Resenha
Livro: Neblina do passado
Autor: Leonardo Padura
Ano de lançamento: 2005
Nº de páginas: 320
Sou um pouco suspeita
para falar de livros do Leonardo Padura, escritor cubano, ganhador de diversos
prêmios de literatura internacionais, tais como Prêmio Hammet e Prêmio Princesa das Astúrias de
Literatura. Esse é o sexto livro que leio do autor (você pode ler minhas outras
resenhas aqui no blog). Sou apaixonada pela escrita, pelo universo criado por
Padura, e, essencialmente, por Cuba.
Nesse livro, temos como
protagonista Mário Conde, figura já carimbada em outros romances do autor, como
na série Quatro Estações em Havana. A história se passa em 2003, quatorze anos
depois de Conde largar sua função de investigador na polícia. Ele vive da
compra e venda de livros usados, prática muito comum em Cuba. Mário descobre um
verdadeiro tesouro: uma biblioteca com exemplares de livros raríssimos e
valiosos. Ele leva seu sócio, Pombo, para participar do negócio com ele. Juntamente
com os livros, o ex policial acha uma carta de uma cantora de bolero dos anos
50, Violeta del Rio, e passa a ficar obcecado para saber mais sobre a vida da
mulher.
A partir desse momento,
mergulhamos no passado junto com Conde. Numa era pré-revolução, com muitos
cantores e cantoras de bolero, quando a música era farta na cidade, as casas de
show fervilhavam, Cuba respirava música. Conde é melancólico por natureza. Por
isso, fica entusiasmado para saber mais sobre essa Cuba , na época que nem ele
era nascido.
O ex investigador e seu
amigo se veem envolvidos em uma teia de assassinatos no tempo presente, que
pode ter origens no passado. Pode um fato acontecido há tantos anos ter
reflexos no tempo presente?
O título é sugestivo e
nele se baseia todo o livro: a neblina do passado, uma nesga, uma parte do
tempo que nos afeta ainda, que nos nubla de uma tal maneira que não conseguimos
enxergar a verdade. Como uma nuvem que nos causa cegueira. É necessário
enfrentar o tempo que passou de cabeça erguida, pois só assim, conseguiremos
superá-lo.
A escrita de Padura é
impecável: suas descrições de cenas de sexo, cenas de comida, cenas de
violência, são todas recheadas de um lirismo, mas ao mesmo tempo, com tons
coloquiais, que nos leva a acreditar que aquilo realmente aconteceu e que
estamos vivenciando esses fatos junto com nosso protagonista. O amor de Conde
para com seus amigos e sua companheira Tamara é algo retomando e bem trabalhado
nesse volume.
Me senti nostálgica, como
diria Renato Russo, nessa saudade que eu sinto de tudo que eu ainda não vi.
Cuba é apaixonante, quente, sedutora, amistosa, acolhedora. Só fez aumentar em
mim ainda mais a vontade de conhecer esse, nas falas do próprio Padura, nem céu
socialista nem inferno da direita, mas sim um purgatório. Padura consegue ser
crítico ao seu país, mas percebe-se um amor pela cidade, pela ilha, que escapa
em cada poro do personagem principal. Afinal, não somos maniqueístas e isso o
autor consegue trabalhar muito bem. Recomendo a leitura.