Resenha
Livro: Brooklyn
Autor: Colm Tóilbín
Ano: 2011
Número de páginas: 304
Editora: Companhia das Letras
Escrito pelo irlandês Colm Tóilbin, Brooklyn possui uma
simples premissa: uma jovem mulher irlandesa na década de 50, por não encontrar
oportunidades de trabalho na sua cidade natal, acaba se mudando para os Estados
Unidos, mais especificamente, Brooklyn. Essa mulher se chama Eillis. Ela havia
conseguido um emprego em uma mercearia de sua cidade, porém sua irmã Rose,
achava que a Eilis poderia trabalhar em algo melhor, que tivesse a ver com suas
qualificações, pois ela havia feito o curso básico de contabilidade. Por isso,
Rose combina com um padre amigo, chamado Flood, que mora nos Estados Unidos de
levar a jovem para trabalhar na “terra das oportunidades”.
Seguimos com a protagonista na viagem de Cruzeiro pelo
Atlântico rumo à América. Conseguimos sentir nessas poucas páginas a agonia de viajar
em espaços tão apertados e angustiantes. Chegando na América, Eilis no começo
sente muitas saudades de casa, mas aos poucos vai se acostumando ao novo
ambiente, morando em uma pensão para senhoras, ajudando o padre Flood na
paróquia e estudando à noite, após o trabalho na loja Bartoccis, fazendo um
curso longo de contabilidade. Até que ela conhece Tony, um jovem
ítalo-americano com quem viverá um romance. Quando ela acreditava que estava se
tornando uma cidadã mais americana que irlandesa, um fato em sua terra natal a
leva a retornar para lá e ela se vê obrigada a tomar uma decisão.
É importante notar no livro que a protagonista não tem voz e
nem vez. Não emite opiniões. Ela é sempre levada pela vontade alheia, seja nas
pequenas ações do dia a dia, como a escolha de uma roupa, ou seja em grandes
ações que poderiam mudar sua vida. Apesar de estar a um continente de
distância, suas duas vidas são bastante similares e até mesmo as pessoas que
fazem parte dela encontram correspondentes. Sua mãe na Irlanda pode ser
encontrada na senhora Kehoe, a dona da pensão, na América, que vigia toda sua
vida e a controla, como sua mãe fazia na terra natal; possui uma chefe ,
senhora Kelly, na Irlanda, que apenas informa a Eillis que a mesma iria
trabalhar para ela na loja, e ela aceita, enquanto nos Estados Unidos, a chefe
dá em cima dela e ela fica imóvel, não gosta da situação, mas é incapaz de
falar algo para não desagradar; tem uma paquera na Irlanda, chamado Jim e nos
Estados Unidos Tony; ate mesmo suas amigas Nancy e Anne encontram
correspondentes nas suas colegas de pensão senhorita Mc Adam, Diana e outras.
Não acredito que isso tenha sido falha do autor, pelo
contrário: acredito que ele quis nos mostrar o lugar que era reservado às
mulheres naquela época. Eram simplesmente seres sem vozes, podadas de emitir
suas opiniões por conta da sociedade extremamente machista e patriarcal. Por
vezes nos irritamos com a protagonista por se deixar ser tão levada pelas
situações, e em outras vezes, temos pena da mesma. Mas é angustiante pensar que
ainda em nossos dias, a sociedade não gosta de mulheres que falam, pensem,
gritem, protestem. Portanto, temática mais atual do que nunca. Além disso ,
temos a questão dos imigrantes que chegavam aos Estados Unidos naquela época e
ainda o racismo, sempre presente na sociedade americana e naquela época,
momento em que os negros e negras estavam tentando adentrar em lugares que lhes
eram negados. Isso também é retratado no livro.
Como o próprio autor falou em uma entrevista, o livro trata
de um imigrante que é estrangeiro em dois países, inclusive nele mesmo. Ou
seja, a protagonista não sabe quem é, vive uma busca incessante de
significados, não sabe onde é seu verdadeiro lar, onde estão e quem são seus
verdadeiros amores. Acompanhá-la nessa busca pode te fazer conhecer um pouco
mais de si mesmo. Recomendo a leitura
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