Resenha
Livro: O sol é para todos
Autora: Harper Lee
Número de páginas: 315
Ano: 1960
Sempre ouvi falar de O sol é para todos, da autora
Harper Lee. Vendo filmes norte americanos com adolescentes, eles sempre haviam
lido essa obra para a escola, e foi assim que tive contato com o título.
Inicialmente, não sabia muito bem do que se tratava o enredo, mas assim que
descobri me interessei. O livro faz jus à sua fama: é um clássico, do início ao
fim. Vamos à história.
O livro se passa nos anos 30 do século passado, na
cidade fictícia de Maycomb, no estado do Alabama, no sul dos Estados Unidos. O
pano de fundo da história é essa cidade que tem seus habitantes mergulhados em
preconceitos da pior espécie: racismo, machismo, preconceito contra todos que
não se encaixam no molde inexistente e inalcançável de perfeição.
A história é narrada pela pequena Scoutt, Jean Louise
Finch, que no começo tem apenas seis anos. Scoutt vive com seu pai, Atticus, um
advogado viúvo que cria seus filhos sozinho, e Jem, seu irmão quatro anos mais
velho, e também faz parte da família a empregada Calpúrnia, mulher negra que
cria as crianças desde sempre, presença constante na história.
No começo do livro, nos deparamos com uma
caracterização da sociedade sulista, pelos olhos de uma criança. Isso é o que
torna mais interessante, pois a criança, apesar de ser bem madura para a idade,
possui uma inocência e candura que olhos adultos jamais conseguiriam descrever.
Portanto, é ainda mais tangível e tocável a descrição da sociedade. São
extremamente racistas, acreditando que todos as pessoas negras são inferiores à
eles; ela fala sobre como é taxada de anormal, pois se veste com roupas de
meninos, chama o pai pelo primeiro nome, ou seja, não se encaixa no que é
esperado para o comportamento de uma “mocinha” da sua idade.
Após toda a descrição da primeira parte do livro,
ficamos conhecendo sua problemática central: Atticus está defendendo um homem
negro, chamado Tom Robbinson, acusado de
estuprar uma mulher branca. Os seus filhos sentem na pele o julgamento da
sociedade , pois começam a ser hostilizados na rua, seu pai é ameaçado de
morte, entre outras barbaridades. Mas, apesar de todas as dificuldades, Atticus
não desiste, pois sempre salienta que se não defendesse aquele homem, que ele
acredita ser inocente, nunca mais poderia olhar nos olhos de seus filhos da
mesma maneira. Nessa hora, o título faz todo o sentido: sendo o sol para todos,
o homem acusado tem direito a um julgamento digno e justo, assim como qualquer
outra pessoa.
Ao desenrolar da história, podemos perceber como as provas que
supostamente condenam o Tom Robbinson são frágeis e expõem o sistema racista de
justiça dos Estados Unidos. A construção do homem negro violento mostra suas
chagas nesse livro, pois não poderia ser mais crível do que a condenação pelo suposto estupro de
uma mulher branca.Scoutt narra indignada e ainda capaz de entender tudo
com precisão, deixando para nós, adultos que estamos lendo, fazermos as
costuras necessárias. Seu irmão Jem, por ser mais velho, chora e sofre ao
perceber que se encontra no seio de uma sociedade hipócrita e injusta e como o
sistema enxerga cor e classe. Scoutt, apesar de atribuir o comportamento do
irmão à uma fase, nos narra isso e podemos tirar nossas próprias conclusões
acerca. A forma como os jurados cedem ao clamor popular me faz construir
analogias com o Brasil atual, onde temos um sistema judiciário midiático, que
cede frente às pressões sociais e não se limita à julgamentos imparciais.
O mais doloroso é saber que essa realidade não mudou,
vide as milhares de noticias que observamos tanto nos Estados Unidos como no
Brasil, de homens e mulheres negras sendo condenados, presos, e muitas vezes, mortos,
pelo Estado com anuência de nossa sociedade, por crimes que sequer cometeram,
vocês podem acompanhar alguns casos com os links que deixo abaixo:
O livro é essencial para todos: jovens, adultos,
adolescentes, estudantes de Direito. Cada público irá fazer uma leitura baseado
em suas vivências. O modo de narrar, o enredo, todo o pacote faz dessa obra um
grande clássico internacional. Recomendo a leitura!
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