domingo, 21 de janeiro de 2018

Admirável Mundo Novo


Resenha
Livro: Admirável Mundo Novo
Autor: Aldous Huxley
Ano de lançamento: 1932

Admirável Mundo Novo é um livro de ficção científica, cujo cenário é uma Londres futurista no ano de 632 D. F. (Depois de Ford). Nessa sociedade, Ford é considerado um Deus. Para quem não sabe, ele foi um industrial que criou o fordismo, um sistema de produção que tem como principal característica a produção em massa, que foi utilizado na época de sua criação (1914) para a produção de carros.

Nessa sociedade do futuro, a religião, a monogamia, casamento e leitura, são condenados. Nenhum tipo de prazer individual é estimulado. É uma sociedade altamente hierárquica, dividida em castas, sendo elas: Alfa, Beta, Delta, Gama e Ípsilons; os Alfas são os que trabalham menos e disfrutam todos os prazeres possíveis e os Ípsilons fazem os trabalhos braçais, mais pesado, tendo todas as outras castas como intermediárias. Não nascem mais crianças: os bebês são fabricados em laboratórios e condicionados socialmente, enquanto embriões. Os embriões que se tornaram indivíduos das castas superiores recebem melhor tratamento do que os que se tornaram das castas inferiores, estes últimos sofrendo por muitas vezes o processo bokanovsky, um tipo de reprodução onde um óvulo fecundando pode gerar até 96 indivíduos, clones entre si.

É interessante notar que não há questionamento: todos são felizes vivendo em suas castas, em seus locais de origem. Uma prisão onde seus moradores são escravos felizes, que gostam do que fazem. Isso me faz pensar no papel que a mídia e as redes sociais desempenham a fim de que nos seja mostrada uma felicidade supérflua, que acreditamos estar vivendo. Em nosso sistema vigente, é importante que morramos de trabalhar e sejamos felizes pelo fato de ao fim do dia termos objetos como televisão e computador, que nos distraiam de toda a exploração e cansaço diários.

Tudo é extremamente controlado pelo Estado Vigente: desde a hora de acordar, trabalhos que serão realizados durante o dia, até mesmo as diversões. As crianças são criadas pelo Estado e estimuladas desde cedo a realizar práticas sexuais, os chamados jogos eróticos. Além disso, recebem uma educação hipnopédica: escutam durante a noite regras da sociedade, para serem fixadas em seu subconsciente e repetidas, não pensadas e refletidas, através de um condicionamento pavloviano.  Todos são perfeitamente felizes. Ao final da jornada de trabalho ou diversão, recebem uma droga de nome “soma”, que os anestesia e os poda de sentimentos. Não existe insatisfação, instabilidade. O casamento é um conceito desconhecido, assim como relacionamentos monogâmicos. Em contrapartida, o sexo é estimulado: cada um pertence a todos. Não há nenhum cuidado com o outro, nenhum apego emocional. O autor já previa há 80 anos que nosso sistema atual também não priorizaria relações pessoais, apego. Isso não gera lucro, não faz a roda econômica girar. É interessante que acreditemos estarmos perto um do outro, via internet, quando na verdade, estamos nos distanciando cada dia que passa. Estamos sofrendo um processo de desumanização, onde somos meras peças substituíveis. Podemos perceber a crítica do autor aos tempos líquidos que vivemos atualmente, onde relacionamentos – de todos os tipos: amorosos, trabalhistas, etc -  são cada dia mais curtos e superficiais, fluidos, etéreos.

Essa obra não possui personagens individuais bem desenvolvidos, priorizando o desenrolar do enredo como um todo. Temos alguns destaques, como: Bernard Max, um Alfa Mais que recebeu doses de álcool no pseudo sangue quando embrião, por engano, e não se encaixa no padrão físico de sua casta, por isso é repelido pelos seus iguais, o que gera uma insatisfação e vontade de ser diferente; o “Selvagem”, jovem que vivia por engano em uma “reserva”, local onde os seres humanos ainda vivem de maneira semelhante à que vivemos hoje, tendo filhos de maneira vivípara, casando-se , entre outros.


Esse livro me fez lembrar Matrix, e as pílulas azul e vermelha. Se nos fosse dado a oportunidade, escolheríamos qual delas? A felicidade superficial da pílula azul, assim como os personagens do livro, em que a maior parte dos seres humanos são meros soldados em um jogo de xadrez, a felicidade não questionada? Ou escolheríamos saber a verdade, com a pílula vermelha? Assim como o Selvagem, escolheríamos a vida, com todas as suas vicissitudes, infelicidades mas também alegrias reais, beleza, liberdade?

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