Resenha
Livro: Cem anos de Solidão
Autor: Gabriel García Marquez
Ano de lançamento: 1967
A
resenha de hoje fica por conta desse clássico da literatura mundial, do autor
latino americano Gabriel García Marquez, conhecido como Gabo. A obra é o
expoente da corrente literária conhecida como realismo mágico: Cem Anos de
Solidão. Como o próprio nome já diz, o realismo mágico é uma resposta à
colonização de nossa literatura, baseada até aquele momento, na fantasia europeia.
O realismo mágico, característico da literatura latino americana, explicava os
acontecimentos desse nosso vasto continente de maneira maravilhosa, abordando
da mesma maneira tanto acontecimentos fantásticos como cotidianos.
O maior
representante dessa literatura é o Gabo, nascido em 6 de marco de 1927, na
cidade de Aracata, na Colômbia. Foi criado pelos avós, que foram sua grande
inspiração para contar histórias. Ele dizia que sua avó contava acontecimentos
fantásticos com a mesma expressão com que avisava que o sol estava se pondo.
Conheceu muitos locais no mundo. Ganhou o prêmio Nobel de Literatura, por todo
o conjunto de sua obra.
Cem anos
de Solidão conta a história de uma família: os Buendía, durante o tempo de cem
anos , mais ou menos. A história acompanha o desenvolvimento da família ao
longo de sete gerações. A narrativa começa com a fundação do povoado de
Macondo, uma cidade isolada do mar, descoberta por acaso por José Arcadio e
seus companheiros de exploração. José Arcadio era casado com sua prima , Úrsula
Iguarán, e eram primos entre si. Úrsula acreditava que os filhos deles
nasceriam com rabo de porco, por conta da relação de consaguinidade. Juntos,
tiveram 3 filhos biológicos e uma adotiva: José Arcadio, Aureliano e Amaranta,
filhos biológicos e Rebeca, filha adotiva. A partir desse momento, os filhos
deles irão ter filhos, netos, bisnetos, tataranetos, e todos da família possuem
os mesmo nomes de seus antepassados, com algumas variações.
José
Arcadio tem uma longa amizade com Melquíades, um cigano que ia regularmente em
Macondo, trazendo novidades científicas para o povoado e escreve pergaminhos
que são difíceis de decifrar, contando o futuro da família Buendia, aquela que
não terá uma segunda chance sobre a Terra.
A única
personagem que acompanha todas as gerações é Úrsula. Ela acredita que a
história de sua família é uma sucessão de repetições, tendo como uma das causas
desse fato os nomes repetidos, mas não hesita em batizar as novas crianças com
os nomes de família. No começo, me prendi aos nomes dos personagens e quem eles
representavam na família: quem era filho de quem, irmão de quem, sobrinho, etc.
Mas depois percebi que, mais importante que isso, é sentir a história desses
personagens, suas aflições, histórias e sobretudo a característica que os une:
a solidão. Solidão essa às vezes compartilhada, às vezes vivida inteiramente
só.
Gabo
consegue contar a história da América Latina através da narração do micro
ambiente de uma família, e consegue transportar essa narrativa para o campo
macro. Percebemos no romance uma forte crítica às ditaduras, às inúmeras
tentativas de nos colonizar, nos homogeneizar. Na época da escrita do romance,
a América Latina servia única e exclusivamente como periferia do capitalismo,
exportando matéria prima para os países ditos desenvolvidos. O autor faz uma
analogia com esse fato com a companhia bananeira, que chega no povoado, explora
todo o povo, e depois, sem garantir direitos aos seus trabalhadores, vai
embora.
Em
relação à nossa histórico de ditaduras e repressões, podemos ver na história
quando um personagem insiste em lembrar o genocídio que ocorreu em um protesto
contra a companhia bananeira e os moradores de Macondo insistem em negar o
acontecido, ficando com a versão hegemônica de que a companhia bananeira não
reprimiu os protestos e nunca houve mortes.
Lendo
esse livro, me transportei para Macondo, que é muito bem descrita pelo autor.
Ele mesmo, em diversas entrevistas, afirmava que se inspirou na cidade em que
cresceu para criar a Macondo. Tive vontade de conhecer essa cidade esquecida
pelos ventos, pelo mar, até ser varrida do mapa.
Tudo no
livro se repete: a história da família é cíclica. O que encarei como uma
crítica ao fato da história se repetir, em toda a América Latina, que foi alvo
de cinco guerras e dezessete golpes de Estado, totalizando 120 mil
desaparecidos, com morte de 20 milhões de crianças menores de dois anos. Foi um
ciclo que se repetiu em todo o continente, financiado pelos grandes países
desenvolvidos, que lucraram em nossa dor e sofrimento.
É
impossível ler Cem anos de Solidão e não se render ao sentimento de
pertencimento enquanto latino-americanos: sofremos as mazelas da exploração,
mas resistimos. Numa história de solidão, em que, apesar de tudo, seguimos tentando
construir e contar a nossa história.
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