domingo, 20 de maio de 2018

Eu sou a lenda


Resenha
Livro: Eu sou a Lenda
Autor: Richard Matheson
Ano de lançamento: 1954

Clássico da literatura do terror, o livro Eu sou a Lenda já foi adaptado três vezes para o cinema: em 2007, o filme com mesmo nome, protagonizado por Will Smith; The last man on Earth, de 1964 e The Omega Man, de 1971.

No final dos anos 1970, uma praga, que parece ser oriunda de uma explosão de uma bomba atômica, é responsável por transformar as pessoas em vampiros. Robert Neville é um homem que consegue sobreviver à essa praga e não ser infectado, mas perde toda sua família, sua esposa e filha morrem em decorrência da praga. Acompanhamos a rotina do último homem da terra, seus dias repletos de solidão e angústia. Um ponto a ser destacado: o livro foi lançado na época da Guerra Fria, então podemos traçar um paralelo com o medo de ataques iminentes de bombas atômicas com a causa da praga no livro: uma explosão atômica. Nenhuma obra deve ser avaliada fora do seu contexto histórico.

Acompanhamos a trajetória de Neville: seus esforços para tornar sua casa impenetrável para os vampiros, único local em que ele se sente protegido. Neville pode caminhar durante o dia pela cidade, porém à noite os vampiros saem e ele precisa ficar preso dentro de sua própria fortaleza. As descrições dessa parte do livro são extremamente angustiantes, pois conseguimos sentir a solidão que o protagonista sente. Somos levados a fazer reflexões psicológicas sobre essa situação: o que sentiria o último homem do mundo?

Um ponto muito interessante no livro são as tentativas de explicação para a causa da doença que terminou por transformar as pessoas em vampiros. Do ponto de vista da literatura clássica, os vampiros são os mesmos: temem a luz do sol, o alho, a cruz. Mas, ao contrário de explicações místicas para esses fatos, o protagonista tenta explicar cientificamente todas essas características dos vampiros e a origem do problema. Vemos um Neville extremamente concentrado, seguindo métodos científicos afim de encontrar explicações plausíveis para os fenômenos que ele estava observando. O protagonista aprende coisas básicas, desde como manusear um microscópio (aparelho usado para aumentar objetos microscópicos) até mesmo teorias mais pesadas da Biologia. Por eu ser bióloga, achei muito interessante toda essa parte. Richard trabalha muito bem com a filosofia da ciência: será que os cientistas jogam fora as teorias que não se adequam aos fatos? Será que eles as adaptam? Podemos refletir sobre essas e outras investigações, enquanto acompanhamos a pesquisa de Neville.
O protagonista é um pouco machista: observa as mulheres vampiras, desejando-as, falando algumas vezes, inclusive, da possibilidade de estupro dessas vampiras, que em sua visão, ficavam lascivamente se oferecendo para ele. Sobre esse ponto, tenho algumas considerações: obviamente, ler isso sobre mulheres não me agrada, mas, refletindo, para não correr o risco de não estar descontextualizando a história, combina bastante com o enredo. Imaginem, o último homem da terra, sabendo que nunca mais teria relações sexuais com nenhuma outra mulher, é entendível esse tipo de pensamento por parte dele. Na solidão em que se encontrava, no ambiente de tensão, as características mais primitivas, mais horrendas dos seres humanos vem à tona. Acredito que tenha sido isso que o autor quis nos mostrar.

Em determinados momentos do livro , Neville reflete sobre os verdadeiros monstros da história: será que os vampiros são responsáveis pelo mal que os assola? Ele tem outra possibilidade de sobrevida, a não ser que matem, tomem o sangue à força? São questões para se pensar. O livro é um clássico, deve ser considerado como tal, pois nos abre infinitas possibilidades de interpretação. Vale a pena a leitura.

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