Resenha
Livro: Nix
Autor: Nathan Hill
Ano: 2018
Número de páginas: 672
Editora: Intrínseca
Livro de estreia do autor
Nathan Hill, confesso que fui fisgada pela capa: uma foto em preto e branco de
jovens em um protesto com o título peculiar em letras garrafais e coloridas. O
enredo é simples, na superfície e gira em torno de duas pessoas: Samuel Andresen-Anderson
e sua mãe, Faye.
Samuel é um escritor
frustrado, que leciona em uma universidade e nas horas vagas, se perde no jogo
de computador Elf Scape. Odeia dar aula, pois seus alunos são desinteressados.
Samuel foi abandonado pela mãe quando tinha onze anos, fato que o marcou para
sempre. Samuel continuaria sua vida tediosa, se não fosse por um fato: sua mãe
desaparecida, Faye, joga pedras no governador, um candidato a presidência de
extrema direita. Samuel é contatado por um advogado que defende sua mãe, que
pede para ele escrever uma carta a fim de ajuda-la no julgamento.
A história se passa em
três temporalidades diferentes: 1960-68, final dos anos 80 e ano de 2011(tempo
atual). O livro conta com capítulos curtos, que alternam entre os personagens
principais e secundários. A maestria de Hill reside no fato de conectar todos
esses personagens. Podemos ver como somos algozes ou oprimidos, em certa
medida, ao longo da vida. Os personagens são humanos, dotados de contradições.
Na década de 60 acompanhamos
a trajetória de Faye, sua infância e adolescência, e todos os fatores que
contribuíram para que ela se tornasse quem é. Eu, particularmente, tive a Faye
como personagem preferida e foi uma delícia acompanhar as aventuras de uma
mulher que tentava romper com o que com as expectativas do que era esperado
para as mulheres da época. Na década de 80 acompanhamos a infância de Samuel
pouco antes de ser abandonado pela mãe. Também foi enriquecedor conhecer um
pouco da sociedade da época com as ótimas descrições. No ano 2011, acompanhamos
o drama de Samuel, intimado por seu editor a escrever um livro falando mal do
“Terror do Governador”, sua mãe Faye, para conseguir pagar a dívida do
adiantamento que recebeu pelo livro que nunca publicou, na sua juventude.
É interessante notar que
Nix usa a individualidade dos personagens para falar da sociedade de cada
época. Os jovens que protestavam na década de 60 e os jovens atuais, que
navegam nas redes sociais. O autor trabalha com a hipótese, a meu ver, de que
todos os jovens querem ser notados e amados, e usam os meios que dispõem para
isso, seja protestando ou postando memes e textões nas redes sociais.
Compartilho parcialmente essa visão com o autor, pois acredito que naquela
época, a motivação poderia ser a mesma, porém, era necessária uma força de ação
para coloca-lá em prática que não é necessária hoje nas redes sociais. Qualquer
um pode ser considerado militante.
É um livro com
personagens deliciosos e complexos, que emociona, diverte e leva à reflexão, de
uma maneira acessível a todos os públicos. Para quem leu, fica o
questionamento: você já foi/é o Nix de alguém? Recomendo a leitura!