Resenha: Passado Perfeito (Inverno)
Autor: Leonardo Padura
Me
apaixonei pela escrita de Padura ao ler O homem que amava os cachorros. Apesar
de ser um calhamaço de mais de 500 páginas, devorei o livro e me interessei em
saber mais sobre a vida e obra de Padura. Passado Perfeito é o primeiro livro
da tetralogia Estações Havana, que retrata um ano inteiro, passando pelas
quatro estações, na vida de Mário Conde, um detetive policial resolvendo seus
casos em Cuba. O ano, não por acaso, é de 1989, ano da queda do Muro de Berlim
e que trouxe muitas mudanças na vida de todos cubanos. A tetralogia ganhou uma
adaptação pela Netflix, roteirizada pelo próprio Padura e sua mulher Lúcia, que
vale a pena ver.
Nesse
primeiro volume da série, Padura tem seu Ano Novo interrompido para resolver um
caso: Rafael Morín, seu ex colega de pré-universitário e homem modelo, sumiu
sem deixar vestígios. A partir desse acontecimento, somos levados a mergulhar
na vida de Morín, que tem um passado aparentemente perfeito, e vamos descobrindo
ao longo da narrativa que a perfeição realmente não existe.
Combinando
com a estação retratada, que é o inverno, o livro possui um tom melancólico,
pois Conde , quando começa a investigar a vida de Rafael, para conseguir
entender o motivo do seu sumiço, acaba investigando a si mesmo, lembrando dos
tempos de pré-universitário, em que Conde e seus amigos tinham todos os sonhos do mundo, todas as
possibilidades. Conhecemos e nos apaixonamos por cada personagem apresentada ao
longo da trama. O Magro, amigo de Conde da época da escola, que já não
é magro há muito tempo, que vive em uma cadeira de rodas após ser baleado e tem
com Conde uma relação de irmandade; Jose, a mãe de Magro, que é como uma
segunda mãe para Conde; Tamara, que era paixonite de todos os menino do pré
universitário; Manolo, parceiro de Conde; Rafael Morín, com seu passado
imaculado e Conde, que possuía o sonho de ser escritor, mas acaba virando
policial por questões desconhecidas até mesmo pelo próprio.
Somos
apresentados a uma Cuba desconhecida, nem descrita com paixão cega tampouco com
ódio. Padura se utiliza de romance policial para retratar a realidade de seu
país, seus costumes, por isso esse livro não se encaixa no gênero policial, ele
vai além disso.
Conde
se lembra muito de seu passado e por muitas vezes esse tempo é idealizado,
romantizado, assim como todos nós quando nos lembramos de tempo antigos, Conde
também idealiza e romantiza seu passado quando mais jovem.
Todos
os detalhes do enredo são descritos de maneira meticulosa. Quando temos uma
cena em que os personagens estão comendo, conseguimos quase sentir o gosto da
comida, por conta da narrativa contundente. Assim como as cenas de refeição, as
cenas de sexo são extremamente bem detalhadas e repletas de sensualidade, ainda
que por vezes Conde descreva suas mulheres como objeto de consumo, esperando
serem conquistadas pelo macho alfa em questão. Acredito que esse seja o único
aspecto que não gostei muito no livro e na série, mas essas situações acabam
sendo descritas de maneira tão natural que acabam por serem necessárias e
fazerem parte da narrativa, da construção do personagem Conde. Porém, em certo trecho do livro temos uma vingança contra essa objetificação das mulheres.
Um
livro para ser DEGUSTADO, de maneira sórdida e comovente!!
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