urbana. Existe um xamã que está matando e arrancando os corações de
seus colegas a fim de despertar o Grande Espirito. Ele se chama Aiba e também
está atrás de Rani.
A menina comum se vê em
uma teia de acontecimentos surpreendentes que ela nem imaginava que existiam.
No mundo sobrenatural também há “classes”. São as facções. A facção que o
Pietro pertence é a dos Animais de Festa e a de mais baixo prestígio na
sociedade e Rani passa a pertencer também à essa facção. Ela conhece Valentina,
a irmã – e também vampira- de Pietro; Tales, filho do Lúcifer( também conhecido
como hispter Lulu); Fred , o lobisomem cientista. Juntos, vão descobrir o valor
das verdadeiras amizades e viver muitas aventuras na busca pela derrota de Aiba
e salvação da humanidade.
É importante destacar que
o livro tem muitas mulheres fortes como personagens. Começando pela
protagonista: uma menina negra, de personalidade, que ama rock, não gosta de
rotular relacionamentos, influenciada pela família é uma materialista ( até
descobrir que ela faz parte de um mundo sobrenatural). Rani sofre racismo
muitas vezes e isso é bem destacado no livro, não de forma panfletária, mas de
maneira natural e até mesmo adolescentes que lerem o livro irão perceber a dor
e o absurdo do racismo. Rani não orbita em torno de um personagem masculino.
Apesar dela viver uma história com Pietro, continua sendo a Rani forte e
inteligente de sempre; temos Marina, que apesar de ser humana permanece ao lado
da amiga, enfrentando as situações irreais. É interessante por que o
relacionamento das duas não é baseado em conversas sobre garotos. Aliás,
somente uma vez a Marina questiona a Rani sobre o relacionamento dela com
Pietro; a Valentina, uma vampira destemida, corajosa e inteligente.
Representatividade importa. Se levarmos em
consideração que esse livro tem como público alvo adolescentes, é
importantíssimo que traga representações positivas de meninas, de pessoas
negras, de idosos. Toda a obra quebra estereótipos estabelecidos pela nossa
sociedade machista, racista. Meu eu adolescente com certeza amaria ler esse
livro, assim como meu eu adulto. São de livros desse jeito que precisamos para
tentar mudar, mesmo que de maneira lenta, nossa sociedade. Recomendo a leitura!
Nenhum comentário:
Postar um comentário