Resenha
Livro:
Jango e eu: memórias de um exílio sem volta
Autor:
João Vicente Goulart
Ano de
lançamento: 2017
Número
de páginas: 350
Não
sou profunda conhecedora da história do Brasil, mas me interesso por livros de
variados assuntos. Confesso que o que me chamou a atenção primeiramente nesse
livro foi a foto da capa e o título. É uma fotografia de um menino no colo de um adulto, a criança olhando para seu pai e este contemplando o horizonte. O menino é João Vicente, autor do livro. Essa belíssima fotografia resume bem
toda a obra: um relato, repleto de afeto de um filho para com seu pai.
O
livro não se propõe a contar a história brasileira, com referências
bibliográficas, pois, nas palavras do próprio autor, já existem inúmeras obras
que se prestam a esse papel. A obra narra a vida no exilio de Jango, como era
conhecido João Goulart, e sua família. O presidente foi deposto pela ditadura
de 64 e teve que se exilar fora do país. Primeiramente no Uruguai e depois na
Argentina.
Acompanhamos
a vida exilada dessa família, tão longe de casa, por motivos tão tristes. Na
América Latina vivíamos um período ditatorial, que acabou tomando o Uruguai e a
Argentina poucos anos depois, transformando esses países em um perigo para os
exilados. João Vicente consegue nos passar a sensação tão viva de isolamento
que seu pai e sua mãe viveram, enquanto ele e sua irmã, crianças ainda, ele com
7 anos somente, faziam vários amiguinhos por onde passavam.
A obra
é tão bem descrita que parece que estamos assistindo a um filme. São narrados
os encontros com amigos ilustres do presidente, como Josué de Castro, Darcy
Ribeiro, Paulo Freire, a cantora Maysa, o cineasta Glauber Rocha. É delicioso e
extremamente enriquecedor ler sobre essas reuniões com seus amigos, alguns
também na condição de exilados e outros que iam para visitar o amigo. Jango pretendia fazer reformar de base no
Brasil - agrária, educacional, política - e foi impedido por uma elite
escravocrata, que não perde a chance, desde sempre, de manter seus privilégios.
Penso que nosso país poderia ter sido diferente caso Jango tivesse se mantido
no poder. Condenava os extremismos, até mesmo da esquerda. Em relação à isso,
podemos ficar conhecendo as tensões envolvendo Jango e Brizola, seu cunhado.
Enquanto Leonel apostava numa revolta armada contra o regime da ditadura, Jango
acreditava em uma possível saída democrática.
Penso
que ler essa obra em um momento político como o nosso seja maravilhoso, pois
nos faz refletir sobre como a perda das liberdades individuais pode afetar a
vida das pessoas. É necessário refletirmos acerca desse assunto, em nossa
frágil democracia e o que governos autoritários podem ter como consequência.
Poderíamos ter tido reformas de base e atualmente, o Brasil poderia ter menos
desigualdade, visto que somos um dos países mais desiguais do mundo. São apenas
reflexões, mas vale a pena pensar sobre.
É uma
obra apaixonante, lírica, que conta os fatos com um carinho enorme, afinal de
contas, é um filho falando sobre o pai. Os dois sempre foram muito companheiros
e amigos. Pelos olhos de João Vicente, acabamos conhecendo um homem honesto,
benevolente, um autêntico líder e estadista, mas sobretudo um pai, marido e
pessoa sensacional. Acredito que a educação é uma ferramenta poderosíssima para
transformar o mundo e ler nos ajuda a pensar criticamente, por isso recomendo
fortemente a leitura e reflexão
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