Resenha
Livro: O caminho de casa
Autora: Yaa Gyasi
Ano de lançamento: 2017
Duas meias irmãs,
separadas por ocasião de seu nascimento, fruto de um estupro, que nunca vieram
a se conhecer. Essa é a premissa inicial da obra O caminho de casa, da
escritora ganense Yaa Gyasi.
Esi e Effia , as irmãs,
foram criadas por famílias diferentes. Effia foi criada por uma mulher que a
odiava e que a vendeu para ser esposa de um britânico, indo morar em Cape
Coast, por ocasião de seu casamento. Esi, pelo contrário, teve uma infância
recheada de carinho, criada com todo amor por sua família, mas quando sua
aldeia perde uma batalha, ela é separada de sua família e levada como escrava.
A partir desse ponto, teremos a narração da história de diferentes personagens,
todos eles descendentes das duas irmãs. Cada capítulo nos introduz à vidas
diferentes, porém ligadas entre si. Longe de conferir ao texto uma quebra ou
deixá-lo menos dinâmico, acredito que essa estrutura tenha promovido o efeito
contrário: conferiu dinamismo à prosa.
O fato de traçar uma
genealogia de família, faz lembrar o livro Cem Anos de Solidão, de Gabriel
García Marquez, onde o autor colombiano conta a história de várias gerações da
família Buendía. Yaa consegue um feito semelhante a Gabo. Sua forma de contar
história me lembra a autora nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie.
Mais do que contar a
história de uma família, observamos o retrato do negro durante vários séculos
ate chegar aos dias atuais, tendo como cenário ora Gana ora Estados Unidos.
Podemos sentir na pele como a escravidão foi cruel e trouxe consequências para
a vida dos descendentes de negros escravizados que ultrapassam séculos. É muito
interessante, nesse sentido, o esforço feito no livro de falar sobre a
ancestralidade de negros, visto que, em países onde houve a escravidão, é
impossível conhecer a sua hereditariedade.
A escravidão é retratada de
forma muito dolorida, levando-nos, leitores, a refletir sobre como um regime
perverso se sustentou durante muito tempo em diversas sociedades. Podemos
acompanhar no livro também como os britânicos apreciavam a guerra existente
entre os povos fânti e axânti, pois conseguiam lucrar com essa briga, com o
comércio de escravos.
Podemos observar como a
escravidão influenciou a forma como os negros são vistos pela sociedade e
instituições em geral, fato que tem origem na sociedade colonial e
escravocrata. É impossível não traçar paralelos com o nosso país. Um local
extremamente racista, de maneira velada. Onde negros e negras são mortos e
mortas pelo simples fato de ter a pele mais escura, não conseguem empregos, não
conseguem estudar e ter acesso à uma vida que se equipare à dos brancos. É
necessário que façam esforços sobre humanos para conseguir conquistar algo na
vida. Enquanto o número de homicídios de mulheres brancas diminui no Brasil, o
de mulheres negras aumentou. Vivemos genocídio da população jovem e negra.
A autora toca em um
importante ponto: fala sobre o colorismo e a tentativa de deixar aquele negro
de pele mais clara como sendo não negro. Também é abordado no enredo o tema da
solidão da mulher negra, que é relegada à viver sozinha ou se subjugar à
relacionamentos com homens que não acreditam que uma mulher negra seja “feita
para casar.”
De maneira leve e poética,
nos leva a refletir acerca de temas tão caros e tão urgentes em nossa
sociedade. Leitura necessária e atual, que tem todas as características para se
tornar um clássico.
Nenhum comentário:
Postar um comentário