domingo, 4 de novembro de 2018

Jango e eu: memórias de um exílio sem volta


Resenha
Livro: Jango e eu: memórias de um exílio sem volta
Autor: João Vicente Goulart
Ano de lançamento: 2017
Número de páginas: 350

Não sou profunda conhecedora da história do Brasil, mas me interesso por livros de variados assuntos. Confesso que o que me chamou a atenção primeiramente nesse livro foi a foto da capa e o título. É uma fotografia de um menino no colo de um adulto, a criança olhando para seu pai e este contemplando o horizonte. O menino é João Vicente, autor do livro. Essa belíssima fotografia resume bem toda a obra: um relato, repleto de afeto de um filho para com seu pai.

O livro não se propõe a contar a história brasileira, com referências bibliográficas, pois, nas palavras do próprio autor, já existem inúmeras obras que se prestam a esse papel. A obra narra a vida no exilio de Jango, como era conhecido João Goulart, e sua família. O presidente foi deposto pela ditadura de 64 e teve que se exilar fora do país. Primeiramente no Uruguai e depois na Argentina.

Acompanhamos a vida exilada dessa família, tão longe de casa, por motivos tão tristes. Na América Latina vivíamos um período ditatorial, que acabou tomando o Uruguai e a Argentina poucos anos depois, transformando esses países em um perigo para os exilados. João Vicente consegue nos passar a sensação tão viva de isolamento que seu pai e sua mãe viveram, enquanto ele e sua irmã, crianças ainda, ele com 7 anos somente, faziam vários amiguinhos por onde passavam.

A obra é tão bem descrita que parece que estamos assistindo a um filme. São narrados os encontros com amigos ilustres do presidente, como Josué de Castro, Darcy Ribeiro, Paulo Freire, a cantora Maysa, o cineasta Glauber Rocha. É delicioso e extremamente enriquecedor ler sobre essas reuniões com seus amigos, alguns também na condição de exilados e outros que iam para visitar o amigo.  Jango pretendia fazer reformar de base no Brasil - agrária, educacional, política - e foi impedido por uma elite escravocrata, que não perde a chance, desde sempre, de manter seus privilégios. Penso que nosso país poderia ter sido diferente caso Jango tivesse se mantido no poder. Condenava os extremismos, até mesmo da esquerda. Em relação à isso, podemos ficar conhecendo as tensões envolvendo Jango e Brizola, seu cunhado. Enquanto Leonel apostava numa revolta armada contra o regime da ditadura, Jango acreditava em uma possível saída democrática.

Penso que ler essa obra em um momento político como o nosso seja maravilhoso, pois nos faz refletir sobre como a perda das liberdades individuais pode afetar a vida das pessoas. É necessário refletirmos acerca desse assunto, em nossa frágil democracia e o que governos autoritários podem ter como consequência. Poderíamos ter tido reformas de base e atualmente, o Brasil poderia ter menos desigualdade, visto que somos um dos países mais desiguais do mundo. São apenas reflexões, mas vale a pena pensar sobre.

É uma obra apaixonante, lírica, que conta os fatos com um carinho enorme, afinal de contas, é um filho falando sobre o pai. Os dois sempre foram muito companheiros e amigos. Pelos olhos de João Vicente, acabamos conhecendo um homem honesto, benevolente, um autêntico líder e estadista, mas sobretudo um pai, marido e pessoa sensacional. Acredito que a educação é uma ferramenta poderosíssima para transformar o mundo e ler nos ajuda a pensar criticamente, por isso recomendo fortemente a leitura e reflexão


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