Resenha
Livro: Suicidas
Autor: Raphael Montes
Ano de lançamento: 2012
Desde pequena, sou uma leitora ávida: amo literatura e
leio livros ficcionais de todos os tipos: sejam eles histórias de romance,
literatura clássica, suspense, aventura, entre outros. Já li diversos livros
policiais e recentemente descobri um novo tipo de literatura: noir. Esse tipo
de escrita, que também se estende à obras cinematográficas, mistura elementos
de suspense, literatura policial, onde o mais importante não é a descoberta do
criminoso que está sendo investigado em si, mas o desenrolar da trama, a
história contada, a atmosfera sendo sentida. Esse tipo de literatura é bem mais
rica, no meu ponto de vista, quando comparada com a literatura policial
clássica, onde o objetivo inicial e final é a descoberta do culpado.
Entretanto, não é a esse tipo de literatura que me refiro na presente obra,
Suicidas, mas o tipo clássico de literatura policial.
Raphael Montes é autor desse livro, que aliás, é seu
romance de estreia. Após o lançamento de Suicidas, ele já tem outros títulos
publicados, como: Dias Perfeitos, O Vilarejo e Jantar Secreto. Tem despontado
como uma das grandes revelações da literatura nacional, tendo sido finalista
dos prêmios nacionais Benvirá e Machado de Assis. Sua obra Suicidas foi
adaptada para o teatro em 2015.
Após pontuar esses aspectos, vamos ao enredo do livro.
Nove jovens, moradores da zona sul carioca, decidem se matar em um dia de
setembro, em uma casa de campo, praticando roleta russa. Por que jovens,
aparentemente com uma vida perfeita, decidem pôr um fim à ela, de maneira tão
violenta? Porém, no dia da roleta russa, algo não sai como o esperado e os
corpos são encontrados carbonizados, sendo possíveis de serem identificados
somente com o fornecimento de arcada dentária. Um ano após esse acontecimento,
a polícia, representada pela figura da delegada Diana, convoca as mães desses
suicidas para tentar esclarecer as motivações de cada um dos jovens, à luz de
novas pistas: foi encontrado um caderno com as anotações de um dos
participantes, Alessandro Parentoni. Esse participante, além de possuir um
diário, foi escrevendo um livro em tempo real, narrando todos os acontecimentos
do dia da roleta.
A partir disso, a narrativa se passa em três distintos
tempos: vamos acompanhando a leitura do diário de Alessandro, do seu livro e a
gravação da reunião com as mães.
Uma coisa já começou a me incomodar nesse momento: por
que somente as mães foram chamadas para essa reunião? Por que não os pais, os
responsáveis? Pode parecer um ponto sem importância, mas contribui para
perpetuar a ideia de que a educação de um filho é responsabilidade única e
exclusiva da mãe.
A policial Diana vai lendo o livro e o diário de
Alessandro, considerando tudo aquilo como prova cabal e definitiva dos fatos
passados. Se considerarmos toda a adrenalina que ocorria enquanto a roleta
russa se desenrolava, como podemos considerar que o Alessandro conseguiu narrar
tudo aquilo em tempo real? Como atestar que a história narrada pelo ponto de
vista de um único personagem é a verdade? Esses fatos, básicos, não parecem
incomodar a polícia. Achei essa uma enorme falha no livro. O motivo da reunião
é torpe: não vejo realmente o sentido de levar mulheres, que já foram
despedaçadas pelo suicídios de seus filhos, a reviver todos aqueles momentos,
pois a policial faz a leitura da obra de Alessandro, que narra em detalhes os
acontecimentos.
Achei que o livro exagera na violência. Tudo bem que é
um livro policial, já esperamos esse tipo de cena, mas acredito que tenha
violência gratuita. Podemos considerar o fato dos jovens estarem passando por
momentos de tensão extrema e liberar o que há de mais podre no ser humano,
todavia, ainda sigo firme na minha posição de que algumas cenas não precisariam
estar presentes, tais como estupro, necrofilia, conferindo um caráter meio
sádico ao enredo.
À primeira
vista, os personagens podem parecer que
são caricatos, estereotipados. Temos um playboy da zona sul, forte, meio burro,
que só pensa em mulheres; uma mulher feminista, considerada feia para os
padrões de beleza; um emo depressivo com tendências suicidas; um nerd que ama
escrever e não se dá bem com mulheres. Como falei, o autor tenta desenvolver
melhor esses personagens e ir além do estereotipo inicial, sendo em alguns momentos
bem sucedido e em outros, nem tanto. Já li uma obra do mesmo autor, Dias
perfeitos. Nessa obra, também temos um personagem tímido, nerd, que não se dá
bem com as mulheres. Parece repetir uma fórmula.
Acaba a leitura, fiquei surpresa com a reviravolta presente.
Porém, analisando melhor, pude perceber que o autor vai deixando várias pistas
ao longo da trama, e que, para um leitor mais atento, ficaria fácil de
perceber. Assim como em Dias perfeitos, temos aqui um final inesperado, me
levando a levantar novamente a hipótese de fórmula que parece dar certo,
repetida. Não posso afirmar isso lendo apenas dois livros do autor, mas foi a
impressão que ficou comigo.
Acredito ser importante avisar que a obra não deve ser
lida por pessoas que possuem depressão, que tenham algum tipo de tendência
suicida, pois, como já foi apontado por diversos órgãos, tais como OMS, falar
sobre esse assunto acaba ativando gatilho em pessoas que já possuem tais
tendências a tentarem realizar esses atos.
O livro contém muitas páginas. Raphael usa de
artifícios para te prender até o fim do livro, mas, não por ser excelente,
apenas pelo motivo de querer chegar ao fim. Esse foi meu caso. Achei o livro
bem problemático em todos os sentidos que falei acima, além da motivação para
tudo, que acabamos descobrindo ao final, ser extremamente torpe.
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